Ahhh, o futebol, que esporte maravilhoso! Tem seus prós e, com certeza, tem seus contras. Mas quem não gosta de ver uma bela partida de futebol, seja no campinho das periferias ou nas modernas arenas dos grandes clubes? Futebol nunca é demais.
Porém, o futebol possui uma cultura bastante machista, que, em grande parte, enaltece a alienação. Claro, há suas exceções, mas falar sobre veganismo no meio do futebol é quase impensável. A maioria dos jogadores exalta a masculinidade tóxica, a cultura da carne e tudo o que envolve essa ideia de virilidade.
Imagina só falar sobre alimentação vegetariana ou sem nada de origem animal nesse contexto? Será que há espaço? Sim! O ex-jogador e técnico Gustavo Nabinger, juntamente com Rafael Eschiavi e Deia Nabinger, decidiram falar sobre isso. Em 02 de abril de 2022, eles criaram o primeiro time vegano da América Latina, o Laguna FC, localizado na cidade de Tibau do Sul, no litoral sul do estado do Rio Grande do Norte. Ele é o segundo time vegano do mundo, ficando atrás apenas do Forest Green Rovers, da Inglaterra.
O clube do Rio Grande do Norte é revolucionário em sua proposta e ambicioso em suas projeções. O Laguna busca conciliar questões fundamentais em termos de direitos animais e proteção ambiental com o esporte mais prestigiado no mundo. Além disso, o clube tem o objetivo de chegar à elite do futebol brasileiro em 10 anos.
O cardápio dos atletas é completamente vegano, ou seja, não leva nada de origem animal (ovo, frango, carne vermelha, peixe, mel, leite ou derivados). As refeições são repletas de vegetais, frutas, grãos e cereais. E todas as refeições são seguidas por nutricionistas.
Para nós que somos veganos e crescemos com a bola nos pés, nas periferias de Campinas, e temos um irmão que jogou futebol profissionalmente e um pai que sempre jogou amador, e quase se tornou profissional no Guarani FC, é incrível saber que existe um time de futebol vegano.
Desde que começamos a falar sobre o veganismo de uma perspectiva periférica, sempre mencionamos a importância de não fugir da estética popular, das atividades populares e comuns. A ideia nunca foi fugir do que é cotidiano, apenas questionar e repensar algumas coisas que, aos nossos olhos, são ultrapassadas e desnecessárias.
É normal encontrarmos pessoas que se declaram veganas, dizer que não gostam de futebol, mas isso vem mudando diariamente. Com a expansão do veganismo, o seu público tende a mudar de forma natural.
É desnecessário se isolar e viver em bolhas para ter consciência em relação à devastação ambiental, exploração animal e a desigualdade social extrema que o Brasil enfrenta. Não é porque viramos veganos que vamos passar a fazer coisas diferentes, se tornar pessoas com hábitos estranhos. Muito pelo contrário.
Ter um time de futebol 100% vegano no Brasil e na América Latina é por si só revolucionário, pois tem como proposta a prática de um esporte completamente popular, com base em princípios de respeito aos animais e ao meio ambiente.
O mundo dos esportes, sobretudo o futebol, tende a ser muito despolitizado, apesar de ter as suas exceções. Um time de futebol vegano vem para mostrar que o futebol, ou melhor, o esporte, não só pode como deve se posicionar em prol de causas importantes e necessárias.