Ao longo da nossa caminhada, uma das abordagens mais comuns que recebemos é essa: ''Oi! Tenho uma dúvida, meu avô tem galinhas e uma vaca no sítio dele, e lá elas não são maltratadas, é errado consumir o leite e os ovos delas?''
Bom, não estamos aqui para dizer o que é certo e errado. Nós tivemos contato com a exploração animal em grande escala e de pronto discordamos totalmente com as práticas padrões da indústria, e com isso abandonamos todos os produtos oriundos de sofrimento animal.
Então, vamos a essa dúvida comum. Se no mundo só existissem seus avós, suas tias e seus parentes que vivem plantando e criando seus animais para a própria sobrevivência, não teria porque existirem ativistas que lutam pelo fim da exploração animal, seria inútil.
Apesar de muitos discordarem até dessa forma de criação animal, considerando tais práticas especistas, isso não representa nem 5% de todos os produtos de origem animal comercializados no mundo.
Hoje, a maior parte dos produtos que chegam aos supermercados são de fazendas industriais, e não de pequenos produtores que vivem em uma casinha no interior do país. Essa é a imagem que tentam nos vender, mas a realidade é totalmente diferente.
E mesmo que viessem de pequenos produtores, existe exploração. Independente de como, criar e comercializar animais para gerar lucros é uma atitude especista e ultrapassada, que olha para as demais espécies apenas como produtos e objetos.
Mundialmente, nós matamos aproximadamente 200 milhões de animais por dia. Algo próximo de 70 bilhões de animais por ano, isso não tem nenhuma relação com a criação de animais no quintal de nossos avós. Muito pelo contrário, só é possível criar e matar milhões de animais por dia de forma industrial.
Um mundo onde o pequeno produtor vai fornecer a maior parte dos alimentos de origem animal é impossível. Até porque, se esse pequeno produtor começar a ter uma demanda maior, aqueles animais que estavam ''livres'' serão jogados em galpões, baias de ferro com uma dieta hipercalórica, para engordar mais rápido e ocupar menos espaço, otimizando a produção e tornando-a mais viável e lucrativa.
O real problema são os grandes produtores de carne, que tratam animais como coisas e objetos em grande escala, 99% de toda a produção pertence a gigantes do agronegócio, onde os animais são tratados apenas como máquinas e produtos.
O avanço na tecnologia possibilitou aos humanos explorar cada vez mais animais e lucrar cada vez mais com essas práticas.
É necessário entender que a produção de carne, leite e ovos nunca será como era há centenas de anos, onde os animais viviam livremente e cada região tinha seu pequeno fornecedor.
Passou da hora de enxergarmos o sofrimento e a crueldade animal, o aprisionamento de seres inocentes e a exploração desenfreada em grandes fazendas para gerar alguns pedaços de carne. Somos seres tão empáticos e compassivos, o que nos leva a fechar os olhos para tais atrocidades?
O quintal dos nossos parentes são pequenas exceções, e não parte do problema. Precisamos refletir sobre o nosso consumo, repensar a forma em que nos alimentamos e as possibilidades infinitas de viver sem utilizar produto animal, já que quase 90% da população vive em áreas urbanas e não depende da criação de animais para sobreviver.
Se liga:
Se você acredita que um selo de orgânico resolve os problemas, porque a imagem que vendem se assemelha a uma criação de fundo de quintal, é bom se atentar a isso: O termo orgânico é muito maleável. Segundo as leis da União Europeia, uma galinha orgânica pode dividir um metro quadrado com outras 5. Isto está bem longe de animais livres ou uma fazenda feliz.
Isso não é diferente no Brasil, aqui temos um sistema conhecido como 'Cage Free', que de 'Free' (livre) não tem nada, como mostrou uma matéria realizada pelo Globo Rural no dia 22 de maio de 2022. Centenas de galinhas amontoadas sem espaço em um galpão. Apesar da apresentadora chamar a granja de moderna, aquilo deveria ser proibido.
Pega a visão:
Essa publicação considera que uma pessoa só consegue mudar um hábito alimentar e ter consciência do que está consumindo se tiver acesso ao básico. Se a pessoa não consegue se alimentar de forma alguma, como é a realidade de 33 milhões de brasileiros hoje, ela deve comer o que tiver disponível. Para abandonar hábitos, modificar a alimentação ou o estilo de vida, qualquer indivíduo precisa estar com a sobrevivência minimamente garantida.
Fontes:
FAO, Faostat, 2016
The Commission Of The European Communities, 2008