O rap é uma das principais expressões culturais a dar voz às minorias de Belo Horizonte, um dos motivos para a capital se tornar palco do maior evento de rap do estado, o Festival Rap Game, que acontece dia 25 de março no Mineirão.
Lucas Henrique, 22 anos, morador da Vila Ventosa, vai se apresentar no evento. Está ansioso e ensaiando muito para dar o melhor. “Muito importante esse espaço, alimenta nossa vontade de vencer. Sabemos a dificuldade que é para um de nós, da favela, sem visibilidade, estar em um grande palco”, diz o jovem.
Lucas é conhecido artisticamente como LS o Cria, e promete um repertório que já está disponível nas plataformas musicais digitais. Também pretende mostrar ritmos inéditos, com a presença de VT o Cria e do DJ Júlio Marques.
Outros crias da região
Outro músico que promete novidades no repertório é Diego Palhares, o Sadoff, de 24 anos. Seu show no Festival Rap Game será o mais importante da carreira. O artista começou a participar das batalhas de rimas em 2016. O que era lazer se profissionalizou com um lançamento no mesmo ano.
“Escolhi esse estilo musical pois faz parte da minha vivência. Com ele posso me expressar e exaltar que os pretos merecem viver bem, como qualquer pessoa de condição financeira estável”, explica.
Além da periferia
A representatividade do evento vai além da periferia. A travesti Lua Zanella mora em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte, e leva mais que divertimento ao público.
“Retrato minhas vivências travestis e discussões políticas acerca do corpo, da heteronormatividade, dentre outros assuntos”, diz Lua Zanella, que rima em batalhas há um ano - ela foi a primeira mulher trans a organizar batalhas de rap em Minas Gerais.
Os preparativos para a apresentação incluem ensaios intensos, com faixas especiais e marcantes em sua história. Uma delas fala sobre o divino que está em todos e o momento em que a Lua se percebe mulher trans.
Vindo do interior
O festival vai receber músicos que começaram a carreira no interior, como Pedro Caetano, 20 anos. Ele fala sobre quando descobriu o talento, ainda criança, e relembra o início.
“Cresci participando de batalhas e colaborações em cidades próximas. Desde pequeno gosto muito do rap. Usei como ferramenta para me expressar e divulgar as minhas filosofias e pensamentos, e até como curtição”, diz.
Há quatro anos, Caetano investe no talento e afirma que está se preparando muito para fazer o público se divertir e pensar.
Expressão local é o diferencial
Para DJ Zeu, um dos organizadores, “o diferencial de BH está na diversidade e qualidade dos artistas, que trazem linguagem própria, a forma única de expressar sua arte. O Festival Rap Game é uma celebração da música e da cultura hip-hop, que busca dar aos amantes do gênero uma experiência única e inesquecível”.
O festival vai acontecer na Esplanada do Mineirão e contará com dois palcos, um exclusivo para os artistas regionais.
Correria vem de longe
A capital mineira tem se destacado pelo grande número de artistas alcançando visibilidade nacional. Essa cultura começou a dominar os belorizontinos nas décadas de 1970 e 1980, quando jovens cantavam e dançavam aos domingos na Praça Sete de Setembro, no centro da cidade.
Mas não era qualquer jovem. Eram negros que desciam das favelas e periferias exibindo a cultura black power nas ruas, através das rimas e passinhos. Hoje, a força do movimento é suficiente para justificar um festival.