A morte de um homem negro de 26 anos, mostrada por imagens nítidas de câmeras de segurança, desconstroem a versão apresentada no Boletim de Ocorrência pelo policial militar que fez os disparos. O tio da vítima, ex-integrante do grupo Facção Central, divulgou as cenas.
Imagens de câmera de segurança do mercado Oxxo mostram que Gabriel Renan da Silva Soares, assassinado em 3 novembro, tomou ao menos oito tiros pelas costas do policial militar Vinícius de Lima Britto, contrariando a versão do PM.
O tio da vítima, o rapper Eduardo Taddeo, que divulgou a gravação, vinha denunciando a versão apresentada no Boletim de Ocorrência. O crime aconteceu em uma loja da rede Oxxo, na Avenida Cupecê, no Jardim Prudência, zona sul de São Paulo.
Na versão apresentada no Boletim de Ocorrência (BO), o policial militar declarou que viu Gabriel Renan da Silva Soares, um homem negro de 26 anos, “subtraindo mercadorias”. O PM teria feito a abordagem e dito que era polícia.
Segundo transcrição literal do BO, “Gabriel afirmou que estava armado, colocando a mão dentro da blusa, como se estivesse armado e afirmou estar armado. O que obrigou Vinicius a efetuar disparos contra Gabriel, que veio a óbito no local”.
O que as imagens mostram
No vídeo da câmera da segurança do mercado Oxxo, o policial militar está de costas para a vítima, sem farda. Em nenhum momento ele se aproxima ou fala com Gabriel, que sai do quadro no instante em que furta produtos de limpeza.
Na sequência, ele sai correndo da loja e o policial só o percebe porque Gabriel escorrega no tapete da porta, caindo do lado de fora. Ele volta para pegar embalagens no chão, quando o policial realiza os disparos. Então ele guarda a arma na cintura e sai em direção à vítima.
Na postagem do Instagram, o rapper Eduardo Taddeo – que havia feito um vídeo diante do Oxxo denunciando o assassinato – escreveu que “com as imagens da loja, está provado que meu sobrinho Gabriel foi covardemente executado".
Ele segue afirmando que "não houve abordagem ou voz de prisão, simplesmente oito tiros em legítima defesa do racismo e do capital dos grandes conglomerados de exploradores. Não será mais um número estatístico”, prometeu.
Policial militar está afastado das atividades operacionais
O caso está sendo investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Segundo nota da Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP), as “imagens mencionadas foram captadas, juntadas aos autos e estão sendo analisadas para auxiliar na apuração dos fatos”.
A nota informa ainda que “familiares da vítima foram ouvidos e diligências estão em andamento para identificar e qualificar a testemunha que esbarrou na vítima durante sua fuga do estabelecimento comercial, momentos antes de ser alvejado”.
A testemunha que foi esbarrada é um homem que estava na porta do mercado Oxxo, no momento em que Gabriel saiu correndo. “Caso as apurações apontem para a responsabilização criminal do policial militar, medidas administrativas serão adotadas, incluindo a possibilidade de processo disciplinar que poderá resultar na sua exclusão da Instituição”, conclui a SSP-SP.
O Visão do Corre entrou em contato com a assessoria de imprensa da rede Oxxo, mas não obteve resposta. A reportagem será atualizada com eventual posicionamento da empresa.