Inquieta diante das realidades enfrentadas pela população trans e travesti pernambucana, sobretudo das periferias da Região Metropolitana do Recife, a desenvolvedora Luana Maria criou, no ano passado, a Pajubá Tech, iniciativa que promove qualificação profissional e inserção da comunidade LGBTQIA+ no mercado da tecnologia.
Inconformada, Luana Maria encontrou uma forma de transformar as expectativas de uma população marcada por estatísticas desumanas e violentas. Ela é uma desenvolvedora FullStack, profissional que atua no desenvolvimento visual e funcional de sites e plataformas.
Alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, como promoção de trabalho decente e promoção da igualdade de gênero, o empreendimento social criado por Luana Maria se organiza através de redes de cooperação.
O objetivo é implementar soluções inovadoras com tecnologias sociais e digitais, impulsionando o progresso e a representatividade da comunidade trans.
“Os trabalhos desenvolvidos pela Pajubá Tech assumem os compromissos de promover espaços de inclusão e igualdade para a comunidade trans e travesti, fortalecendo a participação ativa no mercado de trabalho e contribuindo para a diversidade e o desenvolvimento tecnológico”, explica Luana.
Quem pilota a Pajubá Tech?
Desde 2017, Luana Maria, de 23 anos, atua como articuladora social, pensando formas de promover protagonismo para população LGBTQIA+ periférica. Ela é uma mulher trans, nascida e criada no Ibura, periferia na zona sul do Recife, território que carrega o estigma de violência e vulnerabilidade pelo descaso do poder público.
Sempre instigada, sobretudo quando o assunto são as diversas possibilidades de tecnologias, a desenvolvedora Java First Tech Junior e graduanda em Sistemas para a Internet, sentiu a necessidade de utilizar os conhecimentos adquiridos em sua trajetória de estudos e qualificações, como ferramenta de transformação social dentro do seu território.
“A Pajubá Tech é um empreendimento social que entende a tecnologia como tecnologia social e não apenas como tecnologia da informação”, define Luana, que compartilha as responsabilidades de gerir a Pajubá Tech com outra jovem, Ájò Nasidí, de 27 anos. Ela é psicóloga, cofundadora e coordenadora pedagógica, parceira de uma terceira integrante da iniciativa inclusiva, Gabriela Lima, de 28 anos, responsável pela coordenação administrativa.
Três frentes de trabalho trans
Uma das principais ações é a capacitação profissional, oferecendo programas de formação em TI, programação, design e marketing digital. Esses conhecimentos melhoram as perspectivas de empregabilidade.
“Também promovemos consultoria para empresas interessadas em construir ambientes de trabalho inclusivos, auxiliando na formulação de políticas e práticas de recursos humanos que garantam igualdade de oportunidades para pessoas trans e travestis, bem como na sensibilização dos funcionários sobre questões de gênero e diversidade”, detalha a fundadora.
Outra frente de formação é em advocacy e conscientização – advocacy é a defesa de causas visando implementação de políticas públicas. Por isso, a Pajubá Tech desenvolve campanhas para promover a igualdade de gênero e diversidade no setor de tecnologia. Isso é feito por meio de colaborações, eventos e atuação na mídia, destacando os desafios e conquistas da comunidade trans e travestis no campo tecnológico.
Fazendo o corre pela causa
Em novembro de 2023, a jovem fundadora da Pajubá Tech representou Pernambuco na Data Privacy Global Conference, em São Paulo. O encontro internacional promoveu debates sobre a segurança digital e novas tecnologias.
Também esteve no Rio de Janeiro, participando da WikiCriola - Projeto de aprimoramento das habilidades no uso de novas tecnologias para a construção de meios para a equidade racial e de gênero.
Luana Maria também representou a comunidade trans na 6° edição do Programa Embaixadores da Juventude em Pernambuco, uma iniciativa da Nações Unidas sobre Drogas e Crime.
“Ocupar esses espaços é importante para marcar território e dizer que a nossa população preta, LGBTQIA+ e periférica tem muita potência para estar dentro desses locais e pode ocupar cargos de liderança”, diz Luana.
Em setembro do ano passado, a Pajubá Tech promoveu na comunidade de Três Carneiros Alto, COHAB, Recife, a primeira edição do Summit Tech LGBTQIA+ Periférico. Além das apresentações artísticas e culturais, o evento trouxe para a comunidade palestras, debates e oficinas de tecnologia, inovação, futuro e diversidade.