A Ilha do Fundão, localizada na zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, é uma ilha artificial, construída após o aterro do Arquipélago de Manguinhos, para se tornar um campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dentro dela, é pouco conhecida a Vila Residencial, formada por trabalhadores da ponte Rio-Niterói, que começou a ser construída em 1969.
Na época, o local era chamado de Divineia e de Vila Operária. Mas os moradores escolheram e reivindicaram oficialmente o nome de Vila Residencial. Ao longo do tempo, formaram forte ligação, criando a identidade do lugar. Na década de 80, inaugurou-se a Associação de Moradores e Amigos da Vila Residencial (AMAVILA).
Atualmente, existem diversos projetos sociais no território, tocados pelos próprios moradores. Um deles é o balé para crianças, além de aulas de reforço escolar, computação, equipes de jiu-jitsu, futebol e vôlei.
Se, em seus primórdios, o local foi ocupado pelos operários das obras da ponte Rio-Niterói, posteriormente se tornou moradia para funcionários da UFRJ, que receberam as casas via doação. Hoje, 750 famílias moram na Vila Residencial, reunindo cerca de 2 mil pessoas.
Primeiros habitantes da Vila Residencial
Antônio José Avelino, mais conhecido como Tuninho, é presidente do Serviço de Monitoramento Animal e Ambiental do Fundão e atual presidente da AMAVILA. Ele conta que sua família foi a primeira a habitar o local, após a saída dos operários da ponte Rio-Niterói.
Eram pessoas realocadas, que moravam anteriormente na praia da Baía de Guanabara. “Meu pai falou para eu ir dar um rolê, procurar uma casa legal. Aí eu vim de bicicleta, com os meus primos e irmãos. Ficamos rodando aqui dentro, escolhemos uma casa. Depois chegou a família do Pato Roco, a do seu Francisco, Tarciso, várias famílias foram chegando e formando a vila”, conta Tuninho.
Segundo ele, no início da ocupação as casas doadas não podiam ser cedidas ou vendidas. Com o passar do tempo e o desinteresse das autoridades, o perfil dos moradores começou a mudar. Alguns foram construindo casas para seus filhos e novas famílias chegaram. Por ser uma área dentro da UFRJ, surgiram repúblicas de estudantes. “Hoje em dia é também uma vila comercial”, diz Tuninho.
Estudantes moram e trabalham na Vila Residencial
Maria Eduarda Damasceno é secretária da AMAVILA e atendente em uma lanchonete na Vila Residencial. Estudante de Ciências Matemáticas e da Terra na UFRJ, ela é moradora de uma república no local, há mais de três anos.
Damasceno saiu de sua cidade natal, Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, e não sabia que havia a possibilidade de morar dentro do campus. “Eu nem sabia que esse local existia, para falar a verdade. Estava procurando um lugar para ficar, tive um problema com o local em que morava, e a dona da república aqui foi muito solícita. É um lugar muito diferente, tranquilo, calmo. Facilita muito a nossa vida”.
Mas nem tudo são flores. A Vila Residencial foi deixada de lado pelo Estado e os moradores viveram durante muito tempo de forma precária. Segundo o artigo científico Ilha do Fundão – RJ: a Vila Residencial e a Relação com a Concentração de Atividades de PD&I, o local estava esquecido, sem atenção da prefeitura universitária, municipal e do governo do estado.
Só em 2009, após muita luta, houve a inclusão de projetos para a Vila Residencial no Plano Diretor UFRJ 2020, que buscava a melhoria do campus.
Moradores botaram a mão na massa
O presidente da Associação lembra da despoluição do canal do Cunha, ligado à Baía de Guanabara, que rodeia a Ilha do Fundão, e que só em 2010 levou saneamento básico para a Vila Residencial.
“Ajudou muito, foi um grande avanço, nós éramos afetados também com a altura do mar. A Vila cansava de ser inundada, a gente perdia tudo. Fomos muito prejudicados. Hoje em dia, conseguimos, mediante os moradores que fizeram grupos, se reuniram, construir comportas em cada boca de águas fluviais na rua”, conta Tuninho.
Com as obras, acabaram os problemas causados pelas enchentes. “A gente não precisou esperar o governo, nós mesmos nos reunimos e, com interesse dos moradores que encabeçaram a situação, nós resolvemos nosso problema”.
A comunidade melhorou através da luta popular, mas ainda tem reivindicações, como a reforma da praça, com a troca dos brinquedos. Os moradores esperam que o campo de futebol, que recebeu iluminação, seja cercado. E são necessárias mais duas quadras poliesportivas, para que as pessoas deixem de jogar vôlei na rua.
As quadras seriam construídas onde é jogado o lixo, atrás do campo de futebol, o que também geraria melhora ambiental.