Conheça o artista do Grajaú que já expôs trabalhos na Europa

Grafiteiro Alexandre Puga começou a desenhar durante a infância e atualmente luta para transformar o lugar onde mora e trazer referências

13 abr 2023 - 05h00
Puga conta que a arte sempre está presente na vida dele desde a infância
Puga conta que a arte sempre está presente na vida dele desde a infância
Foto: Reprodução

“O grafite é a arte mais democrática que tem: está nos museus e nas ruas”, define o artista Alexandre Puga, 37. O trabalho dele está registrado em diferentes muros do Grajaú, na zona sul de São Paulo, com personagens que, em sua maioria, são jovens e negros.

Alexandre cresceu no bairro Parque das Cerejeiras, no Jardim Ângela, também na zona sul da capital. Ele conta que começou a rabiscar antes mesmo de aprender a falar. “[Quando criança] eu já tinha contato com os desenhos. Muito mais tarde veio a fala, tanto que fiz fonoaudiologia por muito tempo, porque era gago”, diz. 

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O nome artístico surgiu durante a escola por ser o mais baixo da turma, à época era chamado de “Puguinha” (sic). O apelido ficou tão marcado que, mesmo quando se tornou mais alto do que os colegas, continuou a usá-lo sem colocar no diminutivo.

Quando se muda para o distrito do Grajaú, no início dos 2000, Puga se familiariza com o grafite e passa a perceber a representatividade das artes plásticas dentro do movimento hip hop – que eram feitas por militantes da arte de rua com quem fez amizade.

O artista já teve o trabalho exposto na Alemanha e na França, no continente europeu
Foto: Reprodução

Conhece também outra expressão artística que também lhe chama a atenção: a pichação. “Ela utiliza a cidade como ferramenta de comunicação. Começo a me aventurar dali. Comprei a primeira latinha para pintar a bicicleta e risquei o corredor de casa. Assim ela se tornou uma das principais ferramentas do meu ofício”, comenta.

Além de grafiteiro, Puga também foi professor de artes ao longo de 12 anos. Uma das motivações para que ele ministrasse as aulas era tornar a matéria mais próxima da realidade dos adolescentes da periferia.

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“Comecei dando aulas voluntárias no escola Washington Alves Natel, onde estudei o ensino médio. Já trabalhava com esculturas, pinturas e fazia grafite, mas precisava do diploma para dar as aulas”, conta.

Decide então entrar na Famec (Faculdade de Educação e Cultura Montessori) no curso de artes visuais, em 2006. No trajeto de duas horas de ônibus e trem para chegar ao centro da capital, ele passa a observar como a cidade de São Paulo é cheia de diversas intervenções artísticas.

Puga mantém o rosto escondido nas fotos por questões de segurança
Foto: Reprodução

Um mundo de possibilidades

Em 2012, decide fazer pós-graduação em história da arte na FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado) para focar no trabalho como artista. As aulas o motivaram a viajar e entender seu lugar no mundo.

“Era um universo muito diferente do que havia estudado [na graduação], porque tinham pessoas de classes sociais muito superiores. Saí dali com o desejo de conhecer outros países”, lembra.

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Em 2018, participou de uma das feiras de street art (arte urbana, em português) mais importantes da Europa a convite e com o patrocínio da Art Avenue Gallery. O evento ocorreu no festival Stroke Art Fair, na cidade de Munique, na Alemanha.

No ano seguinte, em maio, foi convidado pelo projeto francês Les 3 Murs e pela prefeitura de Paris, na França, a desenvolver um mural artístico que retratasse um pouco da arte brasileira. O mural foi feito em cinco dias na 2 Cité Riverin, nº 75010.

Arte de Alexandre Puga está espalhada em muros da zona sul de São Paulo
Foto: Reprodução

Puga revela que uma das maiores dificuldades em ser artista periférico está principalmente na mobilidade, pois está afastado de tudo. Ele também aponta que, apesar de ter conhecido outros lugares no mundo, continua lutando para transformar o local onde mora e dar referências a outros jovens.

“Essa distância, às vezes, faz a gente chegar depois, mas não é só esse o problema. É também sobre começar a acreditar que é possível para você. Para um jovem negro sair da periferia é muito mais difícil pelo preconceito e a forma de se portar entre as pessoas”, diz.

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Ele está sem ministrar aulas desde 2020 e, desde então, está focado na carreira de artista independente. Os “corres” para trabalhar são os mais diversos: para ganhar um muro maior no bairro, pede ajuda aos comerciantes locais; já para conseguir viajar, chegou a trocar um mural em uma agência de viagem pela passagem.

No futuro, o sonho do artista é criar uma instituição para que mais meninos e meninas enxerguem que fazer arte é um sonho possível. “Quando comecei a fazer grafite, era crime. Hoje, a gente tem o rótulo de artistas. A gente tem que acreditar no sonho”, conclui.

Foto: Reprodução

De acordo com a lei nº 12.408, o grafite deixou de ser considerado crime no Brasil em 2011, quando passa a ser feito com o consentimento do proprietário e “com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística”.

Na época, quem fosse abordado pela polícia poderia responder por depredação patrimonial. Conforme aponta o art. 65 da lei nº 9.605/98 (lei de crimes ambientais), a pichação continua sendo crime, com detenção de três meses a um ano, além de multa para quem pichar edificação ou monumento público.

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