No bairro Jaguara, campeão de dengue em São Paulo, casas e terrenos abandonados são um problema sem solução. Agentes de saúde não podem entrar nos locais e vizinhos pegam dengue. O Visão do Corre percorreu as ruas da região e conversou com moradores.
Enquanto não há diagnóstico oficial e específico para o bairro Jaguara, campeão de dengue na capital paulista, vizinhos de casas e terrenos abandonados pegam dengue e se sentem impotentes, pois não conseguem encontrar ou sensibilizar os donos dos imóveis para retirada de mato e entulho.
A uma quadra da UBS Jaguara, principal atendimento público para contaminados com dengue no bairro, o Visão do Corre encontrou uma casa abandonada, na rua Custódio Serrão, 551. O terreno em formato de L faz divisa, no fundo, com três casas. O filho da vizinha Ana Paula Domízio teve dengue. Segundo o jovem de 17 anos, a doença “deixa você destruído”.
Sem placa de aluga ou vende, a casa é da Fernandes Imóveis, que, procurada pela reportagem, não se manifestou sobre o mato alto e o entulho. A vizinha reclamou na imobiliária, colocou fotos no Facebook e não adiantou. Ele teme que os pais idosos, de 75 e 85 anos, moradores do mesmo quintal, peguem dengue.
Mais quatro contaminados, duas casas acima
“Tem aranha, rato, barata, pernilongo. Se numa tampinha de garrafa o mosquito se reproduz, imagina neste quintal. Está um berçário”, conta a moradora. “Virei a louca do repelente, vivo de repelente”, acrescentando que cortaram o mato somente da frente da casa abandonada. “É onde o padre passa”, ironiza.
Na mesma calçada, duas casas acima, um idoso, uma senhora e uma criança tiveram dengue. Outra vizinha aborda o repórter durante a entrevista e completa: “A dona da casa ao lado também teve”.
Como agentes de saúde não podem entrar na casa abandonada, fotografaram o mato e o entulho pelo quintal de Ana Paulo Domízio. Mas nenhuma atitude oficial foi tomada até agora.
Marido e mulher com dengue
Não é preciso andar muito para encontrar outra casa abanada. Na rua Coronel Virgílio dos Santos, 121, funcionava um alfaiate, mas ele faleceu e o imóvel está abandonado há mais de um ano.
Na casa vizinha, o casal Francisco Nelson, 66 anos, e Aparecida Damin, 62, pegaram dengue. “Meu cunhado da casa aqui do lado, também”, conta o morador, que teve um segundo problema de saúde: enfraquecido com os sintomas da dengue, tentou trocar uma lâmpada e caiu. Teve coágulo no cérebro e foi operado no Hospital Mandaqui.
Na mesma calçada, alguns metros à frente, Elaine Magalhães teve dengue hemorrágica. “Fiquei muito mal, com náusea, vômito. Quando começou a sangrar, fui para o hospital”, conta a proprietária do comércio que ficou fechado por 15 dias durante sua internação no Hospital Sorocabana.
O marido e o filho tiveram dengue, “mas ainda bem que não foi hemorrágica, não desejo pra ninguém”. Ela faz o alerta: “Gente, não é uma gripe”. Do outro lado da rua, dois funcionários do mercado pegaram dengue.
Sequência de terrenos abandonados
Ainda nos arredores da UBS Jaguara, na rua Antônio Ayrosa, altura do número 600, há dois terrenos abandonados, um ao lado do outro. O mato alto começa na calçada. Um deles tem ruínas de construção de alvenaria; no outro, o mato campeia.
A frente é fechada por muros e tapumes e os portões estão trancados. Considerando a altura do mato, e a ferrugem das correntes e cadeados, parecem ter sido abandonados há muito tempo. Poucos metros à frente, na esquina do outro lado da rua, mais um terreno cujo matão começa na calçada.
Agentes de saúde sentem que sua atuação diária no combate à dengue poderia ter resultados melhores. São 24 profissionais, a maioria mulheres, que saem cedo da UBS Jaguara para monitorar a pé a região.
Elas conhecem os moradores pelos nomes, são abordadas na rua, dão orientações. Praticamente não há dificuldade para serem recebidas nas casas. Mas nos locais abandonados, onde a proliferação de focos é livre, elas não podem entrar.