Vozes pretas e periféricas ecoam nos podcasts

Conheça comunicadores que através dos podcasts recriam narrativas periféricas

23 ago 2022 - 18h03
Caio Cavalcante, fundador da produtora de podcasts Griô.
Caio Cavalcante, fundador da produtora de podcasts Griô.
Foto: Divulgação.

“Toda família tem uma história para contar”, esse é o Slogan do podcast Raízes, uma produção Griô, lançada a partir do resgate da resistência ancestral de uma família semeada na Comunidade do Chié, em Recife. Mas, esta é apenas uma das produções que recriam narrativas e tornam o mercado de podcast, terra fértil para vozes potentes, mas negligenciadas.

“A Griô surgiu em 2019, criei um podcast de política já com mais experiência em edição e pegando boas referências de podcasts narrativos que começaram a surgir. E aí, junto com o Política é Massa eu criei a Griô. Um selo que se tornaria depois uma produtora como é hoje, formalizada e tudo mais”, conta o fundador da produtora Griô, Caio Cavalcante dos Santos, 29 anos.

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A produtora de Podcasts Griô, criada por Caio Cavalcante, tem seus produtos originais como o Política é Massa, o Chié podcast, Designers Diaspóricas e o Raízes, carro chefe da Griô. Além de colaborar em áreas diversas, em produções como o Hora da Floresta da Vem de Áudio, Essa Geração da Fundação Tide Setubal e o História Preta.

“Em todas essas produções, você encontra uma mensagem próxima e parecida: a necessidade de contar histórias com o olhar e a voz de pessoas que são sub representadas na mídia brasileira hoje em dia. O nosso foco é sempre cuidar disso. Vozes pretas, periféricas, indígenas, lgbtqia+ etc”, pontuou Caio.

Do ponto de vista financeiro, monetizar o trabalho com podcasts é um desafio, especialmente no Norte e Nordeste, até para produtoras estruturadas como a Griô, já que os grandes investimentos se concentram no Sudeste. E por mais desafiador que seja representar a periferia de uma cidade, vivendo na periferia do Brasil, a paixão pela produção de conteúdo em áudio não ficou só em Recife, pegou um “busão”, viajou por mais ou menos 13 horas, e deixou sua semente também em Salvador.

O jornalista e rapper soteropolitano Wallace Cardozo, 24 anos, lançou em setembro de 2020, a primeira temporada do podcast Reg de Rap. Com o objetivo de reverberar uma pesquisa acadêmica extensa sobre o Rap na Bahia, a partir das vozes negras e periféricas que compõem essa cena.

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Muitas horas de trabalho, dedicação e estudo são necessárias para a produção de um podcast narrativo, desde concepção da ideia, passando pelo roteiro, produção, gravação, edição e distribuição. “Eu faço porque eu gosto, eu me divirto fazendo, eu me informo, é um tema que me interessa, se dependesse de mim eu viveria do Reg de Rap, eu largaria tudo e viveria apenas de pesquisar sobre o rap soteropolitano mas eu não tenho como fazer isso, eu não sou herdeiro”, considerou Wallace.

A primeira temporada do Reg de Rap transporta o ouvinte para o Bronx com a intenção de explicar o que é e como surgiu a cultura Hip-Hop, seguindo para Brasil e Bahia, passando pelas histórias marcantes do Rap Soteropolitano das décadas 90, 2000 e 2010.

Wallace Cardozo, criador do podcast Reg de Rap.
Foto: Divulgação.

Outra iniciativa de áudio desenvolvida por Wallace, também em 2020, foi o Dendicasa, um informativo distribuído através do WhatsApp com o objetivo de combater as fake news sobre o Coronavírus, tão comuns no período de isolamento pandêmico. E foi diante da revolta ao ver a sua avó receber tantos materiais de desinformação em grupos de mensagem que surgiu a ideia do informativo.

Tendo como público-alvo pessoas periféricas de baixa renda, o Dendicasa foi uma tentativa de conter os efeitos da desinformação em um período de aumento da vulnerabilidade social. “Então, enquanto comunicólogo, eu quis criar o Dendicasa porque para mim, a comunicação precisa fazer a diferença na vida das pessoas”, acrescentou Wallace.

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