“Apresentar enredos africanos é uma boa oportunidade de reafirmar a diversidade e a relevância das culturas que ajudaram a formar o Brasil. Um assunto tão pouco ensinado nas escolas, apesar de exibido na grande mídia, precisa ser revisto sempre”, defende Marco Aurélio Gonçalves, um dos fundadores da Acadêmicos de Venda Nova, escola de samba formada por integrantes de dezenas de bairro periféricos de Belo Horizonte.
O sambista tem razão: dez anos após a lei que obrigou o ensino de cultura e história africana nas escolas, movimentos sociais estimam que nem dez por cento dos municípios brasileiros cumprem a determinação. Por isso, a Acadêmicos de Venda Nova vai exaltar os grandes impérios africanos.
Trajetória no samba
Fundado em 2004 por um grupo de familiares, a Acadêmicos desfilou pela primeira vez no ano seguinte, conquistando e vice-campeonato em 2005 e 2006.
Durante a trajetória da Escola, instituições e personagens importantes brilharam nos enredos sobre questões históricas, ambientais e sociais, como Milton Nascimento, SOS Planeta Terra e até o queijo de Minas Gerais.
Uma das novidades é que este ano a Venda Nova terá pela primeira vez a corte da bateria “Venenosa”, composta pelo Rei Léo de Jesus, pela Rainha Raíssa Medeiros e a madrinha Natália Deodato, ex BBB22.
Natália participou da Acadêmicos como integrante da “Ala das Musas” em 2020. O presidente da Escola, Kiko Gonçalves, acredita que a presença dela vai ajudar na retomada do Carnaval de passarela de BH, após dois anos sem a festa.
Rainha do samba
Venda Nova sempre promoveu a diversidade em seus carnavais. Efigênia Maria, a Fify, atual Rainha do Carnaval de Belo Horizonte, ficou em terceiro lugar na corte em 2020 e conquistou o reinado na Acadêmicos de Venda Nova no mesmo ano.
Para 2023, ela vai disputar a corte, mas não quer defender o título na Venda Nova. “Acredito que, se é bom, várias meninas merecem passar pela experiência”, explica. Mas para quem ela vai torcer?
Sem se comprometer, a resposta é que todas as escolas são vencedoras. Mas, como se trata de um concurso, a vitória deve ser da que mais merecer.
Rei do Carnaval
Carnavalesco que faz parte da história da Venda Nova desde a fundação, Genildo Cajá, desfilou na bateria, foi diretor de harmonia, diretor de carnaval e vice-presidente. Participou de campeonatos e ganhou diversos prêmios.
Cajá tem uma rica bagagem nas passarelas de BH. Começou a trajetória no Bloco Caricato Xuxu Beleza, nos anos 90. Depois foi diretor do Bloco Caricato Serviços Estrelas do Morro do Papagaio. Antes disso, em 2014, recebeu o convite do sambista Serginho Beagá para participar da Escola Império da Nova Era.
Em 2017, fundou a Raio de Sol, que estreou na avenida em 2019, vencendo o Carnaval. “Fomos campeões com o enredo homenageando a jornalista e ativista social Diva Moreira”, relembra. Genildo não consegue ficar de fora das festividades e leva a sério o próprio lema: o samba não para.
Enredo de 2023
Léo de Jesus reforça que o atual tema da Venda Nova é bem desafiador e promete um grande desfile. “Estamos desfilando sem patrocínio, na cara e coragem, como sempre, como manda o nosso símbolo maior, que é a Fênix: vamos renascer das cinzas, sacudir e dar a volta por cima”.
Os desfiles das oito Escolas de BH serão transmitidos ao vivo, por ordem de sorteio. A Acadêmicos de Venda Nova será a última a se apresentar, no dia 21 de fevereiro, a partir das 19 horas, na região centro-sul.