Tivemos uma infância um pouco diferente dos nossos amigos na periferia de Campinas, no interior de São Paulo. Enquanto uns achavam divertido cortar a cabeça de pássaros com linha de pipa, amarrar bombinha no rabo dos gatos, jogar gato no fio e gargalhar com eles eletrocutados, e chutar cachorro na rua — nós já nos preocupávamos com as aves, cães e gatos feridos, e dentro das nossas limitações tentávamos fazer alguma coisa para sanar aquele sofrimento.
Por isso, sempre fomos em parques com animais, sempre tivemos pets em casa, cães, gatos e pássaros, e desde então somos apaixonados por todas as espécies.
O problema era que a nossa falta de informação, que é normal durante a infância, levava a negligências com as necessidades mais básicas dos animais (como comer e beber). Apenas tínhamos eles em casa como se fossem um brinquedo, e hora ou outra brincávamos com eles.
Nossa mãe sempre perguntava "se eu pegar esses animais para vocês, vocês vão cuidar?" E sempre dizíamos que sim, mas, na prática, nunca acontecia, era um caos e sobrava tudo para ela, que além de criar três filhos pequenos tinha que cuidar dos animais que ela tinha nos dado.
Os animais em casa também tem suas necessidades, necessitam de higiene, comida de qualidade, água, abrigo e atenção.
Trabalhamos durante três anos em um abrigo de resgate de cães e gatos, fazendo pelo menos quatro feiras de adoção por mês e atuando em diversos casos de violência e abandono.
Nada mais comum do que uma mãe ou pai chegar na feira ou no abrigo e comentar com a gente que estavam vendo um animal para dar de presente para o seu filho ou filha.
Em todas as vezes que os animais foram doados nesta circunstância, eles foram devolvidos, seja porque os filhos não queriam mais brincar com eles, ou porque os animais davam muito trabalho e eles não tinham tempo de cuidar. Alguns pais até ameaçavam descartar o animal se o abrigo não o pegasse de volta.
Aqueles adultos não estavam conscientes e com vontade de ter um ser vivo e com uma demanda emocional tão complexa em casa, e ao adotar um animal com necessidades básicas para a sobrevivência, era óbvio que em poucas semanas ele viraria um peso na rotina da família.
Não podemos negar que os animais fazem muito bem para as crianças e elas aprendem a amar e respeitar outras espécies principalmente quando entram em contato com eles.
Não há problemas em ter um pet em casa, desde que os adultos assumam inteiramente as responsabilidades e não tratem aquele animal como objeto da criança.
Antes de comprar ou adotar, é necessário entender que animais não são produtos, objetos ou mercadorias para serem tratados como presentes para crianças, muito menos para adultos. Animais não são ursos de pelúcia que podem ser deixados de lado e usados apenas quando precisamos deles.
Pega a visão:
Nesse dia das crianças, vamos tentar mostrar para os pequenos a importância de respeitar os animais, preservar o meio ambiente, e de saber o que está comprando, vestindo, comendo e bebendo. Às vezes não fazemos ideia de como uma palavra e um bom exemplo podem impactar a vida inteira de uma criança.