Quem é o comediante do Grajaú indicado ao Prêmio Jabuti

Geovany Hércules cresceu na zona sul de São Paulo e é finalista com o romance 'SP Graja Trip', ambientado na vida de jovens do bairro

8 nov 2022 - 14h46
(atualizado às 19h29)

Foi com a vontade de retratar a periferia como um lugar de afeto, amizade e solidariedade que o escritor e comediante Geovany Hércules, 30, lançou o livro 'SP Graja Trip', seu primeiro romance. A obra foi indicada à 64ª edição do Prêmio Jabuti de Literatura na categoria juvenil - a premiação é o maior reconhecimento da literatura no Brasil. Nesta terça-feira (8), serão conhecidos os cinco finalistas e, no dia 24 de novembro, serão anunciados os vencedores.

A obra mostra o cotidiano de um grupo de jovens do distrito do Grajaú, na zona sul de São Paulo, a partir dos rolezinhos e festas, além da relação entre estudo e trabalho. Nascido no Rio Grande do Norte, o escritor veio para São Paulo com quatro anos de idade e morou na região dos 13 aos 25 anos.

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"Tenho uma relação de afeto com o Grajaú e o meu livro espelha muito isso", conta. Antes da indicação ao Jabuti, em 2021, o livro de Geovany também foi reconhecido pelo Prêmio Barco A Vapor, uma das mais importantes distinções da literatura infantil e juvenil do país.

Livro é ambientado na vivência de jovens do Grajaú @Divulgação
Livro é ambientado na vivência de jovens do Grajaú @Divulgação
Foto: Agência Mural

O escritor afirma ter buscado retratar na obra a cultura local por meio de uma série de referências, como a música, as artes e a literatura, sem deixar de lado questões como a negritude, o protagonismo feminismo e o meio ambiente (como a represa Billings e a poluição).

'Graciliano Ramos dizia que a palavra não foi feita para enfeitar, mas para dizer. Então eu queria que as pessoas se conectassem com a história'

Geovany Hércules, autor de 'SP Graja Trip'

Segundo Geovany, ter esse tipo de reconhecimento ajuda a levar a sua arte para outras pessoas, mas sobretudo ver os moradores das periferias se sentindo representados.

 

Corres da escrita

Geovany começou a escrever de maneira despretensiosa em 2012, durante a graduação em cinema. Dos primeiros contos e publicações em blogs mostrados apenas para amigos próximos, surgiram, mais tarde, os primeiros livros físicos, de contos e poemas.

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Começou publicando os livros de forma independente, por meio da impressão por demanda, quando as editoras oferecem um número mínimo de tiragem.

"Tem editoras pequenas que fazem o pacote com 30 livros, por exemplo, então você compra o que couber no bolso e depois dá para os amigos e família", conta.

Para o primeiro romance, Geovany entendeu que precisava trazer uma narrativa de fôlego. Para isso, brincou com a estrutura da história. "Cada capítulo é como se fosse um microconto, curto mas conectado [com o próximo]. A narrativa não é linear e não é sempre 'causa e efeito'".

 

Uma obra que segue essa fórmula é 'Cidade de Deus', de Paulo Lins, a partir da vivência dos moradores, interligada entre os capítulos. Outras grandes inspirações foram os autores com traços autobiográficos do movimento Beatnik (Geração Beat, em tradução livre), como Jack Kerouac, William Burroughs e Charles Bukowski.

"Acredito muito que a literatura está atrelada à vida. Quando comecei a escrever, eu gostava muito de escritores que de alguma forma expressavam a vida deles e onde moravam", complementa.

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Autor tem se aventurado no humor e feito stand-up @Divulgação
Foto: Agência Mural

Na conclusão do mestrado, em 2019, Geovany estudou a representação das periferias no cinema de Carlos Reichenbach, diretor marginal dos anos 60. A ideia de pesquisa surgiu por conta das representações que assistia nas telonas.

"Me incomodava demais toda a vez que os filmes só mostravam a criminalidade. Essas coisas existem nas periferias, mas não tem só isso. Tem trabalhador, tem diversão e tem baile funk".

Novos horizontes

Atualmente, Geovany trabalha como freelancer na área do audiovisual, mas também tem se aventurado na comédia. Desde o ano passado, faz apresentações de stand-up.

Apesar de ainda estar se descobrindo nos palcos, a liberdade para escrever o próprio material tem trazido estímulo na nova área. "Sempre gostei de filmes e séries de comédia, então comecei a estudar para entender a teoria e características da comédia para usar na escrita", conta.

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Todas às sextas-feiras, ele tem se apresentado no Lilith Comedy Club, perto do metrô da Vila Prudente, na zona leste de São Paulo.

 

Para o futuro, o escritor está para lançar o novo livro "Desventuras de Schrödinger". A inspiração para o título veio da história de um físico que colocou um gato dentro de uma caixa na série Big Bang Theory, embora não tenha ligação alguma com o seriado.

O livro fala sobre dois amigos maconheiros que se encontram perdidos na vida aos 30 anos. Quando o gato de um deles é roubado por engano por playboys que moram em Moema, eles tentam resgatar o bicho. A proposta é ser uma comédia de erros com um humor ácido, típico dos filmes dos Irmãos Coen, como O Grande Lebowski (1998) e 'Arizona Nunca Mais' (1987).

Assim como as histórias que escreve, Geovany gosta de levar a vida de maneira despretensiosa: "Sou bem aquela música do Zeca Pagodinho: deixa a vida me levar. A gente vai vivendo e se descobrindo a cada dia", conclui.

Foto: Divulgação / Agência Mural
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