3 fatos sobre o veganismo popular que talvez você desconheça

Muito se fala que o veganismo é um movimento elitista e excludente, porém, o veganismo popular é o oposto dessa crença. Veja.

14 abr 2023 - 10h55
(atualizado às 11h35)
Foto: CanvaPro

Em qualquer movimento, religião, e até em torcidas de futebol existem várias vertentes e formas de ação e de pensamentos distintos. No veganismo não é diferente.

O veganismo popular é uma vertente da luta pela libertação animal, que surgiu no Brasil, devido aos problemas socioeconômicos que o povo brasileiro enfrenta. É muito difícil ter uma qualidade de vida, tempo, ou uma boa alimentação em um país em que 90% das pessoas têm renda inferior a R$ 3,5 mil por mês e  77 milhões de pessoas com algum nível de insegurança alimentar. Com uma desigualdade tão extrema e gritante, se faz necessário falar de gente para falar de animais.

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E reparem que colocamos falar de gente para falar de animais, e não falar de gente para depois falar de animais. O veganismo popular aborda questões sociais e o descaso com animais não humanos. No veganismo popular não existe distinção, tudo está conectado.

Para falar de libertação animal, é importante ter uma compreensão socioeconômica e sociocultural

Socioeconômico porque precisamos ter uma compreensão social e econômica, que considere a realidade das pessoas, para debater assuntos relacionados a mudanças de hábitos, como tirar a carne do prato, ou qualquer mudança no âmbito individual. Se não compreendemos a desigualdade latente e propagarmos o veganismo descolado da realidade, estamos sendo elitistas e afastando as pessoas.

Sociocultural porque sem compreender o simbolismo da carne e a importância que os produtos de origem animal tem em diversas culturas, provavelmente seremos excludentes e incompreendidos. Para milhões de pessoas, falar em tirar a carne pode parecer um absurdo. Sem contar a importância que a carne carrega, todo o seu simbolismo, essencialmente para as populações periféricas. Tudo isso precisa ser considerado.

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O veganismo popular tem como princípio central o fim da exploração animal, alinhado com uma política de reforma agrária, educação e comunicação popular, dignidade humana, instrução, acesso à informação e qualidade de vida.

O veganismo popular compreende a importância da política institucional, e de uma mudança estrutural

É comum as pessoas veganas se isentarem de posicionamentos políticos (principalmente em época de eleição), mas aos olhos do veganismo popular isso é um grande equívoco. Todas as transformações que exigimos passam por mudanças políticas. Por isso, o veganismo popular não tem apenas a mudança individual como forma de ação, que também é extremamente importante.

É um tremendo erro ignorar a política, e mudar apenas no âmbito individual. Porque do que adianta não ter animais no prato, mas apoiar candidatos alinhados ao agronegócio, favoráveis a caça, que criam leis que beneficiam políticas que vão explorar mais e mais animais, como a exportação de animais vivos e vaquejadas, por exemplo.

Além disso, no veganismo popular entendemos que para uma real na questão da exploração animal, é fundamental uma transformação radical na forma como vivemos hoje e uma mudança completa no atual sistema. Por exemplo, tendo em vista a forma que o capitalismo está organizado, é praticamente impossível ter libertação animal, preservação ambiental, soberania alimentar ou qualquer progresso, seja para o povo ou para as demais espécies que dividem o planeta com a gente. 

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Não basta apenas propagar uma mudança individual, sem ter essa noção do quão problemático é o sistema econômico atual. Mas essa compreensão não é uma negativa às mudanças individuais. 

O veganismo popular não apoia ultraprocessados veganos

Sabemos que é possível consumir queijos, iogurtes, sorvetes, entre diversos outros produtos sem leite, ovos e derivados, e que propagar isso é positivo para a aceitação do veganismo entre o povo. No entanto, o veganismo popular entende que a maioria desses produtos com 10, 18 ingredientes químicos, com pouco ou nenhum valor nutricional são extremamente prejudiciais à maior parte da população. Os ultraprocessados são considerados os responsáveis por diversas doenças que estão cada vez mais assolando as periferias e favelas brasileiras.

Uma péssima alimentação leva a maior parte da população a sofrer com obesidade, anemia, colesterol elevado, gastrite, diabete, hipertensão, insônia e dificuldade para respirar, artrite, artrose, baixa imunidade entre diversas outras doenças facilmente evitadas com uma boa alimentação e um estilo de vida mais saudável.

Seria incoerente defender os Direitos dos Animais, se opor à forma como as demais espécies são tratadas (como coisas e objetos), e propagar produtos com alto teor de açúcar, gordura, e ingredientes nocivos à saúde humana, só por conta de um selo vegano.

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O que é muito legal, é que é possível consumir muitos alimentos como queijo, iogurte, entre outros, sem nada de origem animal e que não seja ultraprocessado. Atualmente os produtos são caros e limitados, porque a demanda é baixa, mas temos fé que num futuro próximo teremos produtos minimamente processados, sem química, sem nada de origem animal e acessível a maior parte da população.

Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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