MV Bill: Combate às drogas é um combate ao povo da periferia

Rapper carioca lança livro que reúne histórias de viagens, os seus maiores sucessos e sua visão de mundo; ano que vem, músico completa 30 anos de carreira

18 abr 2022 - 13h25
(atualizado às 17h43)
rapper MV Bill lança livro escrito na pandemia
rapper MV Bill lança livro escrito na pandemia
Foto: Imagem: Marcos Hermes / Alma Preta

No próximo ano, completa-se 30 anos da primeira gravação oficial do rapper MV Bill, voz transgressora que desafia a indústria cultural brasileira ao mostrar o Rio de Janeiro que existe fora dos cartões postais.

Como forma de contar um pouco do que viu em quase três décadas, ele lança o livro "A Vida Me Ensinou a Caminhar", escrito em 2020 e publicado pela editora Age, este mês.

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Em 224 páginas, distribuídas em 27 capítulos, Alex Pereira Barboza, o MV Bill, narra suas experiências e visões de mundo a partir das histórias que viveu como rapper, cineasta, escritor e também ativista.

Desde 1993, quando participou da coletânea "Tiro Inicial", MV Bill lançou 12 álbuns, o mais recente saiu este ano e se chama "Voando Baixo".

Como escritor, MV Bill tem experiência em contar a dura realidade da população oprimida do Rio de Janeiro e a violência urbana, consequência da ação do Estado na chamada "Guerra às Drogas". Em 2005, junto com Celso Athayde e Luiz Eduardo Soares, publicou o livro "Cabeça de Porco". 

No ano seguinte, em 2006, "Falcão - Meninos do Tráfico" saiu em livro e DVD, projeto que se tornou nacionalmente conhecido após exibição no programa Fantástico, da Rede Globo. O documentário conta a história de dezessete jovens que se envolveram com o tráfico de drogas, em que somente um deles sobreviveu.

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Em "A Vida Me Ensinou a Caminhar", que MV Bill insiste em dizer que não é uma biografia, o rapper conta histórias da carreira, de como alguns das suas músicas foram compostas; relata momentos de tensão; fala de diversas viagens que fez pelo país e comenta também alguns momentos marcantes da história do rap brasileiro.

A turnê de lançamento do livro terá sessões de autógrafos no Rio de Janeiro, no dia 27 de abril; em São Paulo, no dia 3 de maio e em Porto Alegre, dia 5 de maio.

Entre as histórias do livro, Bill lembra que em 2001, quando já era um músico conhecido nacionalmente, dois policiais abordaram ele e ficaram rodando por horas dentro da Cidade de Deus. "Eles não conseguiam conceber a possibilidade de eu estar com dinheiro na carteira, ter uma passagem de avião no bolso, sem ser um traficante", disse o rapper.

Violência

À Alma Preta Jornalismo, o cantor comenta ainda que o modelo de segurança pública do Rio de Janeiro é parte da engrenagem que promove o genocídio dos jovens negros no país, aumentando ainda mais os índice de violência.

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"Morrem muitas pessoas negras por conta das supostas balas perdidas. Muitas vezes, não há nenhuma comoção, nenhuma preocupação e nem um pedido de desculpas para a família que perdeu alguém vítima da bala do Estado", compartilha o rapper.

Entre o modelo das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), criadas em 2008, e o modelo "Cidade Integrada", anunciado pelo governo estadual, em janeiro de 2022, para substituir as UPPs, Bill não vê avanços na garantia de direitos da população negra e pobre.

"A visão do combate às drogas é muito errada e não é um modelo de segurança pública cidadã. É, na verdade, um combate contra uma população, porque existe uma visão errônea de que as pessoas dentro da comunidade são todas bandidas e pode chegar atirando. Contra pessoas pretas, eles acham que podem fazer qualquer coisa", acredita o rapper.

O racismo no Rio de Janeiro e também em outras praças do país, de acordo do MV Bill, é um dos elementos que fundamenta a brutalidade policial, porque tira toda a empatia dos agentes do Estado e reforça a criminalização e a desumanização de pessoas negras.

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"A política de racismo é muito enraizada. Tenho amigos que são policiais militares que quando estão sem o uniforme são, assim como eu, um alvo potencial da brutalidade da própria polícia. Eu digo para eles, que quando eles estão de farda é como se fosse uma fantasia que diz que eles são diferentes, mas eles não são. Já me contaram que também são enquadrados de forma bruta. Ao sair de casa, a pessoa preta se torna um alvo de todo o tipo de coisas no Rio de Janeiro", comenta o rapper.

Leia mais: Segundo pesquisa, 35% do público negro votaria em MV Bill para presidência da república

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