Será que é possível ser vegano em qualquer parte do mundo? 

Não é possível falar de mudanças alimentares, abolição da crueldade animal sem falar de cultura, região, clima e especificidades.

2 ago 2023 - 05h00
Foto: CanvaPro

Para um debate realmente amplo, respeitoso e baseado na realidade, é necessário entender como cada população se organiza em termos de sobrevivência. Cada povo possui suas próprias dificuldades, cultura e tradições. 

Abordar assuntos como mudanças de hábitos, alimentação, direitos animais, entre outros relacionados ao veganismo requer muito mais do que um discurso ético, é importante considerar outros aspectos.

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Dependendo da realidade das populações ao redor do mundo, a percepção de crueldade animal e exploração pode variar muito. Cada região e cada povo possui suas especificidades, como o clima, costumes, tradições, educação e, principalmente, a disponibilidade de alimentos e necessidades fisiológicas.

Por exemplo, na Índia as vacas são consideradas sagradas, a disponibilidade de alimentos vegetais é grande e a cultura alimentar é basicamente vegetariana. No Ártico é quase impossível não se alimentar de animais, na Mongólia por conta do clima continental extremo (frio), abolir o consumo animal é mais desafiador do que no Brasil, que é um país tropical, com opções e diversidade de alimentos disponíveis. A culinária mongol é baseada em gordura animal, la

ticínios e carne, como carne de iaque, de cordeiro e de camelo.

Foto: CanvaPro

Em contrapartida, ter uma alimentação vegana no Chade, país africano, pode ser muito fácil. A alimentação do Chade é considerada uma das mais saudáveis do mundo, pois é baseada em frutas e vegetais frescos em abundância e o clima é favorável para a plantação. Então, substituir uma alimentação de origem animal para uma vegana é mais acessível e adequado. Além disso, não há necessidade de utilizar animais para fazer casacos por conta das temperaturas extremas.

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O termo ''vegano'' surgiu na Inglaterra, ou seja, na Europa, derivado do vegetarianismo. A diferença entre os dois termos é que o vegetarianismo diz respeito apenas a alimentação e o veganismo vai além, é uma postura mais política frente a exploração animal. São vários os motivos que fazem uma pessoa ou população adotarem o veganismo, como razões éticas, saúde ou meio ambiente.

No entanto, ser vegano na Alemanha, na França ou até mesmo na Inglaterra é completamente diferente de ser vegano em Yakutsk, na Rússia, uma das cidades mais frias do mundo. Nesta cidade, culturalmente falando, o consumo de animais, como carne de peixe e outros animais, tendem a ser quase que exclusividade, pois a disponibilidade e o consumo de vegetais frescos é baixa.

Além disso, dependendo do quão baixa é a temperatura, a utilização de animais é muito comum e vista como fundamental, porém, pode ser substituída, mas esse hábito está extremamente arraigado nessas regiões. O que não justifica pessoas desfilando com um casaco de raposa em Nova York, nos Estados Unidos.

Cidade de Nova Iorque
Foto: CanvaPro

O grande problema está na industrialização dos animais, no tratamento objetificado dos seres sencientes e o consumo sem necessidade, apenas como opção gastronômica, ou vaidade. Como tratamos os animais como objetos consumíveis, é expressão da cultura ocidental, do capitalismo europeu e norte-americano.

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Para as populações indígenas o debate do veganismo pode não fazer muito sentido, justamente porque a forma com que eles vivem está diretamente ligada com o processo natural das coisas, não há vaidade em explorar animais, não é por capricho ou lucro, mas sim subsistência e necessidade.

O que difere muito de uma família de classe média na cidade de São Paulo, ou uma família classe média alta em Copacabana, no Rio de Janeiro, famílias que vivem uma vida completamente programada com diversas opções de consumo e compram carne no açougue, usam peles de animais porque é bonito e estiloso, compram carros com banco de couro porque é mais chique, sentem a necessidade estética de utilizar batons com cores exóticas que dependem de testagem em animais.

A economia capitalista e as dependências das populações urbanas em determinados países se apropriaram dos animais e, assim, se tornaram responsáveis pela morte de trilhões de seres sencientes anualmente.

O especismo parte do ponto em que a relação com os animais se torna injusta e completamente desnecessária, como manter animais presos para serem abatidos e comercializados, usados em testes de cosméticos ou usado em vestimentas, carro e para entretenimento.

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Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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