Minidocumentário apresenta a dimensão musical de São Mateus

Material sobre o distrito da zona leste de São Paulo está disponível gratuitamente e traz entrevistas com músicos

2 fev 2023 - 05h05
O minidocumentário Cidade São Mateus foi produzido durante dois anos
O minidocumentário Cidade São Mateus foi produzido durante dois anos
Foto: Reprodução

Desde janeiro deste ano está disponível na plataforma SPCine Play o minidocumentário “Cidade São Mateus”. A produção do diretor Gabriel César, 25, retrata o distrito da zona leste de São Paulo por meio da história dos músicos Yvison Pessoa, Rodrigo Campos e Mister Grande-E. 

A ligação de Gabriel com a música local começou cedo. Morador do bairro Cidade São Mateus, ele frequentava as batalhas de rap e apresentações musicais na região. Com gosto pelo audiovisual, comprou uma câmera fotográfica aos 15 anos de idade e, a partir daí, começou a registrar a cena artística do distrito. 

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O minidoc veio a partir de um edital do governo municipal com a proposta de contar a história de regiões periféricas por meio de depoimentos de moradores. 

“Fui buscar a essência de São Mateus e, por meio de pesquisas, entendi mais da história e do cenário musical do bairro e soube quem eram os compositores das canções que eu ouvia”, explica Gabriel. 

E quando ele fala sobre as músicas que ouvia, ele não está sendo modesto. Um pouco antes de comprar a primeira máquina fotográfica, o diretor ganhou o CD “São Mateus não é um lugar assim tão longe”, do musicista Rodrigo Campos. O álbum de 2009 traz faixas que misturam samba com o “jeito rapper” de contar histórias através de crônicas.

Rodrigo Campos, 45, é um dos personagens do minidocumentário. O músico nasceu na cidade de Conchas, no interior paulista, e veio para o distrito da zona leste ainda criança. Ele via as rodas de samba pela janela do apartamento onde morava e foi daí que começou a relação com a música. 

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Já adulto, precisou sair do distrito por razões pessoais, mas a saudade bateu. “Saí sem me despedir, foi aí que comecei a fazer as músicas falando sobre a região. A faixa ‘De São Mateus Pra Vida’ entra como formação cultural. Ou seja, virei um músico lá, sou um artista que, através das influências da quebrada, encontrei meu jeito de me expressar”, explica. 

Neste álbum está a canção “Califórnia Azul”, sampleada pelo rapper Criolo em 2012 na música “Duas de Cinco”. Rodrigo também tem parcerias com Emicida e Fabiana Cozza, e em 2015 produziu o álbum “A Mulher do Fim do Mundo” da cantora Elza Soares. 

O também músico e sambista Yvison Pessoa, 45, também coloca a região como inspiração nas próprias músicas. “Procuro sempre colocar o bairro no meu lado artístico, seja uma música em homenagem, seja um cenário, seja um texto”, diz. 

Nascido em São Caetano do Sul, no ABC Paulista, ele se mudou para São Mateus, onde mora próximo da Tia Cida dos Terreiros, tida como a matriarca do samba do bairro. Tia Cida abria o quintal de casa para que os garotos pudessem tocar e, assim, ele pegou gosto pela música. 

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Yvison integrou o grupo Quinteto em Branco e Preto, e idealizou e produziu o disco “Berço do Samba de São Mateus”, de 2007. Também coordena o Instituto de Tradição e Memória do Samba de São Mateus desde 2017. 

Lançamento 

Gabriel César explica que a produção do minidocumentário levou pouco mais de dois anos. “No final das contas, o Yvison, o Grande e o Rodrigo têm a idades próximas, com vivências completamente diferentes, mas com o mesmo objetivo que é viver da música”, comenta. 

“O filme traz a mensagem de que ‘por mais que você ande pelo mundo, o bairro nunca sai de você’. Os três [personagens] meio que são o exemplo disso”. 

“Cidade São Mateus” participou dos festivais XVI Cine Fest Gato Preto, mostra ARCHCINE - 5º Festival de Cinema de Arquitetura, 14º Festival Visões Periféricas e In-Edit, onde recebeu menção honrosa. Em abril deste ano, o minidoc foi exibido ao público no Teatro Caritas. 

Yvison conta que se emocionou quando assistiu ao documentário e aponta a importância da produção. “O produto final ficou muito bacana. O documentário representa demais para mim, porque é um reconhecimento do nosso trabalho. Para a quebrada é muito importante, fica um legado”. 

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Para Rodrigo, o minidocumentário tem uma importância pessoal. “Para mim foi importantíssimo do ponto de vista humano, como se São Mateus me perdoasse e me acolhesse de novo. Posso ser o cidadão do mundo que sou hoje, mas ainda pertenço a São Mateus”, conclui. 

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