Desigualdade: crise climática afeta principalmente a periferia

São os mais empobrecidos que vão sofrer com as consequências da produção insustentável de origem animal

12 jul 2022 - 05h00
(atualizado às 12h08)
Incêndio florestal
Incêndio florestal
Foto: CanvaPro

As consequências dos impactos ambientais afetarão, principalmente, as populações socialmente vulneráveis vivendo em regiões com escassez de recursos. Por isso, o cuidado com o meio ambiente é uma questão de altíssima relevância.

Diversos fatores, como a degradação do solo, o desmatamento, a produção excessiva de gases de efeito estufa –  como metano (CH4) e gás carbônico (CO2) –  e o consumo excessivo de água contribuem para o aquecimento global, para queimadas, poluição, enchentes e secas. E, sem dúvida, a produção de ‘’alimentos’’ de origem animal é uma das principais responsáveis por esses fatores.

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Todos os processos envolvidos na produção de carne, leite e ovos, estão relacionados a uma forte pegada de destruição ambiental, desde o desmatamento para a formação de pasto, até a produção de grãos e cereais para alimentar esses animais, sobretudo quando o assunto é carne bovina. Segundo estimativas do Observatório do Clima, a agropecuária é responsável por 17% de todos os gases do efeito-estufa do Brasil.

Recentemente foi realizada uma pesquisa na Universidade de Oxford que mostrou que a produção de carne bovina, dentre todos os alimentos, é a que emite mais gases de efeito estufa.

No Brasil, milhões de hectares de vegetação nativa, em ecossistemas como a Amazônia e o Cerrado, foram perdidos para o cultivo de grãos e cereais usados predominantemente como ração para animais – no mundo, cerca de 83% de toda produção agrícola é destinada para alimentar animais de criação.

A preocupação com o meio ambiente tem relação com o impacto que essas mudanças exercem em nossas vidas e, essencialmente, na vida de populações com dificuldades socioeconômicas. Um estudo realizado pela Universidade de Stanford, na Califórnia, mostrou que o abismo entre as nações mais pobres e as mais ricas do mundo é 25% maior do que seria sem o aquecimento global, entre 1961 e 2010.

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Portanto, quando falamos em catástrofes ambientais, não estamos pensando em uma classe abastada e financeiramente estável que tem como se proteger e se eximir das consequências mais severas que podem ocorrer e já estão ocorrendo.

Precisamos dialogar, refletir e entender que a pauta ambiental é extremamente importante, e embora as causas de degradação ambiental sejam multifacetadas, o consumo e produção de ‘’alimentos’’ de origem animal é completamente nocivo ao Planeta Terra. E essa causa não tem nenhuma relação com status ecologicamente correto de pessoas de classe média.

Considerar a produção capitalista de alimentos e os hábitos modernos como sendo responsáveis por parte dos desastres ambientais é se preocupar de forma direta com os problemas sociais. Aliás, não existe nenhum problema que esteja isolado e não esteja em relação e integrado.

É importante compreender que o sistema econômico, a formação dos Estados e o desenvolvimento da forma que está estabelecido atualmente precisa mudar. O intuito com esse texto é trazer uma reflexão e apontamentos do quão prejudicial é o consumo e a criação de animais, tanto no âmbito individual quanto no âmbito estrutural e coletivo.

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Não existe uma imposição de mudança de hábito ou uma obrigação, mas é preciso refletir, falar e levar em consideração que a forma que estamos nos alimentando e a forma que se produz alimentos hoje é nociva e degradante, e pode nos levar ao um desastre irreversível sem precedentes, tornando os problemas sociais ainda mais graves.

Se liga:

Não podemos culpabilizar indivíduos (consumo individual) em situação de pobreza e miséria pela destruição ambiental. Temos consciência de que o sistema da forma como ele está estruturado,  impacta completamente nas nossas decisões, escolhas e ações. Justamente por conta disso, é necessário abordar tal assunto de forma contextualizada, com responsabilidade e compreendendo que não são atitudes individuais tomadas de forma isolada que irão resolver nossos problemas ambientais. Ao nosso ver, é justo alinhar ações individuais práticas que sejam entendidas dentro de uma coletividade e a busca por uma mudança no sistema político, econômico e social. 

FONTES: 

https://www.svb.org.br/livros/impactos-alimentacao.pdf

Carne produzida localmente: Poore & Nemecek, 2018 

Produção agrícola 83% e 26% de toda terra firme: Poore & Nemecek, 2018

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Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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