O veganismo brasileiro é muito diferente do veganismo europeu

A síndrome do vira-lata pega todos os movimentos e condiciona a nossa visão de mundo. O veganismo brasileiro é latino-americano.

7 jun 2023 - 09h51
(atualizado às 10h00)
Foto: CanvaPro

O veganismo, como muita gente já sabe, é uma forma de lutar contra a exploração animal, essa é a sua essência. Mas o que muita gente não sabe, é que essa luta pela proteção animal ocorre de formas distintas dependendo da localização, da região e do país. Isso porque, as realidades são diferentes, a cultura de cada povo, de cada país também é completamente diferente.

Na Europa, onde surgiu o termo veganismo, eles fazem uma luta muito mais direcionada aos animais sem considerar questões como justiça social, por exemplo, sem considerar a cultura dos povos originários, sem ter a preocupação com a propagação do veganismo de uma maneira não colonizadora ou até mesmo propagar o veganismo considerando a desigualdade social e a importância da carne na mesa da população periférica.

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A realidade brasileira, sobretudo latino-americana, é completamente diferente da realidade europeia. Um exemplo clássico aqui no Brasil, são os povos originários e a extrema desigualdade social.

Embora em alguns países europeus a desigualdade exista, não é tão gritante quanto aqui no Brasil. E para propagar o veganismo de maneira contextualizada com a nossa realidade, é fundamental compreender questões socioeconômicas, cultura do status da carne, a importância da carne na mesa da população, principalmente menos privilegiada. Essa ideia de carne como ascensão na Europa já não é tão presente como aqui no Brasil.

Além disso, propagar o veganismo baseado em produtos ultraprocessados aqui no Brasil é um atraso, pois a população está morrendo pelo que ingere. Temos uma população refém da indústria alimentícia, portanto, o mais adequado para a nossa realidade é lutar contra a exploração animal, estimulando as pessoas a consumirem mais legumes, frutas, vegetais, grãos e cereais.

Aqui no Brasil, diferente da Europa, é necessário ter uma compreensão gigantesca com os povos originários, os indígenas se alimentam de animais, e vivem da caça e da pesca. Nós, que vivemos na cidade e lutamos pelo fim da exploração animal, temos que ter um olhar cuidadoso, e entender cultural e geograficamente como é a relação desses povos com seu alimento.

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Não vamos jamais levar a consciência sobre antiespecismo a esses povos, não faz sentido, eles tem uma relação com os animais completamente diferente da nossa, que é baseada no agronegócio, na pecuária extensiva, na pesca predatória, milhares de animais mortos por minuto. Na Europa, eles provavelmente não vão se preocupar com questões indígenas, vão apenas propagar o veganismo combatendo essa sistematização da exploração de animais.

O estrangeirismo no veganismo brasileiro é outro problema. Se tivermos um discurso homogêneo, da mesma forma que os europeus, ou os estadunidenses, estaremos dialogando apenas com a elite brasileira, e não com o povo.

Aqui no Brasil nós falamos em português, não tem porque utilizar frases e palavras em inglês. Se tratando de uma causa que precisa ser popularizada e chegar ao máximo de pessoas possíveis, ela precisa ser acessível em todos os sentidos. 

A justiça social é muito cara ao povo brasileiro, o veganismo não pode jamais ignorar essa questão. Uma luta que não considera a realidade social, a realidade política, econômica e cultural do Brasil, é uma causa que tende a ficar estacionada na garagem da elite. E se queremos de fato pensar questões ambientais de maneira séria, se queremos diminuir e acabar com essa forma de lidar com os animais, precisamos entender de onde estamos partindo.

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Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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