Em julho, a 3ª temporada de "Sintonia", que traz Bruna Mascarenhas no papel de Rita, chegou ao catálogo da Netflix. Como já era de se esperar, a trama nacional que conquistou o público, acertou em cheio (mais uma vez) ao apostar em uma narrativa que engloba o funk, o crime e a fé.
Por aproximar e se conectar com a realidade de milhares de jovens, a obra se consagrou como a produção brasileira com maior público na história da Netflix. Ao longo de seis episódios, o terceiro ano da série apresenta um trio de protagonistas mais maduro e responsável, que não mede esforços para manter a vida pessoal e a carreira sob os trilhos.
Especialmente para Rita, as coisas foram mais surpreendentes. Além de se apoiar ainda mais na fé, a personagem retornou com um viés político. No entanto, logo percebeu que não estava disposta a mesclar religião com palanque.
À todateen, Bruna reforçou a importância do título como forma de incentivar e mostrar o potencial de mudança aos jovens, especialmente em um ano eleitoral. "É importante ver a Rita, que é carismática e tem a empatia das pessoas, se questionando sobre seu posicionamento político e social", conta a atriz.
"Quando ela diz que Jesus não era um general, mas sim um rebelde, que ele foi perseguido pelos poderosos do seu tempo e enfrentou todos eles, e ela faz um paralelo com o que a comunidade enfrenta, é forte demais. E é uma baita reflexão sobre esse sistema opressor e muitas vezes injusto", acrescenta.
"E além disso, ela te propõe meditar a respeito, e não a concordar com ela. Essa forma de passar conhecimento e sua opinião também é importante, estamos muito radicais, principalmente se falando de política. E num ano tão decisivo como esse, trazer de uma forma leve esses assuntos e questionamentos, é uma honra, sinto que estamos contribuindo de certa forma dentro da sociedade", afirma.
Em "Sintonia", da Netflix, Bruna Mascarenhas estrela como Rita - Crédito: Thiago de Lucena | Beleza: Vivi Gonzo | Styling: Andre de Moraes
Confira a entrevista completa com a Bruna Mascarenhas:
Como você enxerga a importância de ter uma produção brasileira que retrata tantas situações cotidianas fazendo tamanho sucesso no streaming?
A gente fala de um recorte social que desde sempre é marginalizado e mais difícil de vermos na tela. É o nosso povo, e essas identidades e corpos precisam ser ocupados cada vez mais. Recebo muitas mensagens de pessoas que reconhecem suas histórias, as de seus amigos, familiares, vizinhos. Acho que, num momento de trevas, você se ver na tela, se reconhecer e saber que milhões de pessoas estão podendo ter a oportunidade de conhecer a sua história também, é quase um grito de resistência.
A série também quebra muitos estereótipos de como geralmente é representado um crente, um traficante, um MC e o universo que os rodeia. Com certeza isso me impactou! Há pessoas por trás dessas definições sociais. Pessoas que amam, que erram, que tem família e sonhos. Os personagens são muito humanos, independentemente de suas escolhas e caminhadas.
Especificamente para essa nova leva de episódios, você comentou que se inspirou no pastor Paulo Vieira, certo? Como foi isso? Como as ideias dele e da Rita se conectam?
"Jesus não era um general, Ele era antes de mais nada um rebelde". A Rita fala e acredita nisso. Se Ele estivesse em carne e osso comungando com a gente hoje em dia, ele seria hostilizado por muitos que se dizem temente a Deus. Ele estaria ao lado dos marginalizados, dos esquecidos, dos que estão à margem, dos violentados, dos agredidos. Existem muitas incoerências hoje em dia (sempre existiram, né) as pessoas repetem "ame ao próximo como a ti mesmo", mas tratam o próximo como se ele fosse uma aberração, com falta de respeito, de humanidade e de amor. E acho que esse Deus que o Paulo Vieira fala é o Deus que a Rita acredita.
A Rita é uma personagem com um espírito justiceiro muito forte e que não tem medo de lutar pelo que quer. Outras personagens de produções diferentes te ajudaram a inspirar para fazer a personagem? Se sim, quais?
Acho que não me baseei em nenhum personagem específico. Acho que hoje, enxergando o todo, acredito que a maior inspiração é a caminhada de Jesus. Esse Jesus que desafiou os poderosos do seu tempo em nome de justiça, de paz e de amor.
Durante as temporadas, a gente consegue ver uma evolução muito grande dos personagens. Tanto na composição pessoal quanto no lado profissional, como você sente que cresceu com o papel?
A Rita está muito madura. É lindo ver esse processo. Lembrar da primeira temporada e fazer uma retrospectiva. Porque nós atores também amadurecemos juntos. Os erros e as escolhas que fazemos vão nos transformando no que somos, e esse ciclo não para.
Levando em consideração a pouca quantidade de produções brasileiras que chegam onde "Sintonia" chegou, você sente uma responsabilidade com o projeto para o público jovem?
Acho que a série já fala de um recorte social que por si só é extremamente importante de ser falado e ser mais visto nas telas. E fico feliz de poder contribuir para uma série que tem uma linguagem jovem, sabe ser leve, mas também sabe levantar questões importantes de serem refletidas, e sem forçar a barra do que deve ser.
Agora deixando um pouquinho a Rita de lado, sabemos que a Bruna é feminista assumida, né? Teve algum momento em que você se sentiu ou foi taxada de muito radical? Como faz para equilibrar as demandas do movimento e viver?
No início dessa minha descoberta do que era o feminismo, eu de fato fiquei muito radical. Era adolescente e mesmo enquanto estava na faculdade. Querendo ou não, foi quando esse assunto começou a vir à tona com mais força aqui no Brasil. Mas vejo claramente que fez parte do meu processo. O processo de você enxergar as injustiças vividas por nossas ancestrais, até a gente conseguir estar aqui hoje e as questões atuais também, eu não conseguia me expressar da melhor forma porque tinha muita raiva. Não conseguia entender certas falas da minha mãe, por exemplo, sempre acabava brigando.
Hoje em dia tento botar tudo na balança. Luto por um mundo mais justo, mais igualitário, mas também aprendo a escolher minhas lutas, as que valem a pena. Consigo respeitar hoje em dia a opinião da minha avó, da minha mãe, sei que tem coisas que são difíceis de serem mudadas e sei que brigar e parar de falar não é a solução, e só enfraquece. Principalmente por elas serem mulheres.
Acho que o lance é você mudar suas próprias condutas, entender o que você acredita, e o que, mesmo acreditando, você está deixando de fazer na prática. Esse é o caminho! Além de buscar referências em filmes, documentários, livros, entrevistas e nas histórias das mulheres que nos cercam.
Quando estamos falando de estilo e visual, o que não falta no seu armário? Aliás, você acha que o seu estilo influenciou a personagem ou vice versa? Trocaria de guarda-roupa com a Rita? rs.
Jamais (risos). A Rita sempre teve um estilo muito diferente do meu, tanto antes de se converter e principalmente depois. Mas o que não pode faltar no meu armário é calça jeans e casaco, eu amo. E morando em São Paulo, casaco é obrigatório (risos).
Você tem alguma dica de beleza ou autoamor para compartilhar com as nossas leitoras?
Olha, uma dica boa e muito gostosa de fazer é colocar uma música alta, tomar um vinho, uma cerveja ou o que vocês curtirem, e mandar brasa. É tão gostoso ter momentos de felicidade sozinha. Sair pra comer, ir ao cinema. Eu sei que muita gente não tem esse hábito e acho até estranho, mas experimentem. Ser feliz sozinha é importante pra gente se conhecer mais e poder estar cada vez mais inteira quando se relacionar com outras pessoas.
E para finalizar, você pode nos falar quais são seus projetos futuros? O que esperar da Bruna nesse segundo semestre do ano?
No momento estou aqui no Rio de Janeiro, já gravando um projeto novo. Uma personagem muito forte e muito honesta. Está sendo incrível o processo. Logo depois emendo num outro projeto e também volto a ensaiar minha peça, que estou fazendo com o Christian Malheiros, dirigido pelo Marco Bravo. Um segundo semestre de muitas possibilidades e desafios, do jeitinho que eu gosto.