Por que amamos cães e gatos e comemos outros animais?

Nós humanos sempre protegemos cães e gatos, então por que aceitamos a crueldade contra outras espécies?

16 set 2022 - 05h00
(atualizado em 8/11/2022 às 16h03)
Foto: Gabi Cereja/Vegano Periférico

“Nós amamos cães e comemos vacas não porque os cães e as vacas são fundamentalmente diferentes – ambos têm sentimentos, interesses e consciência - mas sim porque a nossa percepção deles é diferente.” - Melanie Joy

Você já se perguntou o porquê amamos e protegemos alguns animais, como cães e gatos, mas comemos outros, como os porcos, bois e galinhas? E como somos capazes até de tomarmos a secreção mamária das vacas? Nós só paramos para pensar nisso após vinte anos fazendo parte desse consumo.

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Quando ocorreu o acidente que carregava animais para o abate, em uma rodovia em São Paulo, e diversas porcas foram arremessadas ao asfalto, nos surgiu uma questão: temos dois cachorros em casa, amamos muito eles e ficaríamos completamente mal vendo-os sofrer, e qual a diferente dos cachorros de casa para as porcas arremessas do caminhão? A diferença está totalmente na forma como fomos educados a enxergar esses animais, a diferença está na nossa percepção.

Estamos completamente condicionados culturalmente a enxergar alguns animais como alimento e outros como companheiros. Não é natural, normal ou ‘’sempre foi assim, os animais estão aqui para nos servir e está tudo bem’’, pelo contrário, é cultural e essa cultura carrega muito sofrimento, exploração e dor.

Carregamos essa crença desde quando somos muito jovens, somos criados com cães e gatos em casa, criamos empatia, cuidamos, amamos e somos fiéis a eles. Já os outros animais são criados longe de nós, em fazendas, granjas, apenas com o intuito de abate e comercialização, e somos convencidos de que esses animais estão aqui apenas para nos servir.

Foto: CanvaPro

Enquanto estamos dedicando tempo, atenção e recursos com nossos cães e gatos, poupando-os de sofrimentos e angústias — vacas, bois, porcos, galinhas e diversos outros animais estão sendo criados a quilômetros de distância, bem longe dos nossos olhos, e o único contato que vamos ter com esses animais é em formato de carne, em bandejas de isopor ou em vitrines de açougues.

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Quando vamos a uma churrascaria ou quando compramos um pedaço de animal no mercado, quase ninguém tem a percepção de estar comprando o pedaço de um animal criado para ser assassinado, tendo a sua existência limitada a uma produção incessante, como se fossem máquinas.

Nosso consumo é baseado no que aprendemos e acreditamos, é uma dissociação completa, pois não enxergamos toda crueldade por trás de um copo de leite, num pedaço de bife, ou num pedaço de galinha grelhado. Por isso, não somos culpados ou pessoas ruins, nós fomos educados dessa maneira.

Foto: CanvaPro

Apesar disso, é preciso começar a enxergar a realidade e compreender que as nossas ações não são escolhas passivas, elas têm efeitos que podem ser muito prejudiciais. É importante reconhecer que somos condicionados, mas não utilizar isso para se isentar da responsabilidade.

É muito comum escutarmos que consumir animais é natural, pois esse consumo vem desde os primórdios da humanidade — mas consumir animais inseridos dentro de uma cultura civilizada, morando na cidade e comprando em supermercados, não tem nada de natural.

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O hábito de comer animais é pura tradição, que do ponto de vista ético, só é benéfico para nós humanos.  Manter um sistema de exploração animal é totalmente desnecessário e arcaico, ainda mais considerando a quantidade de recursos e alternativas que temos atualmente. Por isso, não são só os pets que merecem respeito, amor e cuidado, todos os animais merecem (considerando a particularidade de cada um).

Há milhares de anos, era impossível falar sobre ética e uma forma mais consciente de se relacionar com o mundo, porém, hoje, considerando apenas as pessoas que não vivem em extrema pobreza e em situação de fome (que infelizmente são muitas), nós temos informação, acesso e alternativas suficientes para pensar em mudanças de hábitos.

Hoje, podemos muito bem largar e repensar o consumo de animais. Além disso, podemos refletir com seriedade na forma como nos relacionamos com os animais e como enxergamos a exploração animal.

Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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