No início deste ano, incomodada com a falta de oportunidade para artistas periféricos da cena independente pernambucana, a fotógrafa Thalyta Tavares, ou Ignus, como é conhecida, decidiu criar um projeto audiovisual para potencializar as vozes de artistas periféricos das inúmeras comunidades de Pernambuco, assim como manifestar suas próprias inquietações enquanto artista.
Ela criou o Falas da Cena, iniciativa independente e sem apoio financeiro, idealizada para ser um espaço em que artistas possam contar histórias, mostrar seus trabalhos e, sobretudo, reivindicar espaço.
“Me incomoda perceber que muitos artistas de comunidades menos favorecidas não tem o lugar de destaque para expressar suas artes da maneira que eles merecem e gostariam que fosse”, diz Ignus.
Projeto piloto com rapper
O primeiro episódio foi produzido e gravado por Ignus pelo celular. Mostra o corre da Rapper Negrita MC. Ela é moradora do Ibura, periferia da cidade de Jaboatão Guararapes, mãe de dois filhos, e se mantém na cena hip hop pernambucana há quase 12 anos.
Sempre com posicionamentos fortes, ela fala sobre afirmação, luta, combate ao racismo e problemas sociais. Além de rapper, Negrita é atriz e interpreta a personagem Boyzinha na série Lama dos Dias, disponível no Youtube pelo Canal Brasil e pelo Globoplay.
Segundo passo do Falas da Cena
A partir do segundo episódio, a equipe do projeto cresceu, com novos equipamentos e formatos agregados. Mauricio Mateus, conhecido como Teu.JPG, e Ronny Colors, que atuam como fotógrafos independentes, demonstraram interesse em participar do movimento que Ignus estava iniciando.
“Eles chegaram e agregaram muito na qualidade do produto final. Teu chegou na segunda produção e contribuiu como still de fotografia e na edição; Ronny veio na produção do terceiro episódio, atuando como videomaker e editor. E eu, além de ser a idealizadora, atuo como roteirista, videomaker, direção de fotografia e edição”, explica Ignus.
Segundo, terceiro, quarto episódio
Além de Negrita, o Falas da Cena chegou ao casal de artistas visuais Lis de Horus e Neo Tags, moradores do bairro da Boa Vista, área central do Recife. A vida do casal é baseada na relação com a arte de forma visceral, para sobrevivência. Era o segundo episódio do projeto.
No terceiro, a equipe foi para o Alto José do Pinho, periferia na zona norte do Recife, e entrevistou o artista Cannibal, vocalista do Devotos, banda que completou 35 anos. No episódio, Cannibal fala sobre como é ser inspiração para várias gerações e da arte como instrumento de transformação.
Projeto decolando
Amun Ha, a primeira cantora não-binária do brega, é a artista do quarto episódio. Carioca naturalizada em Orobó, cidade do agreste pernambucano, ela atua na cena musical recifense há cerca de quatro anos, intervindo e criando performances que focam na resistência LGBTQIAP+.
Ignus quer “criar uma plataforma para que artistas periféricos possam compartilhar suas histórias e ideias com o mundo, e para que o público em geral possa ter acesso a uma visão mais autêntica e inclusiva da cultura pernambucana”.
Ela acredita que a arte é uma ferramenta poderosa para quebrar barreiras sociais e promover a igualdade de oportunidades. “Espero contribuir de alguma forma para essa mudança, através do meu trabalho como fotógrafa”, finaliza.
Serviço
A inscrição para participar do projeto pode ser feita através do formulário disponível no link https://docs.google.com/forms/d/1xPet1YmKTFuVSLqyRJX9H9b2BqPruJh6-yYngTf0FHg/edit