Unas, um exemplo de mobilização comunitária em Heliópolis

Atuante há 44 anos, Unas acompanha o desenvolvimento urbano e habitacional da maior favela de São Paulo

6 mai 2022 - 05h00
Favela do Heliópolis, na zona sul de São Paulo
Favela do Heliópolis, na zona sul de São Paulo
Foto: Leu Britto/Agência Mural

Com 50 anos completados no fim de 2021, Heliópolis é indiscutivelmente a maior favela de São Paulo. O bairro da zona sul da capital ocupa uma área de 1 milhão de m² e tem cerca de 220 mil habitantes, o que o torna mais populoso do que 25 das 39 cidades da região metropolitana do estado.

Esse meio século de existência se confunde com a história das políticas habitacionais de São Paulo – partindo da tentativa de desfavelamento promovido por Jânio Quadros na década de 1980 ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) dos governos Lula e Dilma na década passada.

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Heliópolis, inclusive, se origina de um contexto político. Em 1971, 162 famílias foram deslocadas da Favela da Vila Prudente, na zona leste, para alojamentos, até então provisórios, na área que hoje abriga a comunidade.

Cleide, presidente da Unas
Foto: Leu Britto/Agência Mural

“Naquele período a gente não tinha água, não tinha luz. No caso dos alojamentos onde a gente morava, o banheiro era compartilhado. Onde se lavava roupa também era compartilhado porque tinham os tanques e a gente se dividia”, conta Antônia Cleide Alves, 57.

Cleide, como é conhecida na comunidade, é presidente da Unas (União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região), organização fundada em 1978, como forma de representar os moradores da favela nas discussões com o Poder Público.

Dos 57 anos de vida da Cleide, 40 deles estão dedicados aos movimentos sociais, sobretudo na luta por moradia. “A gente fundou a Unas com o objetivo de poder representar esses moradores juridicamente, mas também de buscar melhorias para as pessoas”, diz.

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Ela viria a conseguir a casa própria somente no começo da década de 1990, por meio dos mutirões promovidos na gestão de Luiza Erundina (na época, prefeita pelo PT).

Foto: Leu Britto/Agência Mural

Com o avanço das políticas habitacionais, a Unas passou a se preocupar também com outras demandas do bairro, como saneamento básico, saúde e escolas.

“Hoje a gente pode falar da nossa favela como uma cidade: uma cidade do interior, uma cidade grande, que tem tantas necessidades e tem tantas coisas que ainda nos afligem”, conta Cleide.

Um exemplo desse “pensar como uma cidade” foi o acompanhamento feito pela comunidade do pacote de investimentos oriundos do Governo Federal em 2008. 

Com direito a presença do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do governador José Serra (PSDB) e do prefeito Gilberto Kassab (DEM), Heliópolis recebeu R$ 175 milhões em obras de urbanização.

“A gente teve que explicar para o pessoal como funcionava, que a gente ia fazer o controle social, que ia ver se eles estavam colocando o esgoto direitinho. A empreiteira teve um trabalhão danado”, relembra Cleide.

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“Foi muito bem gasto esse dinheiro, porque canalizou o córrego e arrumou as ruas onde a gente não tinha calçamento. Tudo com essa participação. E a gente brigava com eles quando não saía bem”, completa.

Foto: Leu Britto/Agência Mural

Atualmente, a Unas conta com mais de 40 projetos diferentes dentro da comunidade, além de empregar cerca de 700 moradores. Entre os projetos, estão a administração de 17 CEIs (Centros de Educação Infantil), 11 CCAs (Centros para Crianças e Adolescentes), uma rádio e biblioteca comunitárias, um observatório de dados e até o desenvolvimento de um museu virtual.

“A gente acredita nessa democracia com a participação popular que a gente aprendeu nos governos populares, discutir orçamento, enfim, esses exercícios de cidadania”, aponta.

“Tem um pessoal muito participante [aqui na comunidade], um pessoal que fala que é chato, que é crítico, que gosta de falar muito, mas foi assim que Heliópolis foi construída: nesse pilar de democracia, de empoderamento, de um se preocupar com o outro".

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O sonho de Cleide para o futuro da comunidade é a existência de áreas de lazer. Há a previsão de construção de um parque em uma área verde de 78 mil m² que hoje pertence à Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).

Nomeado como Parque da Cidadania, o espaço fica na avenida Almirante Delamare e contará com quadras de futebol, vôlei e basquete, pista de skate, academia ao ar livre e parquinho infantil. A primeira etapa deve ser entregue ainda neste primeiro semestre.

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