Só julgamos o veganismo porque nos falta informação

Questionar os hábitos que fomos condicionados e a forma que enxergamos o mundo é o que realmente transforma o mundo.

6 mar 2023 - 12h40
Foto: VeganoPeriférico

Quando nascemos, as pessoas à nossa volta fazem de tudo para garantir a nossa sobrevivência, nos manter vivos, para crescermos de forma saudável. E em praticamente todas às vezes, o alimento, a tradição, as crenças, as ideologias, como enxergamos o mundo, tudo isso é passado para nós como se fosse algo extremamente natural, único e irrefutável.

Aproximadamente 90% do que sabemos hoje, algum adulto nos ensinou no passado, e, como crescemos com isso e desde recém-nascidos temos isso como espelho, exemplos, é quase impossível chegar a um momento em que vamos olhar para tudo isso e falar "Não! Não é isso que eu quero, não é isso que eu vou fazer, e não vou acreditar naquilo também", porque essa educação já está cristalizada e já formou a nossa visão de mundo e os nossos hábitos.

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E o consumo de carne, leite, ovos e derivados sempre foi unânime na sociedade, e em todos os lugares, na televisão, no rádio, em outdoors, novelas, séries, o consumo de animais é comum e normalizado.

Para quem nasceu e cresceu sendo estimulado a consumir carne, leite, ovos e derivados, e a enxergar os animais como coisas (95% da população), questionar esse hábito parece impossível.

Por isso, olhamos para o movimento vegano como algo extremamente distante da nossa realidade ou coisa de ''um, ou outro'', porque de fato, o veganismo propõe o fim da exploração animal em larga escala, o que implica transformarmos a base da nossa educação, modificarmos a forma de comer, beber, se vestir e viver.

Nós, que vamos completar quase uma década sem nada de origem animal, nascemos e crescemos em uma periferia, com dificuldades financeiras e familiares (como já falamos várias vezes), nunca escutamos falar sobre vegetarianismo e muito menos veganismo na nossa infância. 

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Aprendemos que ter o que comer é ter o congelador repleto de pedaços de animais congelados, e quanto mais derivados de animais, mais fartura.

Há quase dez anos, quando vimos um caminhão tombado com porcos no Rodoanel, alterou completamente a nossa forma de enxergar os pedaços de animais e como lidamos com eles. 

De forma prática, decidimos parar de consumir carne (pois para produzir carnes é necessário aprisionar, inseminar, torturar e assassinar animais inocentes), leite, ovos e derivados (pois para produzir lácteos e ovos, é necessário confinar, inseminar, explorar e assassinar animais inocentes).

A partir disso, pensamos, animais sentem, sofrem e cada pedaço de carne que eu compro, cada copo de leite que eu tomo e cada produto de origem animal que eu uso significa que estou contribuindo com a exploração de animais.

Pode parecer muito simples o que nos fez parar de contribuir com o sofrimento e a exploração de animais, mas é essa simplicidade e praticidade que tentamos traduzir com o nosso trabalho, porque é muito menos complexo do que parece ser, devido a forma como fomos ensinados.

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Se tem algo que devemos questionar é a forma como fomos educados e não o veganismo ou novos hábitos, até porque o mundo mudou, e tudo que fica parado atrofia.

Pega a visão:

A forma como nossos pais, avós, tios entre outros nos educaram não está errada, e por isso não deve ser julgada ou condenada, essa foi a forma em que eles aprenderam e apenas nos repassaram como se fosse a melhor forma para nós, seja para nosso prazer e alegria, quanto para a nossa nutrição e educação, eles nunca fizeram por mal.

Apenas entendemos que hábitos, cultura e comportamentos podem e devem ser questionados e se possível ultrapassados e alterados dentro das nossas possibilidades e respeitando os nossos limites, financeiros, intelectuais e sociais.

Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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