Qual a relação do veganismo com a agricultura familiar?

Há uma relação muito importante entre o veganismo e a agricultura familiar.

16 mar 2023 - 05h00
Agricultura
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Foto: CanvaPro

Para o veganismo popular, debater a exploração animal, sem debater a produção de alimentos e, ainda por cima, incentivando alimentos ultraprocessados, é um equívoco.

É importante propagar o veganismo com base numa transição saudável e que não cause mais danos à saúde da população e ao meio ambiente. Dessa forma, é inevitável não falar sobre agricultura familiar e produção de alimentos orgânicos.

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O veganismo de mercado é uma vertente que acredita que com a popularização de produtos ultraprocessados o veganismo irá crescer. Em contrapartida, nós do movimento 'Vegano Periférico', acreditamos que a popularização do consumo de vegetais, o acesso facilitado a alimentos de verdade e o fim da fome é o melhor caminho para popularizar a causa.

Além de propagarmos o veganismo através de uma ótica mais saudável para a população periférica, temos como princípio debater a exploração ambiental e animal alinhado ao combate à fome. Não podemos debater esses assuntos de forma isolada.

E quando se trata de fome é fundamental mencionar a importância da produção de alimentos, distribuição, acesso e preço. Conforme pesquisa realizada pelo ‘’Estado da Insegurança Alimentar no Mundo’’ e ‘’Estado de Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil – Um Retrato Multidimensional’’, divulgado pela FAO, foi comprovado a importância da agricultura familiar na erradicação da fome e extrema pobreza.

Pois não adianta nada mencionarmos a importância de uma alimentação saudável, mostrar a exploração dos animais, se as pessoas estão com fome e não conseguem nem se alimentar direito. Tudo precisa ser pensado de maneira conjunta.

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Por isso é fundamental o subsídio governamental para o fomento da agricultura familiar, políticas de incentivo à produção de alimentos. O acesso integral à alimentação é o mínimo. Uma pessoa com fome ou insegurança alimentar, não tem condições de raciocinar e pensar em algo além da sua sobrevivência.

Se não pensarmos o veganismo de forma contextualizada, como parte de um todo, iremos propagar essa causa estimulando produtos químicos para a população, e não vamos debater a desigualdade, a fome, a falta de acesso a alimentos saudáveis. O ideal é as pessoas terem condições, se alimentarem bem e ter informação para refletir de maneira consciente sobre seus atos.

De acordo com todo esse contexto, o veganismo popular tem como proposta fomentar e apoiar movimentos sociais como o MST, projetos de hortas comunitárias, pois entende a importância de apoiar iniciativas que estimulem o consumo de alimentos orgânicos, acessíveis e de qualidade para a população.

Além de lutarmos pelo fim da exploração animal, também nos preocupamos muito com a alimentação da maior parte da população e suas condições de acesso.

O ponto principal para responder a pergunta do artigo, é que sem comida de verdade na mesa da população, sem a possibilidade de escolhas verdadeiramente conscientes, não teremos libertação animal e diminuição na devastação ambiental. É importante falar de veganismo e produção de alimentos pela agricultura familiar.

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Além disso, um dos nossos principais inimigos é o agronegócio, que tem como base a pecuária. Pensar numa agricultura que não seja voltada para a produção de grãos para alimentar gado, e sim uma produção de alimentos para alimentar a população, é o ideal.

Enquanto o agronegócio pensa em plantar soja e milho em vastas áreas de monocultura para alimentar gado, a agricultura familiar está preocupada com a produção de alimentos que alimentam o povo, como arroz e feijão, por exemplo, segundo dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 70% de todos os alimentos que chegam até a nossa casa vem da agricultura familiar. 

Sem uma agricultura familiar forte, robusta e com respaldos, não é possível falar sobre mudanças de hábitos ou debater o veganismo de maneira ampla e com participação popular.

Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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