Nega Gizza, rapper, locutora, apresentadora de TV, produtora cultural e ativista, estará comandando o Show da Cufa no dia 27 de abril na favela Heliópolis, em São Paulo. Em entrevista exclusiva ao Visão do Corre, ela fala sobre as diferenças entre favelas paulistas e cariocas, da importância do IBGE adotar o termo “favela” para reconhecer o povo e as oportunidades de empreendedorismo feminino na periferia.
Ela representa como rapper, ativista, locutora, apresentadora de televisão e de eventos, além de produtora cultural. Giselle Gomes de Souza, a rapper Nega Gizza, é uma potência múltipla.
Ela vai mostrar alguns de seus talentos comandando o Show da Cufa, que acontece em 27 de abril na favela de Heliópolis, na capital paulista. A festa rola na Avenida Almirante Delamare, número 500, começando às 14 horas.
Serão apresentados diversos estilos, vários cantores e duas cantoras. Terá o reggae de Victor Cena, o sertanejo de Tierry, o samba de Marquinhos Sensação e, claro, apresentações de rap, como o irmão de Nega Gizza, MV Bill – a dupla está entre os fundadores da Central Única das Favelas (Cufa).
Nega Gizza conversou com o Visão do Corre.
Você será mestre de cerimônia em Heliópolis, já se apresentou lá?
Já estive em Heliópolis para ações sociais promovidas pela Cufa, junto a outros parceiros. Mas agora será com cultura, arte, música, estou muito contente e ansiosa pra deixar esse momento de entretenimento e lazer para os moradores que tanto lutam no seu dia a dia e acabam não tendo acesso fácil a espetáculos como esse que vamos oferecer, será histórico.
Quais diferenças você percebe entre as favelas paulistas e cariocas?
Diferenças estruturais, educacionais, culturais, nomenclatura, convivência, geográficas. Mas favela é favela em qualquer lugar: tem um povo ali, potente e com brilho nos olhos, que batalha pra terem dias melhores. Isso é significativo demais.
Qual sua opinião sobre o IBGE ter adotado oficialmente o termo “favela”?
O reconhecimento das favelas pelo IBGE é um passo importante para a afirmação dessa visão que a Cufa vem trazendo em todas as comunicações, há mais de 20 anos. Saímos na frente e criamos o Dia da Favela. Com essa mudança, o IBGE está contribuindo para que as favelas sejam vistas como parte integrante da sociedade brasileira.
Exceto o rap, a representatividade feminina é maior ou menor nos outros elementos do hip hop?
Se pensarmos no universo feminino e em suas implicações sociais, teremos as mulheres sempre em desvantagem, pois estamos inseridas em uma sociedade patriarcal, onde há uma grande predileção e até incentivo para que homens avancem e mulheres se guardem. Sendo assim, seja no hip hop, nos esportes, nos negócios ou em outras culturas, teremos sempre que cavar nossas oportunidades, reconstruir nossas narrativas e ocupar espaços.
As mulheres, especialmente pretas e pobres, tem conseguido, de fato, melhorar a vida empreendendo?
O empreendedorismo é algo real dentro das favelas. As mulheres têm se dedicado em grande número. É mais benéfico criar seus empreendimentos perto de casa pra poder cuidar da família, isso é um facilitador. Mas ainda temos melhorias a serem feitas. Um passo de cada vez.
Qual sua opinião sobre a expressão “a favela venceu”?
Estamos muito melhor que há dez anos. Hoje, a tecnologia chega em vários espaços. Isso possibilita ampliação na nossa malha de conhecimento, vencemos grandes obstáculos e outros ainda são grandes impasses. Logo, afirmar que “a favela venceu” é um tanto presunçoso, especialmente se pensarmos na biodiversidade de cada favela.