Ser um influenciador periférico é um grande desafio

Não é fácil ser influenciador digital. Ser influenciador digital e de periferia, é ainda mais difícil.

21 nov 2023 - 11h18
Foto: CanvaPro

Trabalhar apenas com as redes sociais hoje é um sonho da maioria dos jovens. Recentemente, ser jogador de futebol era o sonho da maioria dos garotos, principalmente pobres e periféricos, era o caminho mais ''fácil'' para conseguir dinheiro e prestígio para quem nunca teve oportunidades na vida.

Atualmente, com o avanço da tecnologia e, consequentemente, a popularização do uso do celular, a criação de todo tipo de conteúdo digital tornou-se muito mais comum. Hoje, é muito simples criar conteúdos e postar em redes sociais. Dado a facilidade de compartilhamento, esses conteúdos se espalham sem controle. 

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Essa velocidade e facilidade com retorno imediato começou a mexer com a cabeça dos jovens, e mostrar que trabalhar apenas com produção de conteúdo online é o caminho mais fácil para obter sucesso na vida. Antes era o futebol e o teatro, hoje, o sonho do jovem é estar dando opiniões através de sua conta numa rede social.

E de fato, segundo levantamentos da Inflr, uma adtech especializada em marketing de influência, 75% dos brasileiros e brasileiras desejam ser influenciadores digitais e 64% desejam ser remunerados pelas opiniões e conteúdos divulgados em suas redes sociais.

Em um estudo publicado pela Nielsen mostrou que só no Brasil, pelo menos 500 mil pessoas têm no mínimo 10 mil seguidores nas suas redes sociais, para termos uma noção, isso é equivalente ao número de médicos e passa o número de engenheiros no país.

Parece ser um caminho fácil e prático para ganhar dinheiro e fama, trabalhar menos e ainda ter uma carreira.

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No entanto, a realidade é dura e difícil para quem é periférico ou periférica, e precisa trabalhar muito para ter uma grande influência, porque se não for um perfil completamente engajado, começa totalmente no escuro, sem recursos financeiros e sem apoio.

Além de ter que fazer tudo sozinho, desde criar todos os conteúdos até organizar as finanças, o influenciador periférico tem família e as demandas cotidianas. E muitas vezes precisa estudar e até trabalhar fora para conseguir se manter e pagar as contas.

É necessário fazer diversos sacrifícios, ficar exposto o tempo todo e ainda contar com a incerteza do futuro. Porque as redes sociais mudam o tempo todo e acompanhar essas modificações frenéticas é enlouquecedor. 

Ainda mais para quem não tem uma equipe, não tem estrutura, e uma base minimamente sólida.

Nosso cérebro não está adaptado para mudanças tão drásticas e muito menos com mudanças tecnológicas que mal nos acostumamos.

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Ter que se adaptar ao novo o tempo todo, publicar quase que incessantemente, para quem não tem uma vida regada a privilégios é ainda mais desafiador, e em muitos casos quase impossível conciliar.

Talvez, a maioria das pessoas acredite que ser influenciador digital seja algo fácil, simples e que não demande tanto trabalho. Uma mera ilusão. É uma função desgastante, ainda mais dependendo da realidade social em que a pessoa está inserida.

Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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