“O objetivo do documentário Trançatlânticas está alinhado com o da Explana Mermã, que é reverberar as vozes da periferia”, resume a diretora Isabela Leite sobre o filme documental e a organização social que o produziu.
Com foco nesse propósito, Trançatlânticas apresenta cinco mulheres jovens da periferia tecendo o enredo de fios e formas para falar da tradição de tranças de cabelo. A obra está disponível no Globoplay.
O ato de trançar o cabelo é mais do que um código estético: se configura como herança de uma história de resistência, resiliência e ancestralidade para a população negra. Este ato é geralmente transmitido por mulheres de geração para geração e o aprendizado se dá pela observação direta.
Espiral de tranças
Dirigido por Isabela Leite, com produção executiva de Louyse Silva, a obra audiovisual põe em tela trancistas que tra(n)çam caminhos coletivos e mostram a história de poder por trás da estética.
Pode ser definido com uma espiral de falas, poesias recitadas, cabelos trançados, cenas da correria do dia a dia e salões de beleza conquistados com muito esforço.
Representatividade dobrada
As trancistas Eudi Melo, Bia Kellen e Mariama; a cantora dama do reggae Célia Sampaio; e a poeta Débora Melo estrelam o elenco do documentário. Ele mostra os paralelos entre cabelo, ancestralidade, vivências e afeto, direto da periferia de São Luís, capital do Maranhão.
“É lindo ver em cena uma mulher preta trançando outra mulher preta que tá lançando uma poesia marginal potente de uma fala contundente, antirracista”, relata Isabela Leite. “Então, Trançatlânticas é barriu dobrado, está representando mesmo. E eu já tive feedbacks de trancistas que disseram que se viram muito no documentário, que se sentiram representadas”.
Produtora de mulheres pretas
A diretora do documentário explica que a Explana Mermã é uma produtora audiovisual e cultural independente. O empreendimento existe desde 2019, conduzido por mulheres pretas da periferia de São Luís (MA). Inicialmente, criava entrevistas e videoclipes para o YouTube. Depois, realizou circuitos de cinema nas quebradas, além da produção de documentários.
“O nosso trabalho se dá através das produções audiovisuais, mas também levando o fazer audiovisual para a comunidade, para que a gente tenha trocas que nos inspiram e nos ensinam, né?”, explica Isabela.
Ela espera que muitas pessoas se vejam na obra, sintam saudades de fazer uma trança e saiam para fazer uma, ou façam pela primeira vez. As possibilidades de identificação são grandes, para todas as idades. O documentário mostra uma trancista jovem, duas que têm o salão estabelecido e uma que é mãe.