Galo da Madrugada vem empoderado e preto no Recife

A tradicional alegoria foi produzida com materiais recicláveis e mobilizou 150 mulheres de comunidades

17 fev 2023 - 18h22
Montado na ponte Duarte Coelho, com 28 metros, neste ano a estátua gigante é o Galo Preto Ancestral
Montado na ponte Duarte Coelho, com 28 metros, neste ano a estátua gigante é o Galo Preto Ancestral
Foto: Anderson Maia

Em 2023, com a retomada do Carnaval pernambucano após dois anos de restrições, o tradicional Galo da Madrugada sai de preto. A estrutura de 28 metros, tradicionalmente montada na Ponte Duarte Coelho, área central do Recife, foi batizada de "Galo Preto Ancestral", por homenagear a cultura e a herança africana.

A obra é assinada pelo artista plástico Leopoldo Nóbrega e pela designer Germana Xavier. Ela foi composta com adornos, cores e acessórios que carregam significados ancestrais.

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Cores e adereços remetem à herança negra, daí o nome deste ano: Galo Preto Ancestral
Foto: Anderson Maia

As pinturas fazem referências étnicas nas estampas e, no pescoço do Galo, há uma gargantilha no estilo de joia africana. Os detalhes na cor dourada representam Oxum, orixá reverenciada pelas religiões de matriz africana. Além disso, a ornamentação da crista tem dreadlocks, penteado milenar da comunidade negra. E, na cauda, uma homenagem à diversidade: mosaico nas cores que representam as bandeiras do movimento LGBTQIA+.

A produção do Galo Preto Ancestral envolveu 150 moradoras de comunidades do Recife, como Cristiane Eduarda da Silva
Foto: Arquivo pessoal

Criação comunitária

Toda a produção da alegoria foi confeccionada e montada em parceria com 150 mulheres artesãs, moradoras de diversas comunidades da Região Metropolitana do Recife. As mulheres participaram de oficinas oferecidas pelo Ateliê Arte Plenna, com o intuito de capacitar e favorecer a troca de conhecimentos entre as participantes.

Uma delas é a artesã Cristiane Eduarda da Silva, de 52 anos, moradora do bairro de Casa Caiada, Olinda. Ela trabalha há cerca de 14 anos utilizando diversas técnicas, como biscuit, para produzir kits de maternidade em MDF, laços, customização em sapatos e bolsas infantis.

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“Minha relação com o artesanato veio em um momento de dificuldade, quando fui demitida do meu emprego no comércio e não tinha com quem deixar meu filho. Foi desenvolvendo esses trabalhos em casa que consegui cuidar do meu bebê e ajudar nas despesas”.

Cristiane Eduarda da Silva, 52 anos, do bairro de Casa Caiada, Olinda, é uma das 150 artesãs que produziram o Galo Preto Ancestral
Foto: Arquivo pessoal

Virada de carreira

Toda a experiência de Cristiane foi desenvolvida através da prática e da curiosidade, a partir de vídeos que ela assistia na internet. Enfrentando dificuldades corriqueiras da vida de quem trabalha por conta própria, persistiu no caminho do artesanato até chegar às oficinas do Ateliê Arte Plenna e ao projeto do Galo Preto Ancestral.

“O aprendizado que tive nesse espaço foi uma virada de chave no meu trabalho. Além de novas técnicas, eu ampliei o meu olhar para os materiais que podem ser utilizados.”

O público não esperou o Galo da Madrugada ficar pronto para garantir as fotos. Estrutura tem 28 metros
Foto: Anderson Maia

No Ateliê Arte Plenna, uma das premissas dos trabalhos elaborados pelo artista plástico Leopoldo Nóbrega está na sustentabilidade. Ele reaproveita materiais que seriam descartados. Na confecção do Galo Gigante foram utilizadas partes das estruturas anteriores, retalhos de tecidos, CDs, dentre outros.

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“Participar deste projeto está sendo muito enriquecedor não só para aperfeiçoar e expandir minhas habilidades, mas também pela troca de conhecimentos, pela conexão com outras artesãs, por perceber que podemos fazer algo grande”, finaliza a artesã Cristiane, que fará aniversário no domingo de Carnaval e terá como presente sua arte estampada na avenida.

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