Frevo rural é o novo ritmo do Carnaval pernambucano

Escola e Orquestra de Frevo Zezé Corrêa, da cidade de Aliança, retoma apresentações com produção inédita

10 fev 2023 - 05h05
Escola e Orquestra de Frevo Zezé Corrêa, da Zona da Mata de Pernambuco, criadora do frevo rural, novidade para este Carnaval
Escola e Orquestra de Frevo Zezé Corrêa, da Zona da Mata de Pernambuco, criadora do frevo rural, novidade para este Carnaval
Foto: Ederlan Fábio

Neste ano, as tradicionais festas de rua do Carnaval pernambucano ganham um novo gênero musical que pretende enriquecer o cenário cultural e animar os foliões. Após um século do surgimento do frevo de rua, do frevo de bloco e do frevo-canção, o “frevo rural”, um ritmo que vem dos canaviais, é o mais novo gênero musical inspirado nas manifestações da cultura popular da região da zona canavieira.

O projeto mescla poesia, sons, danças, a sinergia do maracatu rural, da ciranda e, principalmente, o bloco rural. A novidade está editada em formato EP e preparada para ser espetáculo de rua. A produção fonográfica e a montagem são iniciativas da Escola e Orquestra de Frevo Zezé Corrêa.

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Ligada à Sociedade Musical 15 de Novembro, atua há mais de 135 anos no Distrito de Upatininga, zona rural da cidade de Aliança,

na Zona da Mata Norte de Pernambuco. É um Ponto de Cultura e espaço centenário de preservação, salvaguarda e memória da cultura pernambucana.

O verde, o azul e o amarelo representam o sol, o céu e os canaviais da Zona da Mata de Pernambuco, de onde sai o frevo rural
Foto: Ederlan Fábio

Fontes populares rurais

Diferente do frevo, que surgiu ainda no século passado nas ruas do Recife e ladeiras de Olinda, o frevo rural bebe na fonte das brincadeiras populares de Carnaval dos antigos terreiros dos engenhos de cana de açúcar.

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A nova musicalidade segue a tradição do bloco rural, ou “caravanas”, que desfilavam em meio aos canaviais, apenas com mulheres. Seu DNA mistura ainda a presença da sonoridade e performance do maracatu rural, reconhecido como Patrimônio Imaterial do Brasil.

O estreante frevo rural surge com duas músicas e, antes de embalar a folia carnavalesca, vai estrear na internet. Um das criações é “Plantis da vida”, sobre mulheres e homens no contexto social do açúcar. A letra aborda o tema de propriedade privada, que remete às grandes plantações estabelecidas às custas da exploração do trabalho.

A segunda música é “Belo Carnaval”, inspirada em um capitão de navio que, após navegar desolado em meio ao mar, chega em um porto e faz um lindo Carnaval, transformando o ambiente em alegria e festa.

As duas músicas são composições do músico e percussionista João Paulo Rosa, natural de Nazaré da Mata, na Zona da Mata Norte. 

A Orquestra Zezé Corrêa é constituída por 14 integrantes, jovens trabalhadores dos canaviais e criadores do frevo rural
Foto: Ederlan Fábio

Jovem grupo carnavalesco

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A Orquestra Zezé Corrêa é constituída por dois cantores, cinco passistas e 14 músicos, sendo regente o maestro José Messias. A maioria dos integrantes são adolescentes e jovens, negros, filhos de agricultores, cortadores da cana de açúcar que convivem com a tradição da música raiz da zona canavieira.

Além dos instrumentos de metais e percussão, o frevo rural é executado por uma orquestra de trompetes, trombones, sax, bateria, baixo, apito, guitarras, caixa, surdo e ganzá.

O diferencial da sonoridade rural vem do bombinho, uma espécie de zabumba menor; do bacalhau, baqueta feita de fibra sintética e cabo emborrachado para percutir o mineiro, um tipo de chocalho, que dá a cadência.

Outro diferença é a dança, que tem forte ligação com as brincadeiras populares, remetendo à memória dos passos e da evolução do maracatu rural, do coco de roda, da ciranda, do cavalo-marinho, entre outros.

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Orquestra de Frevo Zezé Corrêa sai dos canaviais para as ruas no Carnaval de Pernambuco chamando para o frevo rural
Foto: Ederlan Fábio

Novo som, novos figurinos

Para fazer bonito neste Carnaval, o grupo também preparou um figurino para lá de colorido. As vestimentas dos músicos são inspiradas nas cores dos grupos de cultura popular rural, com predominância de tecidos floridos, nos tons de azul, verde e amarelo. São maneiras de representar o sol, o canavial e a paisagem da Zona da Mata.

As roupas dos passistas foram elaboradas como forma de representar os brincantes. Nelas, estão desenhadas formas geométricas que valorizam o bordado manual, especialmente nas golas e estandartes. As fitas coloridas, costuradas à mão, que adornam os figurinos, representam o colorido e a força cultural arco do cavalo-marinho e da lança dos caboclos. Há ainda flores bordadas, como elemento de beleza feminina.

Artista Adri Popular, que integra a Orquestra de Frevo Zezé Corrêa há dez anos, está pronto para mostrar o frevo rural
Foto: Ederlan Fábio

Doçura de açúcar e resistência de rapadura

“O frevo rural é fruto de um trabalho de pesquisa, experimentações e documentações. Temos buscado fazer o resgate musical, sobretudo neste aspecto da música da Zona da Mata. E descobrimos que, aqui, temos um frevo que é desconhecido pela história e, claro, por muitos pesquisadores e amantes do frevo”, relata o produtor musical Ederlan Fabio.

Segundo ele, “neste Carnaval queremos apresentar um frevo que nasce com a doçura do açúcar e a resistência da rapadura. Queremos fazer história”.

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O EP Frevo Rural - Ritmo que Vem dos Canaviais está disponível nas plataformas digitais. Ainda dentro da agenda de novidades, a Escola e Orquestra de Frevo Zezé Corrêa programa várias apresentações nos polos culturais de cidades pernambucanas.

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