Sabe por que dizem que é caro ser vegano?

O movimento vegano e a alimentação sem nada de origem animal, muitas vezes é associada a alimentos caros e inacessíveis

8 set 2022 - 05h01
Foto: CanvaPro

A alimentação vegana, ou seja, sem nada de origem animal, pode ser sim muito cara, mas também ser extremamente acessível e barata, assim como qualquer forma de se alimentar. Tudo é relativo e depende da forma que nos alimentamos.

Associar o veganismo a um estilo de vida caro tem vários fatores, um deles, e o principal, está relacionado aos produtos expostos em supermercados com o selo ''vegano'', que geralmente são os mais caros e realmente inacessíveis.

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Fazer uma associação imediata do veganismo a produtos industrializados caros é algo muito comum. Sempre que comentamos com alguém que somos veganos, as pessoas falam: ‘’nossa, mas é tão caro, vou precisar comprar isso e aquilo’’.

A palavra vegana está muito associada a produtos veganos devido a muitas vezes ser utilizada em campanhas publicitárias para sofisticar os produtos e vender por um preço muito mais elevado do que deveria, é uma estratégia voltada para um nicho de mercado.

Uma empresa colocar um selo vegano em sua embalagem e triplicar o valor do produto não tem relação nenhuma com o veganismo popular acessível à maioria da população. São coisas completamente diferentes.

Claro que alguns produtos sem nada de origem animal são feitos com matérias-primas mais escassas, menos refinadas, e isso justifica de certa forma um preço mais elevado, como é o exemplo de alguns queijos vegetais e manteigas feitas com óleo de coco ou a base de castanhas.

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Apesar disso, na maior parte, há uma supervalorização apenas por conta da ideia ‘’vegana’’, por ser um produto julgado como mais sustentável, ético, 'ecológico' e saudável, mas isso tudo não passa de uma estética comercial. Além disso, não necessitamos consumir produtos industrializados veganos, é uma opção, que para nós, nunca foi viável.

Um exemplo é uma maionese criada recentemente por uma gigante da indústria do alimento. Chegamos ao supermercado e vimos essa marca famosa de maionese e com o selo ''vegana'' na frente, e com uma aparência visando apenas o nicho e o ''público deste produto''.

Pegamos a maionese de 250g ''vegana'' e estava custando R$8,99, ao lado dela tinha a de 500g tradicional, e estava R$4,99. Estávamos lendo a embalagem para ver se tinha alguma diferença ou uma mudança que justificasse o alto preço e, na verdade, não tinha absolutamente nada de diferente, apenas o ovo foi retirado, ou seja, a receita ficou mais barata e o produto mais caro.

Uma vez, estávamos trocando ideia com um camarada e ele disse: ‘’cara, olha o preço do leite vegetal da marca tal, olha quanto custa aquele hambúrguer, é impossível ser vegano''. Ali, nosso parceiro estava fazendo o que a maioria faz, associando o veganismo com os produtos caros na estação 'fitness' dos supermercados.

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O veganismo é um movimento de libertação animal, não tem uma relação direta com produtos industrializados, não há a necessidade de substituir todos os produtos, comprar ou não é uma opção e não deve ser o foco do movimento.

Ter uma alimentação vegana com base em frutas, vegetais, grãos, cereais, queijos e leites vegetais produzidos em casa é muito mais viável, saudável, barato e acessível do que ser refém da indústria.

Com o tempo, os produtos ditos veganos irão diminuir o preço, pois, o consumo vai aumentar e essa estética atual vai se normalizar. Mas o que percebemos ao longo da nossa caminhada é que temos uma obsessão por produtos industrializados e ultraprocessados, uma dependência que diz muito sobre a forma de se alimentar das populações ocidentais.

É justamente por isso, que no veganismo popular, incentivamos o consumo de alimentos da feira, comidas mais saudáveis de fato, muito mais baratos e acessíveis.

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Além disso, incentivamos a agricultura familiar e o fortalecimento de políticas públicas para o fim da fome e da insegurança alimentar, e não para a popularização de produtos que se dizem veganos.

No veganismo, o consumo de ultraprocessados não deve ser protagonista, ele pode ficar de pano de fundo, como uma opção, não como objetivo. Sem contar que produtos ultraprocessados são péssimos para a saúde, e temos a maior parte da população pobre e periférica que está sofrendo pelo nutricídio. Ao nosso ver, é totalmente incoerente propagar o veganismo com base nesses produtos.

O caminho que conhecemos ao se tornar vegano é o oposto de produtos caros, inviáveis ao bolso do povo brasileiro, principalmente no cenário atual.

Na periferia, era e é quase impossível encontrar hambúrgueres vegetais, queijos vegetais ou qualquer produto ultraprocessado/industrializado vegano, e mesmo que tivéssemos acesso, não teríamos condições financeiras.

Portanto, decidimos que o nosso veganismo seria dentro da nossa realidade, alinhada com as nossas limitações sociais e financeiras, consumindo alimentos vegetais, buscando alimentos acessíveis e presentes em nossa região.

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O que achávamos improvável se tornou uma realidade e nos mostrou que apenas o desconhecimento nos leva a crer que não era possível escolher o que e como queríamos nos alimentar e viver.

Se liga:

É importante destacar que a nossa luta é para termos uma sociedade mais justa. Uma sociedade que as pessoas tenham a possibilidade de escolher comer o que quiserem, seja caro ou barato, mas que tenham consciência de suas escolhas e entendam como esse consumo gera um impacto no meio ambiente, na saúde e na vida de bilhões de animais.

Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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