Você já ouviu falar no Contos de Ifá, um game dos Orixás?

Plataforma de jogos digitais desenvolvida por jovens das periferias de Olinda atua no combate a intolerância religiosa

30 ago 2022 - 05h00
(atualizado em 8/11/2022 às 17h56)
Contos de Ifá.
Contos de Ifá.
Foto: Divulgação.

A iniciativa Contos de Ifá foi idealizada pela ialorixá, percussionista, comunicadora popular, ativista cultural, articuladora e realizadora do Coco de Umbigada, no bairro do Guadalupe em Olinda, Maria Elizabeth Santiago de Oliveira, popularmente conhecida por Mãe Beth de Oxum, juntamente com Ricardo Brasileiro e Ricardo Ruiz, membros do Centro Cultural Coco de Umbigada e consultores de tecnologia para ampliar as práticas de educação digital do coco de umbigada à época.

A partir de 2010, com o apoio do Edital Cultura Digital do Ministério da Cultura, que serviu como suporte para conceituar e desenvolver o primeiro game design do jogo de exu, e em setembro de 2014, aconteceu o lançamento do jogo Contos de Ifá.

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Contos de Ifá.
Foto: Acervo Pessoal.

O projeto foi pensado com o objetivo de criar espaços de conexão através de laboratórios de inovação em escolas, terreiros e centros culturais, “A fim de reconstruir os modos de viver sob o ponto de vista da matriz afro-brasileira e combater o extermínio da juventude negra através de metodologias ágeis de desenvolvimento de jogos sobre o panteão africano”, é o que explica, Cristiano Lopes, ex-aluno e hoje professor de programação do curso.

A metodologia do Contos de Ifá, que utiliza a tecnologia para promover saberes ancestrais a partir de games roteirizados com a mitologia afro-brasileira, já foi replicada em diversas versões e em diferentes espaços de conhecimento através de vivências, workshops, laboratórios de média e longa duração, formação para o mercado de trabalho de jogos digitais, palestras e show cases.

Atualmente o projeto é gerido por Mãe Beth de Oxum e tem a coordenação de Daniel Luis e Priscila Albuquerque. As aulas acontecem no Centro Cultural Coco de Umbigada, no departamento de Tecnologia chamado de LABCOCO, desde 2015, já aconteceram seis formações e o projeto já alcançou cerca de 600 pessoas de forma direta e mais de 20 mil pessoas indiretamente, através das redes sociais, rádios e outras mídias. Durante a pandemia as aulas aconteceram em formato on-line, com uma iniciativa de formação exclusiva para mulheres.

Divulgação curso.
Foto: Divulgação.

A ex-aluna e atualmente coordenadora administrativa, Priscila Albuquerque, destaca a importância dessa iniciativa na geração de oportunidades para jovens mulheres, sobretudo mulheres negras e periféricas, “Através dos cursos de formação do LabCoco Contos de Ifá, promovemos a integração dessas jovens com o universo das novas tecnologias, alinhado com as novas áreas do mercado de trabalho. Transformando em potencial o conhecimento dos jovens envolvidos em diversas áreas do conhecimento, como roteiro, game design, design gráfico, sound design e programação. Entendendo o desenvolvimento de um game com sentimento de pertencimento e apropriação das novas tecnologias”, finaliza.

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Equipe Contos de Ifá.
Foto: Acervo Pessoal.

Apesar da construção de parcerias, da importância global, do profundo significado e da transformação social efetiva que o Contos de Ifá promove, o projeto ainda sofre com dificuldades, desde o preconceito e intolerância por parte de alguns pais que desconhecem a história e vivências da cultura afro. A falta de recursos que possibilite a manutenção e expansão da infraestrutura, equipamentos do laboratório e incentivos financeiros como bolsas para os alunos participantes. “Uma das dificuldades enfrentadas pelo projeto é a evasão e ela acontece por diversos motivos, inclusive, pelo fato de muitos alunos estarem 'subempregados' o que dificulta no acompanhamento das aulas.” observa Cristiano.

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