Com o avanço da tecnologia, muitas pessoas acessam cada vez mais a internet através dos dispositivos, como smartphone, tablet, computador. Em 2019, uma pesquisa feita pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil deu uma ideia da popularidade das plataformas online entre os jovens do país.
O levantamento revelou que 89% da população de 9 a 17 anos está conectada, o que representa 24,3 milhões de crianças e adolescentes. Desses, 95% (ou 23 milhões) usam o celular como o principal dispositivo para acessar sites e aplicativos.
Outro dado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2019, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que 82,7% dos domicílios nacionais possuem acesso à internet, um aumento de 3,6 pontos percentuais em relação a 2018.
Os números acima mostram como os brasileiros estão conectados à internet, principalmente os jovens, porém muitas pessoas, especialmente de comunidades, não têm acesso à rede e também não possuem condições financeiras para comprar dispositivos de qualidade para utilizar as redes sociais.
“Observamos a falta de acesso à internet e o acesso a dispositivos mais elaborados, que tenham capacidade de processamento, então percebemos que é um caminho de exclusão em relação as comunidades”, afirma Sérgio Brito, de 38 anos, morador do bairro do Cabula, em Salvador.
Para ele, a tecnologia é de suma importância no desenvolvimento das comunidades, pois é uma necessidade básica que pode mudar a vida das pessoas.
“O acesso à tecnologia nas comunidades é necessário para a própria subsistência e socialização de forma ampla de uma pessoa. É preciso ter tecnologia em comunidade com o acesso à internet; imagina os jovens do ensino médio sem conseguir se inscrever no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) por não terem acesso à internet? Então essa tecnologia precisa chegar nas comunidades”, afirma.
Sérgio Brito, que é professor de música, fala que o atraso tecnológico atinge as comunidades, as quais são excluídas do processo da modernização e do acesso. Ainda de acordo com ele, a principal forma de mudar esse cenário não é a partir das políticas públicas e, sobretudo, de acesso aos bens de consumo.
Sérgio tem formação em música, com graduação e mestrado, além de doutorado na Universidade Federal da Bahia. Ele conta que fez doutorado em música e tecnologia.
“Meu doutorado é ligado a música e a tecnologia. Meu trabalho com tecnologia começou em sala de aula por desejo próprio em vincular a minha área de conhecimento a música com as novas ferramentas tecnológicas como uso de aplicativos, de smartphones e tablets dentro da classe. Já faço isso aproximadamente há 10 anos”.
E dentro dessa tecnologia, o professor faz uso das redes sociais fomentando atividades ligadas ao trabalho. Ele faz questão de ressaltar que a ideia da rede social não é de distanciar as pessoas umas das outras, porém de socializar.
“O importante que a rede social seja uma ferramenta de socialização. Eu, por exemplo, trago essa versão mais salutar tanto que na minha rede têm pais, mães, avós, familiares, e os próprios alunos e alunas, além de outras pessoas que não conheço, mas tenho grande carinho, mesmo os conhecendo somente no Instagram”, afirma.
Brito também destaca que as redes sociais é um importante meio de comunicação, pois muitas vezes as crianças e jovens estão usando a rede em busca de conhecimentos.
“É inegável que hoje um jovem ou criança quando vai fazer uma pesquisa eles fazem sobretudo, muitas vezes, no youtube e tik tok para depois ir no google, nos artigos e nas páginas de pesquisa. Então, a gente precisa respeitar essa posição das redes sociais frente a produção de conhecimento”, declara.
Ele, como professor, diz que o papel enquanto educador, pesquisador, é qualificar o conteúdo que tem nessas redes. “Não adianta publicar um conteúdo mais do mesmo e não qualificar essa rede social, sem conhecimento consistente. Então, por exemplo, se a gente tem uma informação consistente sobre segurança na rede, é importante que eu traga os dados, fontes para que as pessoas possam se qualificar. Cabe a gente melhorar o conteúdo da rede”, garante.
Muitas pessoas que utilizam o instagram desejam crescer mais a conta e ter uma maior visibilidade, e isso não é diferente do que pensa Sérgio Brito. Mas ele pondera que esse crescimento deve acontecer de forma responsável e com maturidade para produzir um conteúdo.
“Enquanto classe social, sou uma pessoa pobre, tenho que ter dimensão de quem eu sou na sociedade para que eu não esqueça para quem esse conteúdo deve ser direcionado e o quão político esse conteúdo pode ser e deve ser. Então, tenho que ter cuidado para não perder essa dimensão tanto da diversidade racial, política, de gênero. Além de tudo, tenho intuito de fazer que mais pessoas se inspirem e consigam também ter um uso responsável da rede social”, afirma.
Ele diz que o mercado das redes sociais é favorável e que está aberto a todas as pessoas que queiram produzir conteúdo.
“A rede social é um mercado atual e promissor que oferece divulgação de alcance maior e que toda e qualquer pessoa do mundo pode ter acesso ao conteúdo, ao produto e ao seu uso, entretanto, a gente deve usar com uma certa responsabilidade sobretudo quem trabalha com crianças e jovens”, salienta.
Contudo, o professor faz um alerta importante sobre a diferença entre a rede social e a vida real.
“Nós temos que ter essa divisão do que é a rede social e o que a vida real, ou seja, como tudo isso impacta na sua saúde mental principalmente, porque muitas vezes a gente fica sendo escravos das redes já que temos que criar e postar conteúdo a todo o momento”, destaca e complementa: “é preciso uma autorresponsabilidade, um autocuidado dentro da rede social, seja ela para o lazer, para o consumo ou para o trabalho. Isto é, é preciso ter muita responsabilidade para que a gente não adoeça dentro da rede social”, fala.
Atividades no Instagram
O professor atualmente dá aula em instituições privadas e começou a utilizar o instagram, em 2018, para mostrar um pouco do trabalho que estava fazendo no doutorado - atividades musicais e tecnológicas direcionadas para crianças no ensino fundamental.
“Meu foco foi trabalhar como a musicalização com a questão dos discursos sonoros e com os aplicativos usando celulares e tablets. A ideia era desenvolver esse letramento digital, o diálogo com música e tecnologia”, fala.
Depois dessas atividades, Sérgio, no período da pandemia, começou a oferecer orientações sobre como evitar fraudes e golpes, como em aplicativos do whatsApp e instagram, entre outros.
“Comecei a trazer curiosidade sobre o instagram, porque muitas pessoas me cobravam como é que faz isso e aquilo. Como eu já tinha ‘sacadas’ mais rápidas, dei dicas para algumas pessoas que tinham mais dificuldades de entender o uso de algumas ferramentas. Eu trazia essa informação e hoje faço isso também, por exemplo, quando vejo situação de fraude trago um alerta de segurança de como a gente pode se prevenir de um possível golpe”, explica.
E foi na pandemia que ele fez muitas lives sobre dicas de como usar a tecnologia em sala de aula, de como usar smartphone para produzir conteúdo, para fazer foto, vídeo, gravar áudio, entre outros.
“Hoje minha atividade no instagram, é um misto de dicas sobre redes sociais, uso de smartphones, tablets e também sobre utilização de vários aplicativos. Atualmente o meu feed está mais diverso, e isso também traz ele para um perfil de consultas esporádicas de quem está interessado em ver alguma coisa relacionada a tecnologia e a rede social, entre outros”, esclarece.
Para quem tem interesse em dá os primeiros passos no instagram, Sérgio Brito fala quais os caminhos para conseguir ter boa visibilidade na conta. Embora enfatize que não é especialista em marketing ou guru do Instagram, todavia através de análises conseguiu observar como algumas contas que começaram pequenas, se tornaram grandes.
“Eu posso indicar como um caminho importante: é ter um tema específico. Por exemplo, se fulano faz um vídeo de comida para Instagram, ele tem que criar um conteúdo nessa mesma linha, não fugir dela produzindo um outro tema. Ou seja, tem que fazer o que gosta, tem que ter um nicho”, explica.
Ele ainda sugere que as postagens no instagram devem ter uma certa frequência: “as postagens devem ser em média pelo menos uma vez por dia no feed. Deve-se ter uma consistência e o dono da conta aparecer no vídeo. Além disso, vem a questão de participar de lives e de fazer posts colaborativos para se conectar com outras contas”, orienta.
Sérgio Brito, que atualmente possui mais de três mil e quinhentos seguidores no instagram, diz que na rede social, qualquer uma delas, o conteúdo que for compartilhável chega em muitas pessoas e se o produto estiver associado ao conteúdo compartilhável, obviamente, o resultado vai ser satisfatório.
O professor ressalta que o instagram não é a sua principal atividade, mas usa a rede em média de três horas por dia, para mostrar um pouco da versão profissional e da vida pessoal. Além do instagram, ele tem canal no youtube e perfil no tik tok. Todas as redes com o mesmo intuito, com a mesma estruturas e formato de gravação de vídeo, com tutoriais sobre tecnologia e música.
Turbilhão Feminino
Além das redes sociais, a internet possibilita que muitas pessoas desenvolvam as suas atividades em sites e portais de notícias, no intuito de conquistar espaço acerca de determinado assunto, como é o caso do Turbilhão Feminino, que divulga conteúdos sobre futebol feminino do Brasil.
Conforme a fundadora, Fernanda Barros, 33 anos, moradora da comunidade de Brotas, bairro de Salvador, o objetivo do portal é difundir o esporte feminino do Brasil através da divulgação das tabelas e resultados dos jogos, como por exemplo: divulgar jogos da seleção brasileira e os campeonatos brasileiros A1, A2 e A3 (a partir deste ano). Além disso, o projeto também tem como propostas entrevistar atletas e profissionais das comissões técnicas, produzir matérias especiais relembrando a história do Futebol Feminino Brasileiro.
A concepção do projeto nasceu no final do ano de 2018, depois que Fernanda montou a ideia de uma série de documentários sobre o futebol feminino.
“Depois disso, criei uma conta no instagram como método de pesquisa sobre o futebol para acompanhar mais sobre o esporte e também para fazer o roteiro para o documentário. Consequentemente, as coisas foram acontecendo, como por exemplo, cobrir jogos e escrever conteúdo sobre o futebol.”, conta.
Após o instagram, Fernanda fez parcerias com um site e logo depois percebeu que faltava um espaço para falar sobre o futebol feminino, dessa forma surgiu o projeto. “Depois da ideia, um amigo começou a me ajudar no processo de criação e também pensar no nome. Em 2019 criei o Instagram, Twitter e Facebook, esclarece.
O projeto Turbilhão Feminino no Futebol existe desde 2019, mas o portal foi criado em julho de 2020, após encerramento da parceria com o site Resenha na Rede. “Antes do portal utilizávamos o espaço do Resenha na Rede, depois de completar 1 ano, decidimos nos dar de presente e presentear quem nos acompanha, a construção do site. Tudo foi muito pensado, construído e atualizado com muito cuidado e planejamento”, conta.
Para Fernanda, que é jornalista, a tecnologia quando utilizada de forma positiva ajuda aproximar as pessoas, expandir negócios, além de possibilitar que indivíduos de outras cidades e até outros países, conheçam um projeto criado em outra cidade. “Às vezes profissionais de cidades diferentes se conhecem através da internet e dali se reúnem pra fortalecer ou até mesmo criar um trabalho, como é o caso do Turbilhão Feminino”, afirma.
Fernanda Barros diz que sem a tecnologia seria difícil desenvolver as atividades do projeto. “A tecnologia não só me ajuda a desenvolver o projeto em si, mas me ajudou a conhecer e me aproximou de pessoas que me ajudam a fazer o trabalho acontecer de fato e crescer cada vez mais”, ressalta.
E a tecnologia utilizada- a internet- aproximou atletas, clubes, demais profissionais do futebol feminino ao Turbilhão.
“A internet fez com que pessoas que atuam ou fãs da modalidade tomassem conhecimento da existência desse projeto e pudessem acompanhar o mesmo. O maior volume de trabalho é pela internet: entrevistas com atletas e demais profissionais, reuniões de pauta da equipe, inclusive porque parte da equipe são de outras cidades fora da Bahia”, revela.
O Turbilhão Feminino além de usar o portal, utiliza também as redes socias como Instagram, Twitter e Youtube para desenvolver os trabalhos.
“Após a criação dos perfis nas redes sociais percebi uma demanda muito grande em divulgar e cobrir os jogos. Então usamos as páginas dessas redes para mostrar as tabelas e os resultados dos jogos no material publicado no site do Turbilhão. Além disso as redes possibilitam mais interação com atletas, profissionais que atuam no futebol feminino e fãs da modalidade”, garante.
Fernanda Barros revela que o instagram é a rede social que mais movimenta o Turbilhão, pois a conta possui quase cinco mil seguidores. Já o twitter, passa de 450, e o youtube com 255 inscritos.
O turbilhão feminino implementou neste ano, a craque da rodada para valorizar o futebol e também para gerar uma interação na rede social. Fernanda explica que através de quatro destaques de cada rodada do campeonato brasileiro feminino, tem a votação dos internautas para escolher a vencedora.
“A gente está colocando os destaques da rodada para depois abrir votação para galera votar quem das quatro é a destaque. Estamos valorizando o esporte e ainda interagindo com as pessoas. Dessa forma muitas páginas, agências e atletas marcam o turbilhão em algumas publicações. Isso tudo também é um meio de interação que acontece em nossas redes”, fala com entusiasmo.
Ela faz questão de falar que as redes sociais ajudam no dia a dia da divulgação do trabalho, mas o portal oferece mais espaço para desenvolver os conteúdos. “O portal é o seu espaço, o ambiente que você vai ter para desenvolver seu material, o espaço é maior, ajuda a trazer conteúdos mais elaborados e matérias especiais.
A fundadora enfatiza que através do portal conseguiu mais conteúdos, matérias mais elaboradas, além de criações de quadros novos. “Abrimos um leque de possibilidades, como parcerias e espaço para anunciantes”, diz.
Contudo, o portal enfrenta algumas dificuldades como fala Fernanda: “ainda não conseguimos rentabilizar o projeto, e temos poucos membros na equipe, então é difícil atender todas as demandas e uma delas é acompanhar todos os jogos entre categoria de Base e Profissional”, conta.
Além de Fernanda, fazem parte do projeto: Ayana Simões (Diretora), Fidel Costa (Diretor), Beatriz de Paula (Diretora de Imagem e Redes Sociais), Caio Henrique (Analista de Mídias Sociais) e Lucas Pires (Diretor de Imagem).
Fernanda Barros fala sobre as expectativas para o futuro: “por enquanto só posso adiantar que estamos nos concentrando em algumas mudanças que estamos trazendo para esta temporada, já começamos inclusive, com a chegada de uma nova integrante para a diretoria e parceria com um portal de notícias bem conhecido na Bahia”, finaliza.