Trabalhadores de motos e bicicletas procuram locais de maior demanda, onde aplicativos como iFood pagam melhor. Osasco, cidade-sede da empresa, rende menos do que São Paulo, capital, para onde os entregadores vão, tentando ganhar a vida.
O entregador do iFood que mora em Osasco, onde fica a sede da empresa, tem dois motivos para trabalhar na cidade vizinha, São Paulo: os bairros com maior demanda estão na capital paulista e, neles, o valor da entrega aumenta – são as “promoções”.
Uma entrega pela qual o iFood paga R$ 6,50 pode dobrar e, em certos casos, mais do que triplicar em áreas chiques na hora do almoço, em dias de chuva, finais de semana e feriados, tipo Páscoa e Natal.
Em Osasco é “seco”, como dizem os entregadores. E há limitações, como as ruas estreitas do centro e poucas “promoções”. Na capital paulista, a estrutura viária é melhor em bairros de alta demanda, com faixas exclusivas para motos em algumas avenidas, e ciclovias bem estruturadas.
A região da capital paulista que faz divisa com Osasco é a zona oeste, onde mais se pede comida e rolam entregas em São Paulo. Bairros como Itaim, Moema, Vila Madalena e Pinheiros estão a uma ponte de distância da cidade-sede do iFood.
João Viktor vai trabalhar em São Paulo
João Viktor Nunes Dias, entregador do iFood e morador de Osasco, completou 26 anos no primeiro dia do Breque Nacional, 31 de março de 2025. Ele ajudou a mobilizar trabalhadores da cidade natal para a greve, mas atua em São Paulo.
O ciclista trabalha para o iFood há quase três anos e, desde o início, percebeu que locais como Lapa e Vila Leopoldina, na zona oeste da capital, rendiam mais. Não são só as promoções que atraem: há mais suporte estrutural, como as centrais de distribuição, em shoppings.
“Geralmente, elas ficam em containers, no estacionamento. Eles recolhem os pedidos das lanchonetes, das farmácias, e o entregador pega ali, não precisa ir de loja em loja”, explica Dias.
Para ele, que usa bicicleta, o trampo de estacionar, cadear, entrar no shopping, fazer a coleta e sair, significa perda de tempo. “Eles chamam essas centrais de hubs, é uma ótima ideia, agiliza demais, mano, mas tem em poucos lugares”.
Correndo risco atrás de promoções
Entregadores reclamam das diferenças de valores pagos em regiões com e sem promoções. Para chegar até onde podem ganhar mais, precisam ir longe, como rasgar da zona leste à Avenida Paulista – são 22 quilômetros entre a Neo Química Arena e o MASP.
“Todo mundo é merecedor, se deu promoção, devia dar pra todo mundo. O Itaim, por exemplo, tem bastante promoção, mas na minha região, no Jabaquara, não tem. Fica injusto, até porque o risco é mesmo”, compara Lucas de Almeida Souza, 28 anos, há quatro nos aplicativos.
Daniel de Oliveira, de Itaquera, zona leste, é contra as promoções. Para ele, uma taxa padronizada seria ideal. “Serviços administrativos, devia cobrar vinte e cinco reais; delivery, doze e cinquenta, sem promoção”.
O valor maior para entregas de escritórios, cartórios e similares seria justo porque “a gente fica muito mais disponível para eles. Comida, entrega mais rápido. Administrativo tem que estacionar, fazer cadastro para entrar no prédio, pegar elevador”, explica Oliveira.