Clenilson Pirulito faz humor na quebrada e estoura no TikTok

Grupo de amigos da Vila Dionísia e da Vila Amália, na zona norte de SP, faz da rua o estúdio de vídeos que misturam cotidiano e improviso

30 mar 2022 - 05h00
(atualizado em 31/3/2022 às 18h11)
Escapamento Fortuna é tema de um dos vídeos de Clenilson Pirulito
Escapamento Fortuna é tema de um dos vídeos de Clenilson Pirulito
Foto: Daniel Arroyo/Ponte

Era por volta das 15h da última segunda-feira (28), quando a rua Gil Vicente, na Vila Dionísia, periferia da zona norte de São Paulo, começava a ser tomada pelo improviso. Uma bolsa preta, até então em um cesto de lixo, compôs o figurino quase social de um dos personagens. Fortuna, o escapamento de uma moto Honda Biz, se tornava a peça principal de mais uma divertida história de Clenilson Pirulito, um perfil que já conquistou mais de 150 mil seguidores com vídeos de humor na rede social TikTok.

Debaixo de sol ou de chuva, o grupo formado por sete rapazes se reúne toda semana no mesmo endereço e deixa a imaginação rolar enquanto gravam cenas de situações cotidianas e inusitadas. Desde um galão de sabão líquido a uma caixa de Bis, tudo pode ser objeto de piada nas gravações dirigidas e editadas pelo montador de veículos Pablo Camilo da Silva Pordeus, de 27 anos, que desde 2010 produz conteúdo para a internet.

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O perfil lançou seu primeiro vídeo no ano passado, na época que ainda era só um passatempo do estudante Fábio Henrique Lima do Carmo, o Fabinho, de 17 anos. Com o tempo, os amigos João Vitor Bezerra Santos, 17, conhecido como Vitinho, Marcelo Campos Gonçalves, 22, Gabriel Gomes do Nascimento, 24, Vinícius Nascimento Rodrigues, 20, e o irmão de Pablo, Patrick José Camilo da Silva Pordeus, 22, que moram na mesma quebrada, se juntaram ao elenco como intérpretes.

Marcelo é o responsável pelas gravações feitas com o celular
Foto: Daniel Arroyo/Ponte

No início do ano, a primeira produção juntos foi uma sátira de uma abordagem policial e veio motivada por um desafio lançado pelo rapper paulista Krawk, que prometeu premiar com alguns tênis quem fizesse os vídeos mais criativos sobre a sua música “Nike Boy”.

“Já estou acostumado a fazer esses trocadilhos, essas piadinhas com tudo, as pessoas achavam até que eu era louco. E aí, já conhecia os moleques, e nós precisávamos ganhar [o desafio]. Como pensei em um vídeo que precisava de mais gente, chamei eles aqui [na casa do Fabinho] e o Marcelo gravou. A gente postou lá no Insta, porque o negócio ia ser lá. Mas o Fábio foi lá e postou no TikTok também e o bagulho estourou”, conta Pablo.

Desde então, já são quase dois milhões de curtidas em vídeos publicados no perfil. A ideia do nome, inclusive, partiu de uma piada interna dos rapazes em uma gravação de 2018: “Na hora do vídeo, eu falava ‘nós estamos aqui no churrasco, chama o Cleitinho, o Clenilson Pirulito’, e aí, quando eu falei isso, todo mundo rachou o bico. Todo vídeo o Clenilson Pirulito é alguém, às vezes é o Fabinho, às vezes, eu. Clenilson Pirulito é o pessoal todo do vídeo”, explica Vitinho.

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Banana, barra de ferro, alicate, tênis, caixa de papelão: tudo improvisado vira piada e sátira nas mãos do grupo
Foto: Daniel Arroyo/Ponte

Rolê aleatório

A rua sem saída é o cenário da maior parte dos vídeos, mas ao contrário do que se imagina, o lugar não é um dos mais tranquilos para gravar. À tarde, o movimento cresce à medida em que mães e pais passam, a pé e de carro, para buscar seus filhos na creche da vizinhança e presenciam as filmagens. Entre uma tomada e outra, a casa de Fabinho vira o backstage e dali descolam alguns dos objetos e das roupas usadas nas histórias, que surgem principalmente da criatividade de Pablo. 

“É que a gente tá acostumado, mas se uma pessoa de fora chegar e ver as ideias dos vídeos fica maluca. A gente tem um grupo no WhatsApp e aí ele [o Pablo] manda um áudio: ‘a gente precisa pro vídeo um ventilador de teto quebrado, um pneu de carro e uma caneta’. E aí a gente fala: ‘mano, a gente só precisa da caneta, o resto das coisas a gente já tem’”, conta Vitinho, rindo.

Sem seguir um roteiro definido, as ideias são lançadas pelo experiente Pablo e incrementadas pelos amigos que seguem uma mesma linha de pensamento. Além do enredo principal, os curtas sempre trazem uma sequência criativa e aleatória no fundo, estilo nonsense (sem coerência e sentido) e referências a memes. “Eu e o Vitinho fazemos umas piadas nada a ver, sem contexto, mas muito engraçadas, e o Pablo faz umas piadas tipo em um contexto com as coisas, as marcas, é o cara dos trocadilhos”, afirma Fabinho.

O grupo de amigos se mostra bastante entrosado e exigente sobre os vídeos que fazem e chegam a refazer as cenas por diversas vezes até ficarem satisfeitos com o resultado. “A gente é criado muito junto, eu e o Marcelo estudamos juntos, ele era da rua. A gente viu o Vitor bebê ainda, sempre foi muito unido, com o mesmo pensamento e as mesmas referências que a gente assiste”, conta Patrick.

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O irmão Pablo conta que, no início, precisou insistir para que os parceiros continuassem a gravar até que outros vídeos viralizassem e mais pessoas acompanhassem o grupo, inclusive perfis que já se destacavam na rede social chinesa. Ao mesmo tempo, a repercussão trouxe maiores responsabilidades ao grupo e da forma como os temas são abordados. Segundo eles, reproduzir uma abordagem policial, por exemplo, é mostrar também como a polícia trabalha nas periferias.

“Fazer humor hoje em dia está complicado. A gente tem que tomar mais cuidado, precisa respeitar mais, então o que fazemos é esculachar em colocar máquina de lavar na rua, por exemplo. Poderíamos falar um palavreado que a gente fala no dia a dia, mas para transferir para os vídeos a gente não usa”, comenta.

Fabinho, o Clenilson Pirulito da vez, comemora a “fortuna” que recebeu durante a gravação
Foto: Daniel Arroyo/Ponte

'Pirulitando' nas redes 

Hoje, o Clenilson Pirulito está ocupando outras redes, como o Instagram e o YouTube, e a equipe pensa em fazer diferentes conteúdos e parcerias com outros criadores. A reação dos usuários, que elogiam e se divertem nos comentários, não era esperada pelo grupo.

“É muito gratificante pensar pela imensidade que chegamos, de 150 mil seguidores. A gente quer levar vídeos menores para o Instagram, continuar fazendo para o TikTok e estamos pensando no que fazer para o YouTube. Dá para fazer uma história bem mais elaborada”, diz Fabinho. 

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Além de dirigir os vídeos, Pablo participa atuando e fazendo a edição
Foto: Daniel Arroyo/Ponte

Os rapazes contam que já tiveram que lidar com outros perfis que acabaram copiando as ideias criadas para o Clenilson, sem creditá-los: “o pessoal já entra nos comentários defendendo a gente”. Esse retorno do público é o que motiva o grupo  a seguir criando e gravando do início da tarde até a noite, mesmo levando trabalho e estudo junto.

Além das redes, o Clenilson Pirulito também pretende chegar a novos espaços e ruas da cidade. “Aqui é mais fácil e mais cômodo para a gente, mas se a gente tiver que ir para qualquer lugar, pra Amazônia, a gente desenrola”, brinca Pablo.

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