Para os entrevistados pelo Visão do Corre, a novela ajuda a descontruir a imagem negativa. O cotidiano da produção de fantasias, materiais utilizados, dificuldades e conquistas, estariam sendo retratadas com fidelidade, como nos incêndios em barracões.
Em 2013, Welton Jorge Pereira, o Parrudo, recebeu um telefonema na hora do almoço: o barracão de bate-bola liderado por ele, em Madureira, estava pegando fogo. Correu para o Morro do Cajueiro. O acesso era complicado, não chegou bombeiro, a comunidade usou água de um poço, mas não teve jeito.
“Perdemos tudo, né? Teve que recomeçar do zero. Perdemos as casacas, o macacão, a lycra. A única coisa que ficou foi a máscara, que estava na costureira”, conta Parrudo. Era fevereiro, o Carnaval batia à porta.
“Em duas semanas e meia, colocamos tudo no lugar, com a permissão de Deus. Foi uma superação”, conta o cabeça de turma, que acompanha a novela Volta por Cima na internet, em trechos postados nas redes sociais e nos grupos de bate-bola.
A cena do incêndio no barracão da Dragão Suburbano, uma turma de bate-bola, ou Clóvis, como também são chamados, emocionou Parrudo, embora não tenha sido inspirada diretamente no episódio que enfrentou. E nem precisava.
“Achei sensacional, nunca vi uma novela falando da nossa cultura, daquilo que eu gosto. Me emocionei muito com o vídeo da cena com o bate-bola pegando fogo. Isso não favorece a mim, não; favorece o nosso carnaval” – Parrudo, Turma de Madureira.
Na ficção, a comunidade ajuda a recuperar o barracão, cujo incêndio começou num curto-circuito, o mesmo motivo do fogo em Madureira, com prejuízo de R$ 50 mil. Parrudo fez empréstimo no banco, com amigos, recebeu doações.
O que os bate-bolas acham de Volta por Cima?
Vanessa Amorim, 31 anos, líder das Brilhetes de Anchieta, trabalhou na produção de Volta por Cima. Ela diz que “a novela está retratando de uma maneira muito clara a cultura do bate-bola, valorizando as costureiras, os tecidos, e mostrando o perrengue que os cabeças de turmas passam, como foi a cena do barracão pegando fogo”.
Entre os praticantes de bate-bola ouvidos pelo Visão do Corre, cabeças de turma, ou seja, lideranças, a avaliação da novela Volta por Cima é positiva. Elogiam a ausência de violência, sempre associada. E vários citam incêndios.
“Estou muito feliz por a Globo estar ajudando as turmas, é nossa cultura, aparece para todo mundo e as pessoas podem ver como é nosso dia a dia dentro dos barracões, todo mundo pegado, junto”, diz Gil de Almeida França, 34 anos, da turma Sou Praieiro.
Novela pode combater o preconceito
As turmas de bate-bola são tradicionais nos subúrbios cariocas, e muitas aparecem associadas à violência. Há tentativas de mudar essa imagem. Um desses interessados militantes da cultura é Hugo Soares, presidente da Associação Cultural Asfalto Verde e produtor audiovisual.
“Tive o prazer de entrevistar mais de cem cabeças de turma e diariamente escuto histórias de superação como a Globo mostra, com pessoas que fizeram parte direta e indiretamente da novela”, conta Hugo.
Phillip da Silveira Fraga, o PH, da turma Esperança de Santíssimo, no bairro São Vitor, tem opinião parecida. “A novela irá ajudar a mudar a opinião de muitas pessoas. Tem um certo preconceito com relação a esta bela arte, criada sobre o tecido chamado de cetim, lamê, TNT, lona gliterada, entre outros”, enumera PH.