O simbolismo do consumo de carne por trás do discurso de Lula

Um dos discursos do Lula que ganhou força nos últimos tempos foi ''O povo vai voltar a comer picanha e fazer churrasquinho''.

25 out 2022 - 14h51
(atualizado às 15h01)
Foto: O ex-presidente Lula / Crédito: Flickr/@institutolula

A aquisição de carne bovina foi adotada por Lula como referência de seu governo e isso nos diz muito sobre o que representa a carne no prato do povo, e podemos garantir que vai muito além da culinária.

Nós, que defendemos os direitos dos animais e direitos humanos, ressaltando o tempo todo com base em dados, pesquisas e estudos que o consumo de carne é prejudicial para a população, para os animais e que é a produção mais nociva para o meio ambiente.

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No entanto, entendemos que o Lula não propaga o consumo de picanha e churrasco de uma forma ingênua, e a intenção dele não é corroborar com todas as contradições que envolvem a produção e comercialização de carne. 

Afirmar que o ''povo vai voltar a comer picanha e fazer churrasco'' é uma forma muito popular de se comunicar com uma população que conta hoje com mais de 100 milhões de pessoas com algum grau de insegurança alimentar, e a grande parte da população não acessa nem o básico.

Isso nos mostra a importância que o consumo de carnes tem no Brasil, principalmente em regiões menos favorecidas, como periferias, favelas e comunidades afastadas.

Dentro desse contexto, não é equivocado estimular no imaginário da população a possibilidade de acesso a um consumo entendido pela maior parte da população como ascensão social, aliás, é muito importante para a campanha e para a eleição dele.

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Além disso, é necessário considerar que há um forte estímulo ao consumo de carne, que vivemos em uma cultura que valoriza isso e que esse consumo significa muito para a população, muito mais do que possamos imaginar. 

Segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), a participação da carne na dieta dos brasileiros aumentou de forma geral em quase 50% entre 1974 e 2003. 

O aumento da renda da população têm estimulado o aumento do consumo de carne bovina.

Um exemplo prático: quando comparamos diferentes países, vemos que, quanto mais ricos, mais carne é consumida, ou seja, a carne é vista como um artigo de luxo, a carne emprega status com uma função social para além de nutrientes.

Foto: CanvaPro

Não é simples chegar para pessoas que estão em situação de vulnerabilidade, que enxergam a carne como um troféu, uma conquista, um mérito, um objeto de desejo e dizer para elas que precisamos reduzir o seu consumo.

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É fundamental entender que vivemos em uma sociedade culturalmente carnista, que baba só de pensar em pedaços de animais ou sentir o cheiro do churrasco. 

Seria completamente impopular um candidato à presidência da República (seja ele de que ideologia for) que precisa de mais de 50 milhões de votos propagar o veganismo e a redução de carne na mesa do povo.

É de extrema importância abordar questões como os malefícios do consumo de carne para a saúde humana, os prejuízos ambientais que a produção de origem animal causa e a forma antiética que os animais são tratados — esse seria o mundo ideal, porém, o Lula já sofreu ataques dos quais nunca esteve envolvido, criam Fake News sobre ele a cada minuto. Se ele falasse qualquer coisa sobre tirar a carne do prato do povo brasileiro, provavelmente receberia menos votos do que o José Maria Eymael, que teve 0,1% do total dos votos.

Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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