Há quem pense que a prisão é o preço que se paga pelo crime, mas a verdade é que esse preço vai muito além. A reinserção de um ex-detento na sociedade tem como principal barreira o preconceito, principalmente na hora de buscar um emprego ou até mesmo uma forma de empreender.
Para tentar driblar isso, projetos sociais são criados para oferecer uma segunda chance para ex-presidiárias e detentas em todo o sistema prisional do Brasil. São iniciativas que buscam novas formas de oferecer dignidade e renda, através da capacitação, educação e acolhimento, para quem sai da cadeia ou vive na prisão com a expectativa de mudar de vida.
A reinserção social é um dos grandes desafios de quem passa por essa situação. Negras, jovens e mães: este é o perfil das mulheres no sistema penitenciário brasileiro, que vivem a realidade da prisão e enfrentam um ciclo de condenações. Primeiro, a da lei. Segundo, a da sociedade.
Nesse contexto, a ONG Passarela Alternativa, criada em 2018, utiliza práticas da justiça restaurativa por meio da moda, com propósito de reduzir a reincidência criminal e emancipar mulheres privadas de liberdade e egressas do cárcere.
Dentre as iniciativas promovidas, a instituição, com o apoio financeiro e estrutural do Instituto Ação Pela Paz e contribuição da CNseg, deu vida ao “Abiosorventes”, projeto que capacita egressas e familiares com ensinamentos em corte e costura e empreendedorismo.
O conteúdo é divido em dois módulos de 12 e quatro aulas, respectivamente. Após essa etapa, as participantes têm a missão de montar um desfile com as peças criadas ao longo do treinamento e elas mesmas ficam encarregadas de irem para a passarela apresentar o look.
Desse time, cinco mulheres são selecionadas para passar por um monitoramento e atuar na confecção de 1.000 absorventes reutilizáveis que formarão 200 kits com cinco unidades cada. Com destino certo, os produtos serão doados para duas unidades prisionais femininas de São Paulo. Por esse trabalho, as envolvidas na produção recebem uma renda pela execução das atividades.
Outra iniciativa que oferece uma nova perspectiva para mulheres do sistema prisional é Cooperativa Libertas. Criada em 2019, a instituição acolhe, ampara e capacita profissionalmente mulheres sobreviventes do cárcere que buscam autonomia financeira e emancipação social.
Com corte e costura, a Cooperativa produz absorventes ecológicos, ecopads, saquinhos reutilizáveis para grãos e sabonetes medicinais veganos e oferece estadia para quem sai da prisão. A Libertas também tem uma casa de acolhidas para quem sai temporária ou definitivamente, mas não tem para onde ir.
Atualmente, o Brasil é o país com a terceira maior população feminina encarcerada no mundo, de acordo com um levantamento divulgado em outubro do ano passado pelo World Female Imprisonment List.
Com 42.694 mulheres e meninas presas em regime provisório ou condenadas, o país ultrapassou a Rússia, com 39.120 encarceradas. Em segundo lugar está a China, com 145 mil; os Estados Unidos lideram a lista de maior população feminina presa, com 211.375.
O Brasil chegou a dezembro de 2022 com mais de 892 mil pessoas privadas de liberdade, segundo o Banco Nacional de Monitoramento de Prisões (BNMP) do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Desse total, mais de 47 mil eram mulheres.