A palavra cultura vem do termo em latim colere, que significa cuidar, cultivar e crescer. Portanto, a cultura dita as regras de forma estrutural, inconsciente como se fossem verdades absolutas e universais.
O indivíduo criado em uma determinada cultura X tende a pensar, agir, viver e perpetuar os valores, costumes, símbolos e significados dessa cultura. Basicamente reproduz o comportamento de um grupo específico, de uma família, ou de uma comunidade.
Em muitos casos podemos acreditar piamente que o que fazemos é uma escolha pessoal, baseada em nossos próprios valores e isento de condicionamentos. Mas é impossível agirmos de maneira totalmente autônoma, uma vez que somos seres sociais e altamente influenciados pela cultura que nos cerca.
Seja a crença em um Deus específico, como nos relacionamos, seja se alimentar com um tipo de alimento específico, seja utilizar um determinado tipo de roupa, adorno, entre outras coisas, raramente fazemos essas escolhas de forma autônoma e independente.
O consumo de carne na sociedade brasileira não é necessidade biológica, por conta do acesso ou indisponibilidade de alimentos vegetais. O consumo de animais e derivados é puramente cultural, o que não significa que não possa ser alterado e questionado.
Desde a infância somos influenciados a colocar uma ''carninha no prato'', a famosa mistura, a comer um ''pedacinho de carne'' ou um ovo, muitas vezes sem mencionar que são ovos de galinha, além de tomar um ''leite da vaquinha''. As famílias não educam os filhos sobre a realidade dos produtos de origem animal, os processos envolvidos e o impacto que essa ''carninha, ovinho e leite da vaquinha'' causa.
As grandes mídias respaldadas pela cultura e hábitos tradicionais limitam-se a mostrar apenas o produto final, jamais a produção, que envolve confinamentos, inseminação artificial, amputações, descarte de animais vivos e assassinatos.
Não temos escolha e nem somos estimulados a pensar sobre o que estamos ingerindo, somos estimulados e apoiados ao consumo de animais. Ou seja, essa educação que passa de geração em geração é cultural. É algo que vai sendo transmitido ao longo de muitos anos e se solidifica como algo natural.
Não é simples lutar pelos animais em uma cultura altamente dependente do consumo de carne, ignorando a força cultural e o impacto da tradição em nossas ações. Há várias barreiras sociais que impedem que tenhamos grande êxito em combater a exploração animal, a comercialização e o consumo.
No entanto, não é porque nascemos em uma cultura na qual o consumo de animais é completamente comum e estimulado, que estamos errados ou equivocados ao nos opor e questionar esse hábito, de maneira alguma.
É mais do que necessário lutarmos para que a cultura se torne menos prejudicial aos humanos, aos animais e ao meio ambiente, e isso vale para qualquer cultura e qualquer hábito.
Temos que questionar um costume, uma atitude ou uma conduta que faz parte da nossa cultura e causa injustiça, sofrimento, abusos, mas sempre entendendo que esse processo vai ser difícil e muitas vezes doloroso, pois não temos respaldo social, porque estamos indo contra a cultura, que está altamente enraizada.