Rap salva: Cantor de Salvador conta sua história com o som

É de suma importância que as nossas favelas sejam vistas e abraçadas, existem muitos talentos que são desperdiçados, diz Andrad

3 fev 2022 - 08h00
Rapper Andrad em gravação de clipe
Rapper Andrad em gravação de clipe
Foto: Jr Black

Considerado não só como instrumento de transformação social, o rap é uma das principais manifestações da cultura negra, que traz consigo, além do entretenimento musical, histórias de vida que são capazes de conectar com todas as camadas sociais, tornando-se presente na formação indentitária do jovem.

Hoje, com sua capacidade de renovação, o rap nacional faz parte do dia a dia de uma parcela da população, tirando da invisibilidade personagens e histórias da sociedade que por muitos anos viveram no silêncio, uma vez que o ritmo foi associado à criminalidade e marginalização.

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Em Salvador, palco da diversidade cultural, o rap é presente nas ruas das suas diversas favelas. No bairro do Curuzu, Gabriel de Jesus Pereira Andrade, de 25 anos, cantor e profissional de marketing, busca através da sua arte musical transmitir seu entendimento sobre cultura, a importância dela para a comunidade, e como ela é essencial na formação de jovens e adolescentes.

“Entendo que a cultura é um desenvolvimento da sociedade, suas tradições, crenças, ideologias, cada lugar tem a sua cultura e costume, principalmente dentro das comunidades, que é uma forma de ensinar e educar as crianças, mostrando como a cultura é essencial em nossas vidas. Cultura é arte, diversidade, educação, bons costumes, cultura vai muito além do que imaginamos”, declara o artista Andrad.

Como muitos artistas, Andrad foi apresentado a música ainda quando criança pela sua mãe, que cantava na igreja e fazia parte do coral. Quando adolescente, o primo que era DJ lhe apresentou ao rap, que de certa forma acabou influenciando a gostar desse gênero musical. Com letras escritas e guardadas, Andrad passou por um processo de amadurecimento, não só como pessoa, mas também como artista, ganhando coragem para começar a divulgar seus trabalhos.

“Sempre escrevia umas músicas, mas sentia que ainda não estava preparado para lançar, até que em 2018, criei coragem e decidi botar as caras no game. Fui convidado por um amigo (Felipe Quiron) para fazer parte de uma música que se chama Atemporal, abordando um tema bastante discutido – política e descriminação – e de lá para cá não parei mais, porque sei que uma hora o meu momento irá chegar” explica o cantor.

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Historicamente, o rap é associado a criminalidade, suas letras que falam sobre sentimento, vivências, história de vida e superação por muitos anos foram silenciadas. Há mais de 40 anos, artistas de diversas gerações insistem e resistem, de forma a combater o preconceito enraizado nesse ritmo que também é ligado a questões raciais. Com o avanço da tecnologia e o surgimento de selos e produtoras liderados por pessoas pretas, o rap hoje, consegue chegar a lugares que jamais imagináveis.

Ele vai muito além de um produto audível e segundo Andrad, quem associa o rap a criminalidade, nunca parou para ouvir com atenção uma letra, “as pessoas que associam o rap com a criminalidade, são as pessoas que nunca pararam um minuto da sua vida para escutar o que nós temos a dizer através do R.A.P, que significa ritmo e poesia. E para mim, a única forma que temos de combater esse pensamento, é dando vida as nossas composições, que é um grito de liberdade, de tentar ajudar e tirar aqueles que estão no mundo crime, mostrar que através da arte podemos libertar mentes”.

Capa do clipe Ludmilla, do rapper Andrad
Foto: Jr Black

Tendo Deus, mãe, familiares, amigos e suas vivências como inspirações, Andrade já tem alguns sons circulando pelas redes. Em 2018, estreou com a música “atemporal” uma crítica social em parceria com Quirion, depois partiu para algo mais romântico denominado de “Paris”, juntamente com Berot, e finalmente “Ludmilla”, parceria com Pguia e Sammuel que fez tanto sucesso que chegou até a cantora, que a compartilhou em suas redes sociais. No youtube, o clipe já contabiliza mais de 17 mil visualizações. E logo após esse sucesso, veio a música “Sem ré”.

O Seu novo som, intitulado “Mudanças” vem com uma pegada forte, com direito a vídeo clipe, com cenas gravadas no próprio bairro onde nasceu, abordando a ideia de recomeço, de mudança de vida e a volta por cima.

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 ‘’Mudanças’’ é como um grito de recomeço.  Para mim, é muito especial pelo fato de ser o meu primeiro som solo, que aborda muito a vontade da mudança de vida. O som retrata o desejo de dar a volta por cima, dar uma vida boa para a família, de ter força de vontade para ir em busca dos objetivos, sem ligar para o que os outros falam, é sobre focar no trabalho com humildade e perseverança que as coisas iram acontecer naturalmente. É uma música com bastante energia e espero que todos vocês gostem e se identifiquem”, revela Andrade.

O lançamento do videoclipe está previsto para fevereiro, produzido por Júnior Black, considerado pelo cantor, um dos melhores Filmakers de Salvador.

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