O movimento vegano já foi elitizado, hoje é uma luta popular

Há quase dez anos era impossível encontrar referências populares, muito menos periféricas e faveladas falando sobre veganismo.

19 abr 2023 - 05h00
Foto: CanvaPro

Assim como em qualquer grupo, sociedade e civilização, existem tradições e diferentes formas de propagar uma ideia, no veganismo também há uma grande diversidade. Isso significa que existem formas de atuação distintas para se chegar ao mesmo lugar, como, por exemplo, no fim da exploração animal.

Existe sim um veganismo ‘gratiluz’, propagado por pessoas descoladas da realidade que vivem em redomas, que em sua maioria se diz vegana como mera forma de desencargo de consciência.

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Além disso, tem uma galera com grana, que propaga o veganismo baseado apenas na sua realidade e de forma completamente individualizada, sem considerar questões sociais que são fundamentais. Esse, sim, é um veganismo elitizado e excludente, tratado como um estilo de vida chique, caro e exclusivo.

Mas felizmente, hoje em dia essa não é a realidade do veganismo, isso é só uma parte, uma fração que não representa o movimento em sua totalidade. Atualmente, boa parte das pessoas e grupos, já carrega um discurso mais menos consumista, mais inclusivo, popular e não voltado para uma suposta iluminação ou como algo que nos torna socialmente melhores.

A presença de pessoas periféricas, politizadas e dispostas a debater a libertação animal de forma inclusiva, fez toda a diferença para o veganismo. Embora seja comum algumas pessoas da periferia deixarem de comer animais, e não se intitularem veganas, elas já colaboraram enormemente para a deselitização.

A compreensão de que não precisamos atravessar a cidade, para comprar produtos sofisticados com selo vegano, e que o que nos nutre de verdade são alimentos que encontramos em qualquer mercadinho e varejão no nosso bairo, também viabilizou muito o acesso do povo ao veganismo.

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Existem pessoas de classe média alta, pessoas ricas que gostam de exclusividade, de coisas em pequenos grupos, e o veganismo por ser um movimento ainda muito recente, acaba atraindo essa galera.

Porém, estamos aqui para fomentar a ideia de que esse movimento tem que se popularizar, tem que chegar nas massas, precisamos superar essa ideia de exclusividade, como um grupo seleto.

E tornar o veganismo um movimento acessível, suas ideias e pautas, não é benéfico apenas para os animais, que sem dúvida seriam os mais beneficiados, mas também para nós e para o meio ambiente como um todo.

O ponto mais importante em termos de popularizar essa luta, é bem simples, sem o povo, sem a participação popular, lutando por mudanças estruturais e mudando seu comportamento e escolhas cotidianas, não há uma mudança significativa. 

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A bolha elitista, apesar de poderosa, não tem força. Podem ter dinheiro, ostentar, se sentir o máximo, mas em termos de mudanças profundas e necessárias, sozinhos, sem condições.

Se fica só no campo do consumo, na estética, com jargões e frases em inglês, um estrangeirismo que uma parte da classe média adora, se torna um movimento que não dialoga com o real significado do veganismo. Se continuar nessa de exclusividade, vamos passar a ostentar o veganismo, frequentando lugares chiques e postando nas redes sociais ‘’sorveteria vegana, ai que chique’’, e não é nada disso.

Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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