Leo Ribeiro, 35 anos, estudante de licenciatura em História na Faculdade Anhanguera, morador da favela de Antares, no bairro de Santa Cruz, localizado na zona oeste do Rio de Janeiro, está desenvolvendo uma pesquisa para contar a história da favela de Antares, das primeiras ocupações, passando pelo desenvolvimento, até hoje. A intenção de Ribeiro é seguir pesquisando ao longo de sua vida acadêmica sobre a favela da qual é cria.
Ele foi durante sete anos membro da Associação de Moradores do Conjunto Residencial de Antares (AMCRA), passando pelos cargos de vice-presidente e presidente, o que lhe deu a oportunidade de conhecer as memórias contadas de forma oral, por diferentes gerações. O pesquisador relata uma dificuldade em reunir os documentos que contam a história de Antares, pois estão todos espalhados. Nunca houve um trabalho de reunião dessa memória.
Por se tratar de uma região relativamente nova em termos de urbanização, pois remonta à década de 1970, alguns dos primeiros residentes ainda estão vivos. São os pais e avós de muitos moradores. Ele conta que sua pesquisa consiste em reunir documentos históricos, mas, principalmente, colher os depoimentos dos moradores que fundaram Antares.
História
Ao contrário de outras regiões da cidade, as comunidades, hoje consideradas sub-bairros de Santa Cruz, não foram criadas através de ocupações espontâneas. Em geral, surgiram de forma planejada, por loteamento dos próprios fazendeiros, donos das terras. Ou através de iniciativas governamentais, como é o caso de Antares. Quando surgiram, essas comunidades eram da região mais nobre de Santa Cruz. Com o tempo, crescimento e aglomeração, passaram a ser chamadas de favelas.
Segundo o historiador, Antares surgiu com a intenção de atender a um projeto do governo federal de 1974, que pretendia promover mais dignidade aos habitantes das favelas das regiões Centro, Norte e Sul da capital fluminense. A ideia era transferir moradores para locais menos populosos na Zona Oeste.
Entretanto, Leo conta que a real intenção era o processo conhecido como higienização, uma grande ação de limpeza da cidade, que removia diversas comunidades para as margens. O propósito era tirar as populações pobres de suas casas, por serem consideradas indesejadas.
Promessas frustradas
Isso causou decepção entre os primeiros moradores, por receberem propostas de melhoria de vida que não se concretizaram. Existia a promessa de que Antares seria apenas um assentamento provisório, para transição. Outro bairro seria construído pelo governo; entretanto, até hoje, a palavra não foi cumprida.
Essas pessoas não desejavam sair de onde viviam, locais urbanizados, e migrar para o que era uma zona rural. Boa parte delas trabalhava no eixo centro-zona Sul, e acessavam as praias e equipamentos culturais próximos, o que não havia na zona Oeste.
Surgiram dificuldades para se adaptar, principalmente levando em consideração a falta de transporte e de desenvolvimento local. Esses são problemas que permanecem; contudo, eram mais graves na época da remoção.
O historiador em formação conta que até hoje os moradores de Antares encontram obstáculos na busca por empregos na região de Santa Cruz. A grande maioria trabalha na Barra da Tijuca e adjacências.
União dos moradores
Apesar de todas as adversidades enfrentadas pelos moradores de Antares, a história local é também uma história de luta e resistência. Muito rapidamente, foi criada a associação dos moradores e uma associação só de mulheres. Ambas lutavam por mais visibilidade e melhorias na favela.
Segundo o futuro historiador, o sucesso das redes de moradores se deu devido a muitos terem uma ligação em comum: saíram juntos de outros locais, o que muitas vezes não acontece na criação de comunidades.
E, também, grande parte eram imigrantes nordestinos, o que também construiu uma aliança. Atualmente, há projetos sociais e culturais, a exemplo da Biblioteca Marginow, idealizada por moradores e que promove ações dentro e fora da Favela de Antares.