Como é o veganismo nas periferias das cidades?

Para abordar mudanças de hábitos é extremamente relevante mencionar o fato de se viver em uma periferia

14 set 2022 - 11h03
(atualizado às 12h00)
Foto: CanvaPro

Vivemos em uma sociedade completamente desigual, e as cidades são formadas e estabelecidas dentro desses moldes. Dessa forma, o acesso a produtos, a renda das famílias e o nível de informação também será totalmente desigual.

Quando nos tornamos veganos, ficamos com a sensação de estarmos fazendo algo que não fazia parte da nossa realidade, sentimos que o movimento vegano parecia estar dialogando apenas com uma classe média/alta e que lutar pela libertação animal não era uma pauta dentro da periferia. Ou seja, o movimento vegano, ao nosso ver, era completamente elitista.

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Ao longo da nossa caminhada, com as informações que fomos adquirindo, começamos a perceber o seguinte: os animais não têm nada a ver com a nossa desigualdade, e a nossa luta é por eles, mas não podemos seguir esse movimento, que culpabiliza indivíduos e que só propaga um suposto consumo consciente para uma determinada classe.

A partir daí começamos a pensar outro veganismo, a propagar um veganismo mais popular, que estivesse dentro da nossa realidade. Um veganismo menos consumista, mais político, menos invasivo e mais responsável.

Quando se fala em mudança de hábitos é necessário considerar questões socioeconômicas, acessibilidade, a região que a população está inserida e a cultura que influencia seu comportamento. Na luta pela libertação animal não é diferente. Pois, consumir animais tem um simbolismo muito forte, em diversas direções.

Um dos principais pontos ao abandonar o consumo de animais é o acesso limitado a diversos alimentos, estabelecimentos, espaços que propõem discussão, entre outros. É normal ter mais pessoas veganas que são de uma realidade mais estável financeiramente, por vários motivos. Mas é possível ter um movimento mais inclusivo.

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Respeitando as nossas limitações e não sendo fisgados pela lógica consumista do veganismo de mercado, é tranquilo ter uma alimentação saudável e lutar pelo fim da exploração animal morando na periferia de uma grande cidade.

Só precisamos de boas informações, possibilidade de acessar o básico e estar dispostos a mudar.

Um bom exemplo é a nossa história, pois viemos de uma realidade super desfavorável, com muita dificuldade financeira, mas com acesso ao mínimo, com informação, nos tornamos veganos e lutamos muito por essa causa.

Se tivermos uma alimentação baseada em vegetais, não formos consumistas e tivermos um propósito claro, ser vegano vai ser super viável. O problema é querer substituir tudo por alimentos industrializados e ter um veganismo baseado em consumo, um veganismo estético.

O veganismo é bom para os animais, para as pessoas e para o planeta como um todo, e que se for acessível e inclusivo, pode dialogar com o máximo de pessoas possível.

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Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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