Quando o assunto é carne, a exaltação da masculinidade se torna ainda mais evidente. Para se ter uma noção, 80.9% do público da página 'Vegano Periférico' no Instagram é feminino. Mas isso não quer dizer que o veganismo seja somente para mulheres, isso diz respeito ao medo dos homens de mudar hábitos devido a uma profunda insegurança, baseada numa falsa sensação de superioridade.
Na maioria das vezes, o consumo de carne no meio masculino é uma forma de mostrar força e virilidade. Portanto, ter uma alimentação baseada em vegetais, frutas, legumes, grãos e cereais para a maioria dos homens é considerado algo menos masculino. Por isso, homens, geralmente são mais preconceituosos e inacessíveis quando se trata de exploração animal e veganismo.
A reação dos nossos camaradas quando comentamos que nos tornamos veganos foi surpreendente. Era engraçado, parecia estarmos fazendo algo errado. Eles lidavam de forma preconceituosa e com total desdém, como se fossem superiores.
Na roda dos parceiros, no trampo, no churrasco, escutávamos coisas do tipo: ‘’mano, você é viadinho, vai comer uma picanha e depois fala comigo’’, ‘’vocês tão virando a casaca’’, ‘’homem que é homem come carne, vocês tão moscano’’. E quando a gente questionava não tinha uma justificativa plausível, era sempre algo do tipo: ‘’mano, tem que comer carne e boa, nóis é homem, tio’’.
Há uns anos atrás trabalhamos em um restaurante vegano, e ao longo de um ano reparamos em caras que acompanhavam as namoradas e como eles tinham receio de pedir alimentos que não tinha carne, como se consumir frutas, legumes e vegetais fosse afetar a sua ‘’masculinidade’’. O medo de comer vegetais ao invés de carne, escancara a fragilidade.
Na época em que esses comentários e comportamentos começaram a surgir, lemos o livro ‘’A Política Sexual da Carne’’, da escritora Carol J. Adams. O livro aborda justamente a questão do machismo e o consumo de carne e como isso se relaciona na prática.
Em seu livro, Carol, aborda a questão do homem enxergar a mulher da mesma forma que enxerga um pedaço de carne, como algo a ser objetificado e consumido. Lendo o livro pensamos na hora sobre aquele comentário comum: ‘’essa mina é um filé’’. Isso está completamente enraizado em nós, homens. Ou seja, a carne se torna feminina por um lado (objetificação) e masculina por outro (símbolo de poder e dominação).
Mas a comprovação dessa relação entre consumo de animais e machismo vai muito além da nossa experiência individual e do belíssimo trabalho da Carol, há muitos estudos que comprovam tal proximidade.
Em 2012, pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, da Pensilvânia e Luisiana, chegaram à conclusão que há uma forte conexão entre o consumo de carne e a masculinidade. Com experimentos e relatos concluíram também que, em geral, as pessoas consideram a carne um alimento “mais masculino” do que legumes e verduras.
Estudos realizados pelas Universidades australianas de Monash e de Tecnologia de Sidney, afirmam que os homens quando estão próximos de um par amoroso em potencial ficam mais dispostos a pedir pratos à base de carne, para demonstrar a ‘’masculinidade’’. Além disso, o estudo também aponta que, principalmente, homens com dificuldades financeiras tendem a consumir mais carnes, pois isso ajuda psicologicamente a suprir a falta de dinheiro.
Em contrapartida, um estudo realizado pelo nutricionista Joseph Whittaker, constatou que uma dieta com excesso de alimentos ricos em proteína como: carnes, ovos, leites e suplementos proteicos diminui em até 37% os níveis de testosterona — principal hormônio sexual masculino e um esteróide anabolizante.
O mesmo estudo analisou que uma dieta incluindo 35% de proteína ao longo de oito semanas levou a que participantes tivessem problemas como disfunção erétil, fadiga, depressão e fraqueza muscular, sintomas associados à diminuição da testosterona. Esse estudo mostra que a ideia do consumo de carne associado a uma virilidade não tem uma relação de fato.
Passamos mais de 20 anos comendo carne, leite e ovos. Hoje, estamos há quase 7 anos sem consumir nada de origem animal. E podemos garantir que abandonar produtos de origem animal não tem relação alguma com a nossa identidade ou orientação sexual, isso é uma ideia completamente sem fundamento e está totalmente ultrapassada.
Quando temos segurança, consciência e firmeza no que acreditamos, começamos a nos movimentar por conta própria, questionando nossos condicionamentos e agindo de forma autêntica. Assim, nos baseamos em nossos valores e não agimos com ignorância, falta de respeito e preconceito.