Por que entregadores de Osasco, sede do iFood, preferem trabalhar em São Paulo?

A realidade de quem faz entregas para aplicativos é um mundo a ser descoberto; conheça os corres atrás das "promoções"

1 abr 2025 - 17h04
(atualizado às 17h11)
Resumo
Trabalhadores de motos e bicicletas procuram locais de maior demanda, onde aplicativos como iFood pagam melhor. Osasco, cidade-sede da empresa, rende menos do que São Paulo, capital, para onde os entregadores vão, tentando ganhar a vida.
João Viktor Dias no primeiro dia de trabalho. Ele mora em Osasco, mas vai trabalhar em São Paulo.
João Viktor Dias no primeiro dia de trabalho. Ele mora em Osasco, mas vai trabalhar em São Paulo.
Foto: Arquivo pessoal

O entregador do iFood que mora em Osasco, onde fica a sede da empresa, tem dois motivos para trabalhar na cidade vizinha, São Paulo: os bairros com maior demanda estão na capital paulista e, neles, o valor da entrega aumenta – são as “promoções”.

Uma entrega pela qual o iFood paga R$ 6,50 pode dobrar e, em certos casos, mais do que triplicar em áreas chiques na hora do almoço, em dias de chuva, finais de semana e feriados, tipo Páscoa e Natal.

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Em Osasco é “seco”, como dizem os entregadores. E há limitações, como as ruas estreitas do centro e poucas “promoções”. Na capital paulista, a estrutura viária é melhor em bairros de alta demanda, com faixas exclusivas para motos em algumas avenidas, e ciclovias bem estruturadas.

Manifestação do Breque Nacional diante da sede do iFood, em Osasco. Entregadores pedem reajuste nas taxas.
Foto: Marcos Zibordi

A região da capital paulista que faz divisa com Osasco é a zona oeste, onde mais se pede comida e rolam entregas em São Paulo. Bairros como Itaim, Moema, Vila Madalena e Pinheiros estão a uma ponte de distância da cidade-sede do iFood.

João Viktor vai trabalhar em São Paulo

João Viktor Nunes Dias, entregador do iFood e morador de Osasco, completou 26 anos no primeiro dia do Breque Nacional, 31 de março de 2025. Ele ajudou a mobilizar trabalhadores da cidade natal para a greve, mas atua em São Paulo.

O ciclista trabalha para o iFood há quase três anos e, desde o início, percebeu que locais como Lapa e Vila Leopoldina, na zona oeste da capital, rendiam mais. Não são só as promoções que atraem: há mais suporte estrutural, como as centrais de distribuição, em shoppings.

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João Viktor Dias, entregador de bicicleta de Osasco, não “demoniza” o iFood, mas diz que empresa “precisa melhorar muito”.
Foto: Marcos Zibordi

“Geralmente, elas ficam em containers, no estacionamento. Eles recolhem os pedidos das lanchonetes, das farmácias, e o entregador pega ali, não precisa ir de loja em loja”, explica Dias.

Para ele, que usa bicicleta, o trampo de estacionar, cadear, entrar no shopping, fazer a coleta e sair, significa perda de tempo. “Eles chamam essas centrais de hubs, é uma ótima ideia, agiliza demais, mano, mas tem em poucos lugares”.

Correndo risco atrás de promoções

Entregadores reclamam das diferenças de valores pagos em regiões com e sem promoções. Para chegar até onde podem ganhar mais, precisam ir longe, como rasgar da zona leste à Avenida Paulista – são 22 quilômetros entre a Neo Química Arena e o MASP.

Em manifestação diante da sede do iFood, em Osasco, trabalhadores contam que vão trabalhar em São Paulo.
Foto: Marcos Zibordi

“Todo mundo é merecedor, se deu promoção, devia dar pra todo mundo. O Itaim, por exemplo, tem bastante promoção, mas na minha região, no Jabaquara, não tem. Fica injusto, até porque o risco é mesmo”, compara Lucas de Almeida Souza, 28 anos, há quatro nos aplicativos.

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Daniel de Oliveira, de Itaquera, zona leste, é contra as promoções. Para ele, uma taxa padronizada seria ideal. “Serviços administrativos, devia cobrar vinte e cinco reais; delivery, doze e cinquenta, sem promoção”.

O valor maior para entregas de escritórios, cartórios e similares seria justo porque “a gente fica muito mais disponível para eles. Comida, entrega mais rápido. Administrativo tem que estacionar, fazer cadastro para entrar no prédio, pegar elevador”, explica Oliveira.

Fonte: Visão do Corre
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