Influenciado pelos comediantes americanos, o stand up chegou ao Brasil há pouco mais de 10 anos. Mas, em Salvador, a cena vive sua melhor fase só agora, através de artistas periféricos que subiram aos palcos falando das suas realidades, popularizaram o movimento também nas periferias e conseguiram realizar um festival de stand up no principal teatro da Bahia, o TCA (Teatro Castro Alves).
“A comédia stand up aqui ela foi trazida e foi por muito tempo vendida pra classe média e apenas para classe média. Eu lembro que quando eu comecei a fazer em 2011, era uma época em que qualquer proposta que se fazia de levar um show para uma região periférica da cidade a resposta que a maioria dos comediantes da época falavam era: ‘comédia não é pra pobre porque eles não entendem as piadas’”, disse o comediante, Tiago Banha, 29 anos.
O Bloco de Notas é um evento que acontece desde 2018, conhecido por lotar as casas onde passam, a noite de piadas envolve testes e reformulação de textos. Neste ano, o show se tornou o Festival Bloco de Notas e reuniu mais de 10 comediantes com piadas já testadas e aprovadas, no Teatro Castro Alves.
“Muita gente da cidade abraçou, a gente produz tudo com recursos próprios e creio que isso nos deu a ousadia de pensar num festival de comédia para juntar de fato todo mundo; e a coragem pra quando nos foi oferecida essa pauta no TCA a gente pensar que era possível fazer sim e fizemos”, disse o comediante idealizador do Bloco de Notas, Matheus Buente.
Buente é também professor de história, dessa forma, utiliza dos shows para ensinar sobre fatos históricos, e nas salas de aula utiliza a comédia para “ajudar a manter a atenção dos alunos na aula”. E considera ainda que numa escola da prefeitura como a que trabalha, na Cidade Baixa, com pouco recurso didático, isso é muito importante.
A realidade da periferia é o tema principal dos textos de Tiago Banha. “Porque eu vivo, eu estou inserido na periferia de Salvador, como também o público que de certa forma me acompanha, né? É a galera que acompanha meu trabalho de fato, é a galera que vai me assistir no teatro, no bar, então a periferia tem um valor absurdo em toda a construção artística e profissional que eu faço”, disse o comediante.
A maquiadora Andrea Luiza, 25 anos, conta que se sente representada nas piadas mesmo quando os artistas tratam de temas sociais delicados. E acrescenta que seus humoristas favoritos são Matheus Buente e Tiago Banha, mas também acompanha João Pimenta e Jhordan Matheus. “Eu gosto bastante que eles não fazem nenhuma piada homofóbica, racista, são piadas respeitosas, que a gente percebe que estão nos nossos grupos de WhatsApp e sendo compartilhados", explicou Luiza.
Sobre o crescimento da cena de stand up na Bahia, os artistas ressaltam o esforço e o trabalho independente para alcançar espaços e colocar os shows nas ruas. E além dos nomes já citados, a cena conta também com nomes como Juninho Brandão, Renata Laurentino, Daniel Ferreira, Danrlei Carvalho, Samuel Belmonte, Lucas Dumas, Marcos Musse, Aline França, Brida Aragão e outros.
“A Cena hoje existe efetivamente com vários shows acontecendo em vários bairros, já conseguiu produzir nomes nacionais como Jhordan Matheus e João Pimenta que rodam o país com seus shows. João hoje faz parte do elenco do Porta dos Fundos e nosso Grupo, o Vatapá Comedy Club, que reúne nós três mais Tiago Banha tem lotado todos os shows que faz na cidade”, comemorou Matheus Buente.
Na opinião da admiradora Luiza, as redes sociais foram fundamentais para furar a bolha e alcançar mais pessoas. “Eles estão postando bastante, então está fazendo com que as pessoas fiquem curiosas e vão pra assistir o stand up”, disse ela.
De acordo com Banha, hoje o movimento vive o melhor momento. “Já passamos por situações terríveis e desconfortáveis, talvez até humilhantes, mas hoje nós vivemos o nosso melhor momento, acredito que talvez a Bahia esteja, ou melhor, Salvador esteja entre as três melhores cenas de stand up do Brasil. Se não for a melhor”, pontuou o artista.