Vizinhos gostariam que arremesso de homem da ponte acabasse com baile funk

Ainda receosos, moradores recriminam a violência policial e o pancadão. Duas perguntas ainda estão sem respostas

5 dez 2024 - 13h36
Resumo
Polícia Civil obteve imagens de uma câmera de segurança. Além de Marcelo Amaral, jogado da ponte, outro homem, baleado, sumiu. Depois da repercussão da violência policial, vizinhos se perguntam se no próximo domingo haverá baile.
A movimentação da imprensa e de policiais no local onde homem foi jogado da ponte inibe ainda mais os moradores, que só falam sob anonimato.
A movimentação da imprensa e de policiais no local onde homem foi jogado da ponte inibe ainda mais os moradores, que só falam sob anonimato.
Foto: Marcos Zibordi

O clima entre os vizinhos da ponte na Vila Clara, zona sul de São Paulo, de onde um policial militar jogou um homem, varia entre a condenação da ação do PM e a expectativa sobre a continuidade do baile funk. Por eles, acabava.

Na tarde de 4 de dezembro, enquanto policiais civis buscavam imagens de câmeras de segurança, que obtiveram, a reportagem do Visão do Corre desceu ao córrego onde Marcelo Amaral foi jogado pelo policial militar Luan Felipe Alves Pereira.

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O canal é de concreto e a água que passa é rasa, não ultrapassa a altura de uma caneta. A queda de Amaral foi potencializada pela dureza do chão. E sim, moram pessoas lá embaixo.

Em cima, entre os moradores e comerciantes, além da apreensão natural após virarem notícia, o receio é de represálias de forças oficiais ou não. Ele se soma à desconfiança com a presença de repórteres e policiais investigando o caso.

No córrego do Cordeiro, onde Marcelo Amaral foi jogado, a corrente de água é rasa e o leito é de concreto.
Foto: Marcos Zibordi

“Sabe por que o pessoal não quer falar? Sabe o que acontece quando vocês forem embora? A comunidade está revoltada com polícia, barulho de moto, do baile. Quando mataram o menor aí, a gente foi pra rua e até queimou ônibus, agora não”, diz o atendente de uma adega vizinha da ponte.

Ele se refere à morte de Guilherme Silva Guedes, de 15 anos, que gerou passeata e queima de sete ônibus em 2020. Suspeitava-se que policiais tinham assassinado o jovem, encontrado com dois tiros na cabeça e sinais de espancamento.

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Poucos vizinhos viram, apesar da muvuca

Poucos vizinhos viram a cena do arremesso da ponte porque costumam se fechar em casa durante o baile. “Domingo não dá nem para sair na rua. Vi a cena depois, me mostraram o vídeo”, conta a cabeleireira com salão a poucos passos da ponte.

Do outro lado da rua, a funcionária não abre o bar aos domingos, quando rola o Baile do Final, ou da Final, em referência ao local do pancadão, no ponto final da linha Pinheiros-Vila Clara, na rua Padre Antônio de Gouveia, 81.

Toda a rua Padre Antônio de Gouveia é tomada pelo Baile do Final, realizado aos domingos. Reclamações dos vizinhos e repressão policial são constantes.
Foto: Marcos Zibordi

Mesmo quem abriu seus comércios, como bares e adegas, estava ocupado na hora do arremesso. Apesar da grande quantidade de pessoas no baile, em cima da ponte havia policiais e quem estava sendo abordado. Óbvio que muita gente viu, mas à distância segura. A maioria, porém, nem mora na Vila Clara.

O funcionário de um bar presenciou o tumulto e confirma que os policiais afastaram quem tentou ajudar o homem arremessado da ponte. “É sempre assim, além do cara que jogaram, teve um baleado. Mas não coloca meu nome não, tio, cê é louco?”.

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“É absurdo jogar da ponte, né?”

O proprietário de uma oficina ao lado da ponte não abriu na quarta-feira, 5 de dezembro. Ele reclama da abordagem policial posterior, quando foi questionado sobre uma câmera de segurança.

“Olha ali: a câmera fica no segundo andar, a entrada é pela rua de trás, eu alugo o térreo, minha entrada fica aqui na outra rua. Nem sei de quem é a câmera, nem sei se funciona”. Para ele, o tumulto do baile, motos acelerando e ações policiais formam “um combo” de incômodos.

Ponte fica no ponto final da linha Pinheiros Vila-Clara. Aos domingos, eles estacionam em outro local e dão voltas para desviar do baile.
Foto: Marcos Zibordi

Há dez pequenos comércios vizinhos à ponte, dos dois lados. Lojas de roupa, mercadinho, adega, bar, padaria e o escritório da empresa de ônibus que serve a Vila Clara. A supervisora, que só deu o primeiro nome, além dos motoristas e cobradores, descrevem dificuldades aos domingos, quando acontece o baile.

“É absurdo, né, jogar da ponte? Agora, aqui, nos domingos, desde o meio-dia, a gente não consegue parar, estaciona na rua de trás. E mesmo quando sai, tem que dar a volta, tem várias ruas tomadas. É um inferno sem fogo”, diz um funcionário.

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Duas perguntas e uma resposta sobre a ação policial

Duas perguntas ainda estão sem resposta. Uma delas, confirmada pelos policiais civis que investigavam o local, é a de que um homem teria sido baleado na mesma ocasião em que o outro foi jogado da ponte.

“Não sabemos quem tomou o tiro, quem deu. O cara foi pro hospital, suturaram e ele sumiu”, relata um policial. A outra questão que ninguém sabe responder é se haverá baile no próximo domingo.

Vila Clara vista do outro lado da avenida Cupecê, zona sul de São Paulo. Após homem jogado da ponte, saldo da ação lembra fim de feira.
Foto: Marcos Zibordi

Uma resposta importante, porém, foi obtida. A Polícia Civil conseguiu, na tarde de 5 de dezembro, imagens de câmera de segurança que mostram o arremesso de Marcelo Amaral da ponte.

A cena tem nitidez, ângulo e enquadramento melhores do que o vídeo que viralizou, denunciando o caso.

Fonte: Visão do Corre
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