Não precisa amar animais para ser vegano, basta respeitá-los

É um equívoco achar que para se tornar vegano precisamos amar os animais. Apesar de ser impossível odiá-los

26 mai 2022 - 05h00
(atualizado em 27/5/2022 às 18h14)
Foto: CanvaPro

É muito comum ao falarmos de veganismo, escutarmos: ‘’Ah, mas eu não gosto de animais, então eu nunca vou me tornar vegano’’. A questão é que não precisamos amar animais, ser apaixonados por bichos para entender que eles não devem ser aprisionados, explorados, mortos e comercializados como se fossem meros produtos.

Não é uma questão de achar animais bonitinhos e fofinhos. Pode até ser isso, mas de fato, o aspecto dos animais não é exatamente o fator determinante. O importante é compreender que todos os animais têm o direito de viver e ser livre da mesma forma que todos nós humanos. Independente de gostar ou não de animais, estamos falando de respeito e de ética. O problema é que temos um sentimento de superioridade em relação aos animais, e nos sentimos no direito de nos beneficiar dessa exploração.

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Por mais absurdo que pareça, algumas pessoas falam: ‘’ah, mas agora o leão vai ter que virar vegano?!’’. Essa fala é totalmente sem base do ponto de vista biológico.

Não estamos falando da relação entre os animais de modo geral, aqui estamos abordando a conduta do ser humano social, hiper-racional e consciente, em relação a outras espécies. Nós humanos temos a opção de nos alimentar de forma variada sem utilizar animais, mas optamos por consumi-los, muito com base no especismo (especismo é quando uma espécie, no caso a humana, se sente no direito de explorar, matar e usar outras espécies com base numa falsa sensação de superioridade).

Comparar humanos com animais carnívoros é um equívoco. Os animais carnívoros não têm abatedouro, não criam suas presas em cativeiros e não tem açougue, além disso, comem todas as partes de suas presas, incluindo vísceras, cérebro e todos os outros órgãos. O que queremos dizer, é que o leão, assim como os demais animais carnívoros, não são dotados de escolhas, diferente de nós humanos.

Foto: CanvaPro

Mesmo que não exista a necessidade de amar outras espécies para entender que é errado tratá-las como produtos, acreditamos que a maior parte das pessoas gosta de animais. Uma pesquisa realizada pelo instituto IBGE apontou que 48 milhões de domicílios no Brasil têm cães ou gatos. Isso nos mostra que o ser humano é um animal compassivo, que protege, respeita e ama outras espécies.

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Aprendemos a respeitar cães e gatos e achar um absurdo maltratá-los, mas quando estamos falando de outros animais, não temos a mesma conduta. E mesmo quem não gosta de cães e gatos, acha errado machucá-los. E da mesma forma que não precisamos amar e gostar de pets para entender que eles têm o direito de não sofrer, também não precisamos amar porcos, coelhos, vacas e galinhas para entender que eles não devem ser tratados como um produto incapaz de sentir.

Foto: CanvaPro

Enquanto os pets são tratados da melhor forma possível, são respeitados e defendidos por diversas pessoas e entidades, outros animais estão sendo altamente explorados. Por ano são mortos, aproximadamente, 74 bilhões de animais terrestres e cerca de 1 trilhão de animais marinhos, para consumo humano.

Assim como eu, você e a maioria absoluta da população, fomos todos condicionados a acreditar que os animais estão aqui para nos servir, e que a exploração animal é algo completamente normal. Mas não, não é normal um animal passar a vida inteira trancado em uma baia, sofrendo, tendo seu corpo mutilado e depois ser assassinado só para atender aos nossos desejos.

Por acreditarmos que os animais não têm direitos e não devem ser tratados com respeito, os reduzimos a comida, a cobaias, entretenimento e vestimentas.

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Precisamos, o mais rápido possível, ultrapassar essa visão e entender que os animais não estão aqui para nos servir, e que assim como nós queremos viver e ter nossa liberdade respeitada, eles também querem.

Foto: CanvaPro

Pega a visão: 

O texto não tem a intenção de responsabilizar indivíduos e muito menos culpar quem não tem acesso a uma variedade de alimentos ou vive em situação de insegurança alimentar. A intenção do texto é trazer uma reflexão do quão ultrapassado é a forma em que tratamos as outras espécies. Embora compreendamos a importância da cultura e do hábito em relação a esse consumo, acreditamos ser necessário repensarmos a forma como tratamos os animais. Apesar de no texto generalizarmos o termo humano, as desigualdades sociais, principalmente no Brasil, ao abordar a questão de mudanças de hábitos, devem ser consideradas e em hipótese alguma ignorada.

Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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