Horta recupera saúde mental de pacientes e moradores no RJ

Iniciativa do Museu Bispo do Rosário ganha certificado de produção orgânica e qualidade em área de antigo manicômio

4 jul 2024 - 08h57
Resumo
Projeto Arte, Horta & Cia, na região de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, oferece curso de agricultura urbana e agroecologia. Com duração média de quatro meses, e aulas práticas e teóricas, beneficiou cerca de três mil participantes, entre pacientes e moradores da região. O terreno onde funciona a horta abrigou instalação de internação masculina manicomial e, após reforma psiquiátrica, passou a ser usado como depósito de construção civil.
Eliana Dias mora na região há mais de 50 anos. Segundo ela, na hora “reconhecemos nosso papel nesse mundo”
Eliana Dias mora na região há mais de 50 anos. Segundo ela, na hora “reconhecemos nosso papel nesse mundo”
Foto: Edu Kapps/SMS

Num terreno que fazia parte de antiga colônia psiquiátrica na Taquara, área de população pobre no Rio de Janeiro, mato e entulho estão dando lugar a pés de alface e outras hortaliças.

São os frutos do projeto Arte, Horta & Cia, do Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira, onde viveu o grande artista plástico Arthur Bispo do Rosário.

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Integrado ao Museu Bispo do Rosário, o projeto é a primeira iniciativa dentro da Rede Carioca de Agricultura Urbana (Rede CAU) a receber o Certificado de Conformidade Orgânica da Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro (ABIO)

A avaliação leva em conta a produção orgânica e a qualidade do serviço prestado, conforme a legislação vigente dos princípios agroecológicos. A horta é tocada por usuários dos centros de atenção psicossocial e moradores do entorno, como o casal Valéria e Vanderley.

Vandeley de Oliveira foi levado à horta pela esposa, que também acabou aderindo ao projeto
Foto: Edu Kapps/SMS

Horta ajudou a recuperar marido de Valéria

O projeto pôde proporcionar a recuperação da independência e do desenvolvimento do marido da Valéria Serqueira. Moradora da região há 60 anos, ela começou a perceber uma movimentação na localidade em meados de 2022, e ficou interessada.

Decidida a levar seu esposo ao projeto, logo percebeu o quanto ele foi acolhido e evoluiu. Vanderley de Oliveira sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em 2018 e, desde então, teve que lidar com sequelas.

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A interação e a prática com o cultivo foram suficientes para o progresso dele. Valéria acompanhou de perto cada avanço e resolveu participar também.

“Meu marido é outra pessoa. Vendo como ele está hoje, você não acreditaria em como estava antes. O pessoal do projeto não só faz plantações, vasos ou ornamentações, faz a gente se lembrar que está vivo”, diz Valéria.

O casal Vanderley e Valéria em meio aos 90 canteiros de alface, couve, almeirão, coentro e cebolinha.
Foto: Edu Kapps/SMS

Dona Eliana e a plantação de almeirão

Cercada por lembranças de seus pais e de sua infância sempre que está na horta, Eliana Dias mora na região há 53 anos e chegou ao projeto convidada por uma vizinha.

Ela mantinha o hábito de cuidar de um jardim caseiro e se viu encantada com as plantações. Escolheu participar e, desde então, a cada aula é um novo aprendizado. Ela ficou particularmente impressionada com a plantação de almeirão.

“Aprendi a exercitar a paciência, esse é o grande ganho. Nos voltarmos para nós mesmos e reconhecermos o nosso papel nesse mundo. Respeitar a terra e suas nuances e, além disso, respeitar o próximo”, diz Eliana.

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Um diferencial na horta é a utilização de tecnologias sociais como a compostagem, sistema de biodigestores e um jardim filtrante para facilitar melhores condições de cultivo e o aumento da produtividade.

Coqueiros, limoeiros e bananeiras também podem ser vistos ao longo do terreno que tem 20 mil metros quadrados.
Foto: Edu Kapps/SMS

Lugar de afeto onde havia dor e exclusão

Parte dos alimentos plantados é utilizada posteriormente no restaurante Bistrô do Bispo, no Museu Bispo do Rosário, no qual um cardápio é pensado e preparado para servir comidas brasileiras e naturais.

A colheita também é compartilhada entre os integrantes do projeto e a comunidade da região, procedimento decidido todo mês numa assembleia. 

“Temos sustentado o desejo da horta de ser reconhecida como uma referência em agroecologia e saúde mental, além de geração de trabalho e renda dentro da perspectiva da economia solidária”, explica a diretora Luciana Cerqueira.

Para a coordenadora do projeto, Marcelle Souza, o objetivo é construir uma visão crítica e autônoma dos membros da horta.
Foto: Edu Kapps/SMS

O projeto pretende expandir a participação da comunidade, bem como ampliar o plantio e a inserção de mais tecnologias sociais no espaço, como captação da água da chuva, participação em feiras e aproximação de parceiros para troca de conhecimentos.

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Fonte: Visão do Corre
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