Neste mês de junho acontecem as festas juninas no Brasil, no qual se comemoram três santos populares: Santo Antônio, São João e São Pedro. O festejo é caracterizado por comidas, danças, brincadeiras, roupas, fogueiras, balões e quadrilhas juninas.
No nordeste brasileiro há uma grande valorização da festa de São João, no estado da Bahia, a festa é muito forte, movimentando várias cidades, com muito forró e quadrilhas juninas, algo já enraizado como uma dança folclórica coletiva característica de nosso País e, que da sua forma se faz presente na região o ano todo.
Para o soteropolitano, professor de história há 17 anos, Renato Góes Santana, 41 anos, o São João tem uma grande importância no processo de manifestação cultural, com vários traços e elementos culturais, tais como: culinária, dança, vestimenta, música e a prática de soltar fogos. “Podemos até chamar a festa de São João de um complexo cultural, que é um conjunto que envolve várias manifestações pequenas, na verdade, vários traços e elementos culturais”, afirma.
O professor explica que o São João está mais concentrado no Nordeste, pois na região se encontram elementos que são primários da cultura brasileira, além disso, a festa junina é fundamental para os nordestinos, “Quando nós falamos da importância do São João para o Nordeste a gente entende que é a manifestação da essência da cultura brasileira na região. Nós conseguimos encontrar em uma manifestação um complexo cultural. Além do mais, a gente percebe que o turismo é muito forte nessa época do São João, pois as pessoas vêm para degustar, se divertir e valorizar a cultura nordestina”, comenta.
E por falar em elementos culturais, Renato Santana explana que a diversidade cultural contida nas quadrilhas juninas vem do Brasil e de fora, “Nas quadrilhas juninas existem elementos que são culturais de outros povos, sobretudo, a França, com os passos que recebem comandos como, por exemplo, anarriê. Com isso, a gente percebe o quanto esse movimento de quadrilha é recheado de uma grande contribuição do nosso país e de fora”.
Ele faz questão de ressaltar que as quadrilhas juninas têm papel muito importante para o desenvolvimento dos jovens e adultos, “Então quando esse jovem e esse adulto tem o contato com essa manifestação artística, que é cultural, dançante, musical, estética, ele começa a sistematizar o processo de quem ele é. Além disso, é trabalhado a coletividade, pois é desenvolvido a alteridade, a empatia, o respeito ao espaço do outro”, assegura.
Forró do ABC
As quadrilhas juninas da cidade de Salvador foram imprescindíveis para a transformação social dos jovens das comunidades carentes, como é o caso do grupo Forró do ABC, tradicional quadrilha que ajuda muitos moradores dos bairros periféricos da capital baiana. “As Quadrilhas juninas agregam muitos jovens em situações de vulnerabilidade, carentes de atenção, cuidados, de políticas públicas que abracem essa juventude de verdade e as quadrilhas fazem isso sem apoio governamental”, comenta a Presidenta da quadrilha junina Forró do ABC, Mariete Lima.
Mariete, que entrou no Forró do ABC em 1995 como dançarina e só assumiu a presidência em 2012, declara que voltar a se apresentar presencialmente nos eventos após a pandemia é uma alegria, “Nesse primeiro momento, é celebrar a vida, mas ao mesmo tempo, feliz com esse retorno após pandemia, mais que nunca celebrar a manutenção desse movimento das quadrilhas Juninas que é tão desvalorizado em nosso estado”, afirma.
A presidenta certifica que o Forró do ABC é um movimento junino e social o ano todo. “Fazemos ações socias, realizamos café e almoço solidário, fazemos doações de cestas, materiais de higiene com nosso Brincantes e com nossas comunidade e adjacências”, ressalta.
Ela assegura que o São João é a melhor festa do mundo e enfatiza que o diferencial do Forró do ABC é a união do grupo e todos são uma família. “No Forró do ABC pregamos muito essa questão do abraçar o outro, acolher, cuidar, respeitar, enfim, ABC é muito mais que só as quadras, vai para além disso” salienta.
Para o Diretor de Comunicação da quadrilha Forró do ABC, Anderson Orrico, 35 anos, que mora no bairro de Cajazeiras, o objetivo do grupo é desenvolver a cultura junina e contribuir para formação das crianças e adolescentes, “Como já diz o nosso lema: ‘fundamental é ser feliz’. Então, o nosso objetivo é fomentar a cultura junina e levar alegria a todos que nos assistem. Além disso, contribuir para formação das crianças e adolescentes e também ser instrumento de transformação social na vida de muitos jovens”, diz.
E quando o assunto é transformação social, o Forró do ABC desenvolve um trabalho de assistência dentro das comunidades da capital baiana, com ações sociais como, por exemplo, o ABC ROSA, “Com o ABC ROSA colocamos vários profissionais à disposição das mulheres em um dia no mês de outubro, também realizamos doações de livros para as crianças, cestas básicas, material de higiene pessoal e encaminhamento para atendimentos médico. Nos preocupamos muito com os nossos e com aqueles que nos rodeiam. Para estarmos bem em quadra, precisamos do bem-estar dos componentes e seus familiares”, afirma Anderson Orrico.
Ele enfatiza que Salvador já foi berço de mais de 150 quadrilhas, mas que atualmente existem em atividades apenas três adultas e duas mirins, “É triste ver a cultura junina perdendo espaço dentro da nossa cidade. Somos nordestino e precisamos exaltar as nossas raízes e manter viva as nossas tradições”, lamenta.
O diretor de comunicação conta que hoje o maior problema do grupo é a falta de apoio financeiro, “Nunca tivemos diretamente nenhum suporte de órgão público ou privado. Lutamos para colocar a quadrilha em quadra. A nossa fonte de renda são os nossos eventos, como a feijoada, rifas, apoio dos amigos e parceiros e, um valor de carnê que cobramos dos nossos dançarinos”, informa.
A pandemia foi um outro desafio que a quadrilha Forró do ABC enfrentou. Conforme Orrico, no período junino o grupo fazia de 12 a 15 apresentações entre concursos e festivais, porém na pandemia não fizeram nenhuma apresentação, “Paramos total. E para manter a chama da nossa cultura acesa foi difícil. Vivemos algo inesperado, tivemos perdas dolorosas, contudo fizemos de tudo para resistir. Na pandemia não fizemos nenhum evento, até para preservar a vida dos nossos brincantes e também porque não tivemos os festejos juninos. Fizemos algumas lives e assim fomos mantendo viva a tradição”, relata.
Agora, com a volta das festas, Anderson revela que está feliz e ansioso para voltar a se apresentar nas quadras, “Estamos muito animados com o nosso retorno às quadras. Todos ansiosos demais, ensaiando a todo vapor e contando as horas para reencontrar o nosso público e viver novamente essa emoção”, diz.
A quadrilha Forró do ABC conta com 120 componentes e apresentações em concursos e festivais. Os espetáculos são diferentes a cada ano, como, por exemplo, nesta temporada que leva a temática “O brilho dos infogueirados”, “Neste ano, levaremos para as arenas o tema: ‘O brilho dos infogueirados’, que se passa numa cidade fictícia chamada Santo Antônio dos cafundós, na qual toda a região era devota de Santo Antônio, São João e São Pedro. Na noite de 13 de junho, de algum ano, nasce Isabel, a menina mais linda do vilarejo, que é presenteada com um lindo anel de ouro dado por seus pais. Neste dia, a cidade toda em festa, iria comemorar o nascimento da sua princesa, porém a tia, rainha Gélida, a sequestra, dando início a uma busca incansável e histórias de traições, duelos, libertação e muito amor”, explica.
A programação da quadrilha está bem intensa, com várias apresentações acontecendo, “Em 2022, iniciamos a nossa agenda no Arraiá do Galinho, dia 04/06, e depois iremos nos apresentar no Pelourinho, no concurso estadual também em Salvador, além disso iremos para diversas cidades do interior da Bahia e participaremos do Concurso Regional Nordestino, que vai reunir algumas das maiores quadrilhas do Norte/Nordeste na cidade de Entre Rios (BA)”, pontua.
Imperatriz do Forró
“A volta às quadras é uma maneira de mostrar que ainda existe a chama acesa em meio ao caos de um país que não incentiva a cultura”, garante o Presidente da Imperatriz do Forró, Armany Celebridades.
Armany, que também é o coreógrafo do grupo, diz que a importância cultural das quadrilhas juninas para Salvador é manter a tradição junina viva, além de trabalhar o artístico e o social dos jovens das comunidades.
Armany Celebridades mora no subúrbio de Salvador, em Itacaranha e ressalta que a Imperatriz do Forró desenvolve nos bairros carentes inclusão de linguagens artísticas e a cultura educacional. Para ele, voltar as apresentações de forma presencial após a pandemia é uma maneira de mostrar a resistência do grupo, que mesmo sem apoio, ensaia 11 meses ao ano.
A pandemia, aliás, foi um grande desafio para a Imperatriz do Forró, “O nosso maior desafio foi manter todos esses jovens próximos das atividades, mesmo sendo virtual, já que não era possível realizar nossos ensaios. Antes da pandemia, realizávamos mais de 30 espetáculos, porém, depois com a pandemia, só conseguimos realizar lives por meio das redes sociais”, destaca a Diretora Financeira da Imperatriz do Forró, Leidiane Almeida, 27 anos, moradora do bairro de Itacaranha.
No cargo desde 2016, Leidiane explica que antes de virar uma quadrilha adulta, o grupo era infantil, chamado de Renascer: “Os criadores da Imperatriz do Forró são Altamira Lobo e Armany Celebridades. A criação do grupo foi através de uma quadrilha Junina Mirim, chamada Renascer. Depois de cinco anos consecutivos campeões, o grupo infantil se tornou uma quadrilha adulta, em 2016”, revela,
Almeida comenta que os ensaios da quadrilha acontecem no subúrbio, na comunidade de Paripe, em algumas escolas e espaços musicais, contando, atualmente, com um total de 100 componentes, entres dançarinos, diretoria e produção.
Segundo diretora, nas comunidades o papel social da Imperatriz do Forró é resgatar os jovens e adultos dos caminhos da criminalidade, “O objetivo da nossa quadrilha Junina é não deixar a cultura e a tradição morrer, visando sempre ocupar os jovens com a arte, através da dança e do teatro. A nossa intenção é resgatar os jovens e adultos sem perspectiva de vida, para ocupar a mente através da Arte, para que não fiquem às margens de outras quadrilhas. Levando em conta a formação e orientação desses jovens através de oficinas de corpo e mente”, enfatiza.
Além de ajudar os jovens, Leidiane Almeida pontua que as quadrilhas juninas são de grande importância para as comunidades de Salvador, pois os grupos mantêm uma tradição de muitos anos e ocupam uma visibilidade muito grande não só em Salvador mais em todo o Nordeste.
A diretora faz questão de ressaltar que o grupo passa por muitos problemas e para se manter é necessário auxílio de amigos e dos próprios participantes, “Por não termos apoio de políticas públicas do Estado, a quadrilha Junina se mantém com muitas dificuldades em relação, a matéria prima como: panos, tecidos, figurinos, calçados, cenários, ônibus, banda, instrumentos entre outros. A ajuda que temos é, em grande parte, da direção e outra pequena parte, dos nossos amigos, parceiros e admiradores do nosso trabalho”, esclarece.
E agora com a volta das festas, Almeida comenta as expectativas em relação as apresentações, “As melhores possíveis, pois além de reativar a chama do São João, iremos homenagear os nossos amigos, dançarinos e componentes que se foram durante a pandemia”, revela.
A imperatriz do Forró, de acordo com Almeida, apresenta quadrilha Junina estilizada, entretanto mantendo a tradição da sua essência, com muita força e animação. Nesta época junina, o grupo já vem realizando apresentações, desde o início do mês de junho, e vai até o início de julho.
Programação das apresentações:
04/06 – Salvador / Forró do Galinho;
13/06 – Cidade de Santo Antônio de Jesus;
19/06 - Federação Baiana das Quadrilhas Juninas / grupo especial;
22/06 - Cidade Riachão Jacuípe, às 18h;
25/06 - Cidade Nazaré das Farinhas, às 12h;
26/06 - Município de Valença, às 12h;
29/06 – Município de Simões Filho, às 18h;
01/07 – Município de Itaparica, às 18h.