Silvio Santos camelô: conheça a história iniciada aos 14 anos

Antes de ser camelô, o futuro dono do SBT fez apostas em jogadores de sinuca na Lapa, Rio de Janeiro, onde nasceu

17 ago 2024 - 17h39
Resumo
Silvio Santos nasceu em 1930, no Rio de Janeiro, em uma travessa chamada Bem-te-vi, na Lapa. Filho de pai grego e mãe turca, começou trabalhar aos 14 anos. Primeiro, foi apostador; depois, camelô; rapidamente virou comunicador e, com tempo, ficou milionário.
Silvio Santos no início da carreira televisiva. Ele era funcionário da Globo, que não conseguiu mantê-lo
Silvio Santos no início da carreira televisiva. Ele era funcionário da Globo, que não conseguiu mantê-lo
Foto: Divulgação SBT

Trabalhar como camelô foi o segundo ganha-pão do garoto Senor Abravanel. O primeiro foi apostar em jogadores de sinuca nos bares da Lapa, no Rio de Janeiro, onde foi criado. Fez os dois corres aos 14 anos, quando cursava Contabilidade na Escola Amaro Cavalcanti.

Silvio Santos foi à luta porque o pai, viciado em jogo, perdera a loja de artigos turísticos na praça Mauá. “Aborrecido com a situação, saí da escola e comecei a me virar. Depois de dois meses, voltei às aulas”, contou na biografia A Fantástica História de Silvio Santos, de Arlindo Silva.

Publicidade

“Já ganhava algum dinheiro apostando nos caras que jogavam sinuca nos bares da Lapa. Eu conhecia o taco de cada um e quase sempre ganhava dos apostadores estranhos”, contou.

Travessa na Vila Rui Barbosa, região da Lapa, no Rio de Janeiro, onde nasceu Senor Abravanel.
Foto: João B. da Silva

A presença de menores era proibida nos salões de sinuca, mas o garoto esperto ficava escondido atrás de uma geladeira. E contava com a conivência do pai. A mãe, brava, batia no filho e exigia que trabalhasse. “Foi então que virei camelô”.

Eleição de 1945 explica início como camelô

Na mesma biografia – que é fonte das informações desta reportagem – o futuro empresário disse que tinha “dado uma olhada” nos camelôs da Avenida Rio Branco e da Rua Uruguaiana. “Cheguei à conclusão de que não seria difícil vender aquelas bugigangas”.

Para entender o começo do trabalho como camelô, é preciso resumir o contexto histórico: desde que Getúlio Vargas tomara o poder em 1930, não havia eleição no Brasil. Vieram 15 anos depois e as pessoas compravam capinhas de plástico para seus títulos eleitorais.

Publicidade
Depois de 15 anos, eleição para suceder Vargas tirou títulos eleitorais da gaveta. Eles precisavam de capinha plástica.
Foto: Assembleia Legislativa SP

Perspicaz, o garoto de 14 anos viu um homem vendendo as capinhas na avenida Rio Branco “com enorme facilidade”. Seguiu o camelô “de mansinho” e descobriu onde ele comprava o produto no atacado, na rua Buenos Aires.

Começou comprando uma carteirinha

O futuro dono do SBT esperou o camelô ir embora do atacadista. “Assim que ele se afastou da loja, entrei e comprei uma carteirinha por 2 cruzeiros. Vendi-a na avenida dizendo que era a última”. Voltou ao atacado e comprou mais duas.

“Coloquei uma no bolso e sacudi a outra no ar dizendo que era a última. Vendi-a rapidamente. Em seguida, dei alguns passos, disfarcei, demorei alguns instantes e tirei outra do bolso: ergui-a e disse que era a última. Vendi-a sem demora”.

Senor Abravanel, um jovem atento aos vendedores, com quem aprendeu e foi além, construindo um império.
Foto: Arquivo pessoal

Animado, comprou várias carteirinhas de plástico para título eleitoral. “Vendi todas. Depois, mais e mais. E foi assim que me tornei camelô”. O ponto preferido era a avenida Rio Branco, esquina com a Sete de Setembro ou Ouvidor.

Publicidade

Uma inspiração: o alemão das canetas

Senor Abravanel observou que havia um vendedor de canetas na avenida Rio Branco, perto da Getúlio Vargas, que só trabalhava uma hora por dia. Era seu Augusto, um alemão.

“Chegava, armava sua barraquinha, dessas de abrir e fechar, e começava a falar com o público. De repente havia aglomeração em sua volta, e ele falava das canetas, explicava como funcionavam, falava, falava e dava o preço... Em um instante esgotava o estoque”.

A esquina das avenidas Rio Branco e Getúlio Vargas era o lugar preferido de Senor Abravanel para vender canetas.
Foto: Divulgação

Fascinado, o garoto passou a observar o vendedor, mandou fazer uma banquinha igual à dele, comprou canetas em um atacadista e se colocou no cruzamento das avenidas Rio Branco e Sete de Setembro.

“Como eu achava que conquistar o público só na fala seria um pouco difícil, aprendi algumas manipulações de moedas e de baralhos”. Atraiu gente, vendeu muito. “Por diversas vezes os jornais publicaram reportagens sobre o garoto que conseguia prender diante de si um público enorme”.

Publicidade

O rapa o levou ao rádio

Nos anos 40, “o rapa” significava o mesmo que hoje: fiscais e guardas tomando a mercadoria dos camelôs. Senor Abravanel vendia seus produtos por uma hora, das 11 da manhã ao meio-dia, quando o fiscal almoçava.

Um dia, não conseguiu escapar e seria levado ao Juizado de Menores. Mas o fiscal, impressionado com sua desenvoltura comunicativa, o indicou para um concurso para locutores na Rádio Guanabara.

Primeiro trabalho na rádio foi rápido. A Rádio Guanabara pagava pouco, Senor Abravanel preferiu voltar a ser camelô.
Foto: Divulgação

Foi o primeiro trabalho de Senor Abravanel como comunicador. Mas ganhava pouco, ficou por um mês, e voltou a ser camelô. Contudo, continuava frequentando programas de auditório, atuando como animador. Em uma dessas ocasiões surgiu, sem querer, seu nome artístico.

Antes de entrar no palco, perguntaram seu nome. Ele respondeu Silvio, como sua mãe o chamava. Questionaram o sobrenome. “Eu disse Silvio Santos – porque os santos ajudam. Foi um estalo que me deu, uma coisa de momento, que pegou”.

Publicidade

O fim do trabalho como camelô

Circula pela internet e informação de que Silvio Santos trabalhava como camelô na barca que fazia a travessia entre Niterói e o Rio de Janeiro – não foi assim.

Funcionário da Rádio Continental, ele atravessava o mar todo final de noite. Com tino comercial, percebeu que podia colocar alto-falantes e fazer propaganda na barca.

Na barca de Niterói operando auto falantes. Silvio Santos instalou o equipamento e vendia anúncios.
Foto: João B. da Silva

Começou anunciando o refrigerador Clímax. Viu que dava dinheiro, saiu da rádio e começou a vender anúncios para o serviço de alto-falantes da barca. Ganhava mais do que vendendo canetas na rua.

“Foi nesse momento que o espírito de camelô morreu definitivamente dentro de mim. Nasceu, em seu lugar, um espírito muito mais forte: o de homem de negócios e dono de um empreendimento próprio”.

Publicidade
Fonte: Visão do Corre
Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações