A contradição de quem ama animais, mas come carne

Para qualquer pessoa que perguntar se os animais têm direito à liberdade, ao não sofrimento, a não exploração, a maioria vai falar que sim.

27 abr 2023 - 14h58
Foto: CanvaPro

A criação de animais para abate é uma das coisas mais cruéis do mundo. É terrível sabermos que bilhões de animais são criados com o intuito de morrer e ser consumidos por humanos. Ativistas do mundo todo, pelos direitos animais, estão tentando mostrar há anos o sofrimento e a exploração animal.

Na nossa caminhada enquanto ativistas percebemos muitas coisas. Para a maioria das pessoas que perguntamos se há uma preocupação com os animais, a resposta foi sim. Ninguém acha legal os animais serem criados para morrer. Ninguém fica feliz vendo um animal sangrando e sendo tratado como algo descartável. Dificilmente alguém dirá que os animais devem ser usados para satisfazer nossos desejos.

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No entanto, vivemos em uma sociedade que anseia pedaços de animais, as pessoas consomem alimentos de origem animal, que são repletos de crueldade, sem hesitar, sem questionar, sem nenhuma indagação, muito pelo contrário, muitas vezes nem querem conversar sobre.

Tudo isso faz parte da nossa cultura, toda essa exploração está velado. Amamos os animais, gostaríamos de protegê-los, mas eles estão em pedaços temperados nas nossas principais refeições diariamente, isso é super contraditório.

Quando éramos crianças, estávamos cercados por animais, amávamos os animais e com certeza jamais faríamos algum mal a eles, e muito menos comeríamos um pedaço de animal se soubéssemos que era de um boi, de uma galinha ou qualquer outro. 

Porém, nunca se preocuparam em mostrar a verdade, é sempre ‘’um pedacinho de carninha’’, ‘’um copinho de leite com achocolatado’’, nunca mostram a origem, o que de fato é, porque as crianças amam animais. Tanto é que, todos os desenhos, animações e filmes infantis têm os animais como tema central, já nascemos apaixonados por outras espécies.

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Mas então por que consumimos carne, derivados do leite, ovos, roupas e acessórios de couro? Gary Francione, é um professor acadêmico e filósofo que fala sobre direitos animais, e chama isso de ''esquizofrenia moral''.

Que é basicamente ter uma conduta completamente contraditória relacionada à moralidade, por exemplo, você quer que os animais fiquem vivos e sejam protegidos, mas não faz absolutamente nada para isso, pelo contrário, financia e os consome diariamente.

Normalmente não utilizamos esse termo (esquizofrenia moral), pois, não o consideramos apto, tendo em vista que o termo desconsidera pessoas com esquizofrenia, e essa colocação pode ser negativa e pejorativa para elas.

Podemos dizer que as pessoas agem de maneira contraditória por conta da cultura, dos estímulos publicitários, da educação, dos hábitos e costumes. Desde muito cedo somos praticamente forçados a comer carne, tomar leite e comer ovos… em praticamente todos os lugares que frequentamos é isso que é servido. A salada é sempre guarnição, acompanhamento, os vegetais nunca são protagonistas, são sempre os produtos de origem animal. 

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Seria uma contradição programada, estamos condicionados a amar os animais pelo fato de que eles são seres que merecem respeito e visivelmente são seres que têm sentimentos e conseguem sentir fome, frio e dor. Mas os consumimos porque aprendemos a objetificar os animais e dissociar os produtos de origem animal, não vemos o processo da morte, da criação e do confinamento, só compramos os pedaços limpos, embalados e preparamos.

Tendo em vista o nosso contexto histórico, essa contradição de amar e comer animais é mais do que normal. Mas não confunda com natural, é normal por conta da questão da tradição e da forma que somos ensinados sobre o que é comida e o que comer.

Precisamos questionar a nossa cultura, questionar nossos hábitos e se não concordamos com o sofrimento animal, devemos tentar enxergar o quão violento e prejudicial é isso. Além de mudarmos a nossa forma de se alimentar, comer mais vegetais e abolir os produtos de origem animal, deveríamos se possível se engajar numa luta coletiva em defesa dos animais, buscar políticas efetivas que considere de fato todos os animais.

Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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